28. Tensão

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Hugo caminha pelos corredores, seguindo na direção do Depósito. Assim que entra, sua lanterna ilumina as caixas desarrumadas, caídas uma sobre as outras. O erro da gravidade havia desarrumado todo o local. No chão, componentes da enfermaria, remédios, agulhas, de alguma caixa que se abrira. Aqui e ali há potes, provavelmente de alimentação.

A cabeça de Hugo está a mil pensamentos por segundo. Ele pensa em Wilson e toda sua teoria de que o Exército sabia de algo, e como aquilo o colocara como um inocente procurando um culpado, quando na verdade poderia ser o culpado acobertando sua culpa. Mas não havia provas, não havia indícios daquilo. E por outro lado, se Wilson estivesse certo, se alguém do Exército era o real culpado por trás disso... Laura estava nos Escudos, ela dissera. Não era certeza. Sara estava na Administração, ela dissera. Mas também não era certeza.

Nada era certeza.

Hugo ouve passos. Rápido, ele se joga no chão, abaixando-se atrás de uma caixa e apagando a lanterna. Devagar, coloca o pé de cabra no chão, levando a mão até a arma. Os passos se aproximam, entrando no Depósito, mas não há luz de lanterna. Quem quer que seja está sendo cuidadoso, tentando ouvir antes de avançar, assim como Hugo o fizera.

Algum tempo de completo silêncio e então uma lanterna acende atrás das caixas, jogando suas sombras nas paredes. A pessoa avança devagar, e Hugo tampa a boca com uma das mãos na tentativa de tampar a respiração. O passo vai se aproximando e Hugo, lentamente, vai se afastando, usando as caixas como escudo. A pessoa está indo na direção da porta pela qual Hugo passara, e ele dá a volta na caixa para não ser visto.

Às costas, ele aponta a arma para a pessoa, e tendo completa visão, consegue distinguir quem é: Wilson. Hugo está com o dedo no gatilho. Segura a respiração. Wilson está sem defesa, na sua mira. Expira.

Wilson se vira, jogando a luz da lanterna para as caixas atrás de si. Não há nada além das sombras se erguendo nas paredes. Ele se volta para a porta e se afasta do Depósito, enquanto, atrás das caixas, Hugo segura a arma com as duas mãos enquanto abaixa a cabeça.

Na escurecida Enfermaria, Ruth abre os olhos. O ambiente está escuro. Ela tateia o lugar onde está, percebendo que é uma maca. Se senta, devagar, ofegando quando a a dor pulsa em sua cabeça. Lentamente se estica, pousando os pés no chão.

Suas mãos procuram sua arma: está ali. Ela estica os braços, procurando algo ao redor e encontra uma mesinha. Passa a mão por ela, encontrando o seu crachá, e então a tontura envolve os seus sentidos. Ela se apoia completamente no móvel, que cai e ela escorrega para o chão com ele. Ela estica as mãos até a orelha, mas não encontra o comunicador.

 - Merda...

Então avança pela Enfermaria, procurando algo no que se apoiar, até encontrar uma parede. Se levanta e segue na direção das portas, as mãos encontrando o aço frio. Passa o crachá no painel, mas não acontece nada.

 - Oi?! - grita, batendo na porta. - Capitã?? Laura??

Não há resposta. O que havia acontecido? Ela se lembra de estar na Navegação com Sara e Wilson quando algo batera na nave. Ela fora jogada para trás e não havia mais nada em sua memória. Tinha desmaiado? Por que a nave estava escurecida? Por que estava presa?

 - Alguém?!! - grita, novamente, batendo nas portas. - ME DEIXA SAIR! ME DEIXA SAIR!

Mas não há resposta. Ela escorrega para o chão, e então algo lhe passa pela cabeça.

Mais uma vez, Hugo coloca o pé de cabra entre uma porta e outra e força, na tentativa de abri-las. A lanterna estava apagada, ele não queria que a luz dissesse exatamente onde ele estava. Não mais do que o barulho que estava fazendo.

 - Laura? - ele pergunta, numa pausa ofegante. - Laura, você está aí? 

Não há resposta. Novamente ele empurra o pé de cabra e então, com um ruído seco, as portas se separam. Um pequeno feixe de luz sai delas.

 - Laura! - exclama Hugo, empurrando uma das portas, o suficiente para passar o corpo, mesmo com dificuldade.

Ele entra, parcialmente iluminado pela lanterna. Suas botas fazem um ruído estranho no chão, como se pisasse em algo molhado. Ele olha para baixo e vê a poça de sangue que se espalha até a lanterna. Seus olhos seguem para o lado e vê o rosto quase indistinto de Laura, com tanto sangue e ferimentos que seria quase impossível saber se era ela mesmo.

 - Laura... - sussurra Hugo, cambaleando para trás. Ele se abaixa no chão, colocando a cabeça entre as mãos, que tremem. Todo o seu corpo treme. Levanta o rosto e toca o comunicador, a voz ofegante. - Laura está morta. Alguém matou a Laura.

Silêncio. Ninguém o responde. Hugo encosta a cabeça na parede e dá um sorriso leve. Ele encontrara a Elétrica sabotada. Ele encontrara o cadáver de Laura. O que os outros estariam pensando?

Devagar, tira o comunicador da orelha. Tudo está silencioso, e tenebrosamente reconfortante.

 - Que belo sonho, Léo.

AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora