33. A mensagem

90 15 55
                                    

 - O que?

Tanto Sara como Hugo olham para Ruth de modo questionador, enquanto o entusiasmo e alívio se tornam mais claros na expressão dela.

 - Quando eu estava passando pela Comunicação eu ouvi uma mensagem. Era de uma nave da NewSpace... A explosão chamou a atenção deles e eles nos identificaram. Estão vindo para cá.

Sara franze as sobrancelhas:

 - Como essa mensagem chegou até aqui? - pergunta para Hugo.

 - Eu consegui que nossa comunicação funcionasse num campo de curta distância... Por isso conseguimos contatar a M07, porque ela estava perto. Isso significa que essa nave da qual recebemos a mensagem também está perto.

Ele faz uma careta de dor, movendo a perna de lugar. Ruth olha para o pano vermelho de sangue, preocupada. 

 - Deixa eu dar uma olhada. - pede, se aproximando dele e se abaixando próximo à sua perna. Sara se afasta, andando pelo dormitório.

 - Eu não sei o quanto isso é bom ou não. - diz. - O que vamos fazer quando eles chegarem aqui? Será que sabem sobre as cobaias? Será mesmo uma nave da NewSpace ou o SINTESE está envolvido?

 - Acho que... Vamos ter que pagar para ver. - responde Hugo. Ele percebe o olhar de Ruth quando ela tem acesso completo ao ferimento em sua perna. A bala ainda está lá e a perna sangra bastante. Devagar, ela volta a circundar o pano.

 - Vamos ter que resolver isso aqui. - diz. - Eu vou atrás do que precisamos.

 - Não. - Hugo segura seu pulso. - Tomas atirou em mim, ele sabe que vamos precisar de equipamentos da Enfermaria. Ele vai estar esperando você.

Ruth olha para Sara, como quem pede que ela diga algo.

 - Fala para ela ficar, Capitã. - pede o soldado.

 - Se ela não for, eu vou, Hugo. Isso não é discutível.

Ele abaixa a cabeça. As duas mulheres se ajudam para colocá-lo sobre a cama, de modo que sua perna fique parada e ele confortável. Sara puxa Ruth para um canto, mas sabe que mesmo falando baixo Hugo pode ouvi-las.

 - Eu vou ser rápida. - diz Ruth, olhando para Hugo atrás delas. - Eu não posso demorar.

 - Tome cuidado. - Sara sussurra, olhando nos olhos dela. - Perder mais alguém também não é uma opção.

E então Ruth vai, entrando pela ventilação. Sara vai até a beliche na qual Hugo foi deitado e se joga no colchão superior, observando o teto. Tamborila os dedos sobre o próprio corpo enquanto a mente vaga. Passam-se vários minutos, que parecem durar mais do que provavelmente duraram. Ela se mexe na cama, de um lado para o outro. E então, como se aquilo lhe passasse pela cabeça de repente:

 - Você gosta dele, não é?

O silêncio a responde. Ela sabe que Hugo está acordado porque sua respiração pesada parou por um momento depois que ela perguntou. Sara estende a mão para o alto, observando os próprios dedos.

 - Você ficou meio distante depois que... Depois que eu o prendi. Mesmo assim eu só fui perceber pelo jeito que você defendeu ele quando a luz caiu... - Silêncio. Ela engole em seco. - Pena que percebi muito tarde.

 - Não é uma pena. Você fez o que deveria ter feito.

Ela pisca, surpresa com o modo firme com o qual Hugo responde. Se inclina na cama, colocando a cabeça para fora do colchão, a fim de vê-lo. Os olhos dele encontram os seus.

 - Você não tentou me parar, em nenhum momento.

 - Não era o meu papel.

 - E qual é o seu papel nesse caso?

Os olhos dele se entristecem um pouco quando ele os baixa para o seu machucado, mas logo ele solta um sorriso de encorajamento.

 - Meu papel é ser a primeira pessoa que ele vai ver ao acordar. - diz.

Sara não pode deixar de sorrir também, enquanto coloca a cabeça novamente sobre o colchão. Lembra dos sorrisos de Sol que a encontravam em meio às salas com a tripulação, ou até mesmo o elogio que havia recebido. Seu coração se aquece um pouco.

Mais um tempo se passa e logo Sara não consegue ficar na cama. Se levanta e percebe que Hugo dorme: ela espera que não seja por estar fraco por conta do sangramento. Quando ela começa a se preocupar, Ruth surge na ventilação e segue-se um processo dolorido e complicado de extração da bala e curativo. Ruth o faz por saber o básico, nada como o cuidado ou precisão de uma enfermeira como Onyx. Além de tudo, não há anestesia: Hugo sente cada movimento dela.

Estão terminando quando a voz de Tomas ecoa por toda nave, como Sol havia feito ao anunciar o campo de asteroides.

"Eu sei onde vocês estão", diz ele.


AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora