「 prólogo 」

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Eu poderia começar dizendo que nunca pensei em como iria morrer

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Eu poderia começar dizendo que nunca pensei em como iria morrer. Seria uma forma nobre de contar a história, uma alma altruísta provavelmente seria mais fácil de acompanhar.

Mas a verdade é que penso na morte quase que diariamente, até a anseio, em alguns dias.

Dei uma última olhada em meu quarto vazio, as caixas já estavam no caminhão, e o vazio em meu peito me fez fechar os olhos, e respirar fundo.

Tenho feito muito isso nos últimos meses.

Meu pai tinha feito o possível para me trazer de volta para os trilhos, mas o que fazer quando o trem está destruído? Os trilhos estão enferrujados, e o trem anda muito devagar, completamente fora da linha que deveria, o trem está perdido.
Caso não tenha entendido a analogia: eu sou o trem. Eu estou quebrada, e perdida.

Descendo as escadas da nossa – agora ex – casa, me concentro apenas em respirar. Tem sido uma tarefa que me exige muito esforço, e gosto de pensar que não decepciono em manter meu pulmão funcionando.

Uma inútil tentativa de me consolar.
Meu pai já me esperava no táxi; nossos carros e móveis já estavam provavelmente chegando a nova casa, em Forks, Washington. Para alguém de fora, realmente não fazia muito sentido sair de Manchester, Inglaterra, para uma cidade minúscula nos Estados Unidos. Mas, devido as circunstâncias, fazer sentido era o menor de nossos problemas.

Dentro do táxi, me mantive em silêncio, me concentrava em olhar pela última vez as ruas que tanto conhecia, enquanto meu pai focava-se em conversar com o motorista, evitando que o mesmo dirigisse a palavra a mim.

Falar era um esforço delimitado apenas a meu pai.

Não posso dizer que lembro da viagem de avião, ultimamente tenho me recordado de poucas coisas. Era uma viajem longa, e estava frio, é apenas isso que me lembro.

Não me atentei de aonde estávamos, meu pai havia dito que seria muito fácil reconhecer Forks ao entrarmos nela. Realmente, com uma placa enorme dizendo "A cidade de Forks lhe dá as boas vindas", era fácil perceber que havíamos chegado.

Meu pai dirigia em silêncio, finalmente com seu carro em mãos, enquanto eu me atentava a olhar as árvores e respirar.

– É... Isla? – Meu pai disse, cautelosamente, olhei para seu rosto, me esforçando para passar uma imagem tranquila – Eu sei que é difícil, querida, mas, eu mudei toda a empresa para não precisar ficar em Manchester, nós combinamos que eu tentaria ficar mais em casa... Então, eu posso te pedir um favor?

Respirei devagar, abrindo a boca pela primeira vez desde que saímos de Manchester.

– Claro. – Minha voz era baixa, igual aos últimos meses, mas ainda assim, eu sentia os olhos preocupados do meu pai a cada palavra que saía de mim.

– Você pode... Tentar? – Eu o olhei, ainda sem expressão, sabendo que ele não tinha terminado – Eu sei, é difícil, mas é uma cidade nova, com pessoas novas, que tal tentar com essa nova chance? – Ele perguntou, esperançoso.

Suspirei, eu prometi a ela que tentaria.

– Vou tentar, pai. – Ele me olhou surpreso, e um esboço de sorriso passou por seu rosto.

– É só isso que peço, Isla.

Olhando pela janela do carro, percebi como Forks era nublada, e cheia de árvores, ela parecia uma pequena floresta salpicada de casas e pessoas. Olhei de relance para meu pai, sentindo-me culpada.

Depois de tudo o que aconteceu, meu pai segurou os trilhos sozinho: a empresa, a casa, e eu. Depois de meses, ele percebeu que eu estava quebrada demais para continuar em Manchester, ele mesmo se sentia desolado de continuar em nossa casa lá.

Então, após pesquisas e um pouco de organização, aqui estávamos: Forks, Washington, Estados Unidos. Que lugar melhor para recomeçar se não em uma cidade que parecia chover durante o ano todo? Talvez, uma cidade de aparência triste fosse exatamente o que eu precisava para respirar de novo.

Olhei para a estrada e suspirei, eu prometi que tentaria.

– ... Pai? – disse, insegura. Ele me olhou rapidamente, ansioso para ouvir o que quer que eu tivesse a dizer.

– Obrigada por... Sabe, me deixar recomeçar, e estar comigo.

Por um momento, vi um indício de lágrimas passar por seus olhos. Percebi, então, que essa era provavelmente a frase mais longa que eu disse em meses.

– Não precisa me agradecer, querida, vamos recomeçar juntos, – Ele deu um meio sorriso, colocando sua mão no meu ombro – e eu sempre vou estar aqui com você.

Assenti enquanto ele estacionava no que deveria ser nossa nova casa.

Não há muito o que dizer de casas, certo? Havia uma sala, alguns quartos, dois banheiros... Era grande e bonita, fim. Estava difícil se atentar aos detalhes com meus olhos vagos e perdidos.

Subi os degraus da escada enquanto ouvia meu pai falar algo como “... Segunda porta a direita... Banheiro... Duas portas”, minha cabeça não captou de imediato todas as informações, apenas segui abrindo cuidadosamente as portas que apareciam a frente, até achar meu quarto.

Duas portas depois, corredor da direita, do lado esquerdo, e lá estava.

Tentei prestar mais atenção aos detalhes: uma cama bem grande, uma janela de vidro do chão ao teto, com cortinas de renda delicadas, uma porta logo ao lado para a sacada. Notei também a escrivaninha branca e o guarda roupa, esperando para ser preenchido com todas as minhas roupas caras e sapatos chiques. Era irônico lembrar como de Balenciaga e Versace, eu fui a moletons cinza sem marca.

Respirei fundo, enquanto descia para pegar as malas que o caminhão havia trago.

Eu prometi a ela que iria tentar.

• capítulos às quartas e sábados, 00:00

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Isla - 𝒋. 𝒉𝒂𝒍𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora