It's MY dream! • Catradora

4 - Coincidências (des)agradáveis

Adora vivia preocupada. Isso era algo que a perseguia desde que era apenas uma criança, enquanto pensava nas melhores formas de guardar seus brinquedos para que não estragassem. Se repetiu durante sua adolescência incontáveis vezes, sempre tomava conta de tudo em sua primeira casa para que sua avó já de idade não sofresse nenhuma queda ou simplesmente vivesse no meio bagunça, já que ela não era nem um pouco organizada. Naquela época, notou que seus cuidados não eram suficientes quando se tratava da idosa, ela sempre dava um jeito de se colocar em perigo e Adora começou a cogitar a ideia de se mudarem para uma casa mais "adaptada", de preferência que não tivesse janelas grandes e desprotegidas, uma escadaria gigante para alcançar a porta da frente ou uma lavanderia na laje, sem muros e de cara para um barranco que ficava na rua de trás. Sua preocupação era grande e ficava com medo toda vez que precisava deixar a idosa sozinha em casa para ir para a escola, algum tempo depois, sua preocupação se tornou outra: administrar o dinheiro recém-recebido de advogados internacionais, a herança deixada por seus pais, que ela mesma não sabia que tinha direito.

Além disso, outras preocupações se faziam presentes na época, como as que toda adolescente tinha, óbvio: pensar em seus estudos, planejar como resolveria os problemas de desigualdade do mundo, cuidar de sua vida social, cuidar de sua Catra, pensar em seu futuro e em seus sonhos, entre outras...

Sua preocupação com os brinquedos havia sido deixada pra trás; com a sua avó havia se reduzido quando conseguiram comprar outra casa com o dinheiro que receberam; o de administrar o dinheiro também deixava de ser um problema, pois o mesmo agora estava guardado para pagar as despesas de sua avó, da casa e das suas mensalidades de Bright Moon; seus estudos iam bem; os problemas do mundo só seriam resolvidos pouco a pouco, infelizmente; sua vida social não poderia ser melhor; Catra não era mais sua amiga, então não era mais seu dever se preocupar com ela, certo?; seu futuro e seus sonhos, entretanto, ainda eram sua preocupação.

Naquele dia, mais que nunca...

Era terça-feira, afinal. Pelos nomes que vez ou outra em sua sala eram chamados para irem até a sala do conselheiro, havia constatado que Srta Light Hope já tinha começado a avaliação e estava se encontrando com cada um para conhecê-los melhor. Os minutos nunca haviam demorado tanto para passar, ela só queria ser chamada logo para acabar com isso. Apesar da preocupação, estava esperançosa também, pois no dia anterior havia passado o seu dia com Bow e Glimmer, se inscrevendo na maior quantidade de atividades extracurriculares que sua grade permitiu, ou seja, quatro. Para se fazer de uma vez só e no último semestre antes de formar, era muita coisa com certeza, e isso impressionaria a avaliadora: Adora estava tão mais na frente do que Catra. Pelo menos era o que ela pensava.

Embora ela nunca fosse admitir, a aposta que havia proposto para a morena no dia anterior havia a deixado ainda mais entusiasmada com a ideia de competir pela bolsa. Nos últimos meses, seu contato com Catra havia diminuído consideravelmente, mesmo com ambas insistindo em se aproximar para discutir ou não perdendo nenhuma oportunidade de provocar uma a outra. Talvez tivesse sido as matérias que tinham escolhido cursar primeiro que promoveu o desencontro das duas, ou o fato de Adora ter passado todos os seus intervalos e tempos livres trabalhando no projeto da área verde. Não importava o motivo, as duas tinham ficado mais afastadas, e isso, meio que, só um pouco, beeem pouco, frustrou Adora.

Elas praticamente cresceram juntas e tinha sido difícil o suficiente passar um ano quase sem vê-la no primeiro ano do ensino médio por terem ficado em escolas separadas, tanto que quando a amiga se mudou para o mesmo colégio que ela, mesmo a morena tratando-a super mal e dizendo odiá-la, ela se sentiu bem por tê-la por perto novamente. E era isso que a aquela aposta talvez representasse naquele momento. Isso, e claro, o gostinho que Adora teria em provar que era capaz de conquistar as coisas por mérito próprio.