12. Em segredo

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Léo observa o reator à sua frente. Ele usa uma roupa especial, por conta da possibilidade de radiação. Uma placa não tão pequena no reator indica que ele funciona à base de energia escura, uma fonte que muito recentemente a humanidade havia aprendido a utilizar. As viagens interplanetárias agradeciam por isso.

Léo olha para um painel, que indica que tudo funciona normalmente e se dirige para a saída da sala. Ele fecha a porta atrás de si e olha para o corredor branco à sua frente. O reator fica nos fundos da nave, e há um extenso corredor entre a porta que leva à ele e o reator em si, por causa da possibilidade de vazamento. Qualquer gás, qualquer cano de água estourado, qualquer coisa que saísse daquela sala deveria ser considerada radioativa. Por isso Léo anda por todo o corredor, passa por uma desintoxicação na sala ao final dele, tira sua roupa de proteção e finalmente abre as portas de acesso à nave. E dá de cara com Hugo.

Encostado à parede, Hugo levanta os olhos para ele e sorri. Léo olha em volta enquanto a porta se fecha.

- O que está fazendo aqui? - pergunta.

- Você me convidou para ver as salas das máquinas. - diz Hugo. - Mas você não estava em nenhuma, então imaginei que ia estar aí dentro.

Léo dá um sorriso leve. Ele e Hugo começam a andar na direção da sala de máquinas superior.

- Como está o seu dia?

Léo olha para ele:

- Longo?

Ele está cansado. Em um dia acontecera coisas demais. E literalmente eles haviam acabado de acordar de um sono profundo. Era como se A Bela Adormecida acordasse e encontrasse seus pais mortos na torre, e ela tivesse que subir no telhado para mandar uma mensagem ao Príncipe. O que era no mínimo bizarro.

Entram na sala de máquinas. Ela é grande, barulhenta, mas de alguma forma ambos estão confortáveis. Léo vai até um armário e tira uma garrafa, jogando-a para Hugo. Enquanto Hugo prova o líquido, Léo tira pacotes de salgadinhos também.

- Isso é proibido. - diz Hugo.

- Você vai contar pra mamãe? - pergunta Léo.

Eles se sentam no chão, encostados à parede. Dividem a garrafa e os salgadinhos.

- Ela colocou uma advertência na minha ficha por causa da piada que fiz quando estava lá fora. Ainda não acredito nisso.

- Ela está mostrando quem é que manda.

- Ela não devia mandar em nós, devia nos liderar.

Léo percebe que Hugo não concorda pelo olhar que recebe. Pega a garrafa da mão dele e dá um gole, para não falar mais nada. Hugo olha para as engrenagens.

- Então acho que você vai ficar... Irritado em saber que ela nocauteou o Wilson e o levou para a enfermaria...

Léo quase cospe o que bebia.

- O que?? Por que?

- Ele estava tentando invadir o laboratório, enquanto ela conversava com o cientista. Também agrediu a Laura.

Léo balança a garrafa nas mãos.

- Então todo mundo quer saber o que o Lucas sabe... - sussurra.

Hugo o observa. Quando pergunta, sua voz sai em tom confidente:

- Você sabe alguma coisa?

Léo olha para ele. Estão próximos.

- Não.

Estende a garrafa para Hugo. O militar a pega e vira na boca.

- Tudo o que eu sei é que estou cansado demais pra reclamar da nossa capitã. - ele deixa a cabeça cair, descansando sobre o ombro de Hugo, que engole em seco, e vira um pouco o rosto em sua direção. Hugo ispira, sentindo o cheiro dos cabelos de Léo.

- Nunca pensou que o espaço daria tanto trabalho, não é? - pergunta.

Há alguns segundos de silêncio. Léo se mexe, apoiando-se melhor.

- Eu amo o espaço. Sempre foi meu sonho vir pra cá. Eu amo como é silencioso e... reconfortante. Viajaria o caminho todo pendurado para fora se pudesse.

Hugo ri. Ele inclina a cabeça sobre a de Léo e fecha os olhos. Ficam parados, ouvindo as máquinas trabalhando. As engrenagens parecem ter um compasso imaginário, que todas seguem.

Hugo sente a mão de Léo na sua, erguendo-a. Léo beija as pontas dos seus dedos. Hugo abre os olhos e Léo se afasta um pouco, para encará-lo, ainda segurando sua mão. Ele é lindo. Hugo o segura pela nuca, puxando-o para um beijo.

Seus lábios se tocam, e por um momento... O Espaço.

Hugo segura o rosto de Léo, que se aproxima mais, o abraçando. E então...

"Mecânica", é a voz de Sara.

Ambos param e logo começam a rir silenciosamente, rostos encostados.

"Preciso de você no dormitório da capitã. Agora".

- Ela não gosta de mim. - diz Léo, baixinho.

Ele se afasta e se levanta. Troca um olhar com Hugo, que vê no rosto dele a ardência e um sorriso bobo. Léo vai, e Hugo o observa ir. Abaixa os olhos, pensando.

AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora