7. Na escuridão parte 1

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A Capitã Sara caminha pelo corredor, com Ruth atrás de si. A soldado a observa, cada passo, cada atitude, e Sara sabe disso. Seu andar é firme, ela sabe exatamente para onde está indo, mas sua mente vaga para a conversa com o mecânico.

Léo havia dito que ele não tinha razão para ao menos ser pensado como assassino. "Razão?", dissera Sara. "Não sei se a razão é tão necessária quando se tem evidências". "É por isso que não explicou a razão pela qual estaria no quarto da Capitã, no horário em que ambas estariam dormindo?".

A pergunta havia saído da mesma forma que as afirmações. Direta. E ele nem piscou ao falar. "Eu sei o que está fazendo, Tenente... Está cumprindo o regulamento. Mas quando você aponta o dedo para um espelho, ele aponta de volta". E ela sabia que, mais uma vez, ele estava certo. Só que não era ele o espelho. Era o navegador, Wilson.

Sara para diante das portas da Geladeira. Enquanto elas se abrem, ela olha para Ruth:

- Espere aqui.

Sara entra, no lugar onde havia acordado várias horas atrás. As portas se fecham atrás dela. Todos os leitos estão abertos, vazios; são cascas sem conteúdo. Exceto o da capitã. Sara se abaixa ao seu lado, observando pelo vidro o rosto calmo de Sol. Ela morrera dormindo...

Pela primeira vez Sara baixa os ombros, suspira, e seus lábios tremem um pouco quando respira. Pousa a mão sobre o leito, agora caixão.

- Por que você fez isso, Sol? - sussurra baixinho. Mas não houve resposta. Só o silêncio de um lugar que parecia um mausoléu. E então as luzes se apagaram.

A M09-2140 apagou completamente, unindo-se à escuridão do espaço. Sara pega o painel pessoal, enquanto fala pelo comunicador.

- Mecânica? - chama.

"Problemas na energia. Já estou a caminho", é a resposta dele.


Em meio à escuridão, uma lanterna se acende. Léo aponta o foco de luz para a sala de máquinas onde está. O foco vaga pelos motores, canos fumacentos e ferramentas. Ele caminha para uma pequena maleta de aço e a pega, depois pegando um pé-de-cabra. Munido dos dois, sai da sala.

Nem mesmo as luzes de emergência estão funcionando, o que significa que o problema é um pouco mais complicado. Enquanto ele anda, lhe parece que a nave tem seus próprios ruídos, que não são ouvidos diariamente por conta das máquinas ligadas. Parece que a estrutura estala no espaço, e que algo se arrasta pelas ventilações. E ainda existem os sons dos asteroides se chocando com os escudos. Mas logo esses ruídos param também, e é como se existissem apenas em sua cabeça.

Ele imagina ouvir passos e se volta para trás. Não há nada. Continua seguindo em frente, e a luz de sua lanterna se encontra com a de Hugo, que estava vindo nessa direção.

- Léo!

- Hugo..? - Léo franze as sobrancelhas. - O que está fazendo aqui?

- Eu sou o militar substituto seu - começa Hugo. - Então eu estava indo ver o que aconteceu.

- A elétrica fica para o outro lado.

Hugo olha ao redor, iluminando as paredes frias do corredor. Seus olhos estão confusos.

- Eu... Acho que me perdi.

Léo sorri. Passa por ele, e juntos seguem na direção da elétrica. O ambiente não parece tão estranho, agora que há companhia.

- Eu sou um tonto. - diz Hugo.

Léo estica o pescoço, tentando ver à frente da luz, sem sucesso.

- Você é... - Hugo olha para ele. - Um fofo.

Eles param em frente à elétrica. A porta está fechada. Léo estala os dedos, maleta no chão, e pega o pé-de-cabra.

- Aproveitando que você está aqui, talvez eu precise de ajuda.

Hugo assente. Léo encaixa a ferramenta entre uma porta e outra e força, tentando afastar os dois pedaços de metal. Hugo é forte, o que ajuda na missão. As portas se abrem não muito tempo depois. Hugo ilumina o interior da sala. Vazia. Há apenas vários e vários painéis, brilhando sob a luz da lanterna. A nave balança.

- O bom de ser uma queda total - diz Léo, enquanto eles entram. - É que fica fácil saber onde está o erro.

- E o ruim?

- O ruim é que pode ser mais complicado do que um probleminha comum.

Ele anda pela sala, desviando de painéis, indo para o fundo. Hugo o acompanha.

"Gostaria que você não demorasse, mecânico", diz Wilson, pelo comunicador. "Uma pedra grande pode juntar todos nós com a capitã".

Hugo e Léo se encaram.

[RECADO DO AUTOR: Me colocando no lugar de Sara, consigo imaginar como deve ser o peso de ter que demonstrar força e controle num momento tão complicado. E Léo e Hugo finalmente tendo um momentinho juntos! Mas pensando bem, Hugo se perdeu???]

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