Capítulo 46

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BÉLGICA

Abro os olhos ainda sentindo que não dormi o suficiente depois de ouvir as batidas desesperadas na porta.

Bel? Querida você está ai?

Levanto-me tonta ainda e caminho em direção a porta, abrindo-a.

— Por Deus! Ainda bem que você abriu. — o rosto carregado de preocupação da senhora Tina ainda embaçado é o que vejo.

— Senhora Tina, me desculpe. Eu não ouvi mais cedo as batidas. — minha voz sai bem mais cansada do que eu pude evitar. — Algum problema?

— Ah minha querida, apenas me preocupei. Desculpe você esta pagando pelo quarto e toda hospedagem na minha pousada, não deveria ser da minha conta, mas, você está a três dias trancados no quarto escuro entre a uma semana desde que chegou e quase não come nada que eu preparo. Você esta bem?

A onda de tristeza que ainda me certa bate com mais agressividade dessa vez. Já são três dias trancada e uma semana desde então. Eu gostaria que fosse bem mais é que essa dor fosse embora, carregando toda saudade que sinto.

— Estou bem, senhora Tina. Estou bem eu só... — encaro os cantos do espaçoso quarto em tons pastel, cama grande, sofás e almofadas, cortina e uma janela de vidro dupla com vista para o lago grande. Tudo limpo e cheio, mas vazio de certa forma. — Eu só adormeci de algum modo.

Seus olhos cheios de melancolia ainda permanecem em mim.

— Tudo bem querida. — ela toca meu ombro. — Mais pelo menos tome um banho e venha se sentar comigo ao ar livre por um tempo. Pode ser?

Seu convite me faz querer recusar, alias todo tipo de convite me faz querer recusar, mas eu sei que preciso de me levantar de alguma forma.

— Me de então alguns minutos.

— Espero você na varanda traseira.

Assim que ela sai eu fecho a porta.

Vou para o banho e trato de me acabar na agua, deixando que ela leve embora um pouco do peso que carrego.

Saio do banho e me visto confortavelmente sem me dar ao trabalho de maquiagem ou coisa assim, apenas uma calca leve e camiseta.

A pousada é um lugar encantador, no meio da natureza com direito a trilha e lindo lagos e cachoeiras de tirar o folego. A grande casa toda amadeirada e vermelha. Móveis do século 19 em bom estado e lustres de prata perfeitamente limpos. Por cada cômodo que passo posso ver tapetes bordados a mão. Tudo muito lindo.

Dirijo-me para a varanda traseira, um lugar de frente ao lago com belos patos se banhando e muito verde. O piso é claro e escorregadio, contem uma mesa grande de cada lado do lugar, um banco de balanço aconchegante e cadeiras brancas com mesinhas de tabua.

— Aqui querida. — Tina acena de uma das cadeiras. Aproximo-me para ver a mesinha com uma chaleira vaporando seu ar quente pelo chá de camomila. — Sente-se querida, tome um chá comigo.

Sento-me enquanto ela serve o chá.

— Obrigada Tina. — seguro a caneca com as duas mãos e ate mesmo ver o líquido esfumaçando faz meu estomago revirar. Dou uma leve bebericada e desce rasgando, queimando tudo que encontra pela frente.

— Sei que o clima não pede chá, mas dizem que essa bebida é capaz de curar qualquer mau. — ela olha para frente. — Se ela não for então essa vista deve ajudar.

Olho também a bela vista e de certa forma me causa um alivio imenso. A natureza tem sua forma de nos surpreender com sua vista, não posso negar.

— É mesmo muito linda.

— Sabe que quando meu falecido marido me disse que queria comprar esse lugar eu fui contra?

Fixo meus olhos nela.

— Mesmo? Por quê?

Não posso acreditar que alguém não ame esse lugar a primeira vista.

— Ah, não era assim quando cheguei. — começa ela. — Era uma casa pequena, com um lago seco. Tudo aqui caia aos pedaços, era apenas uma cabana velha. Ele sempre foi teimoso e eu sabia que ele não ia desistir quando disse que transformaria esse lugar no lugar dos sonhos. Como eu o amava muito, apenas o segui no caminho longo. Foi muito e muito tempo para chegar nesse estado. — ela me olha. — Não perfeito, mas cheio de amor e confiança. Depositamos tudo de nós neste lugar, até mesmo o que não tínhamos colocamos nisso.

— Eu não posso imaginar como isso foi lindo.

— Claro, ainda é, mas como eu disse isso levou tempo. Às vezes tudo que temos é apenas algo danificado, estilhaçado, trincado, esgotado por causa do tempo e precisamos construir tudo de novo. Tapar as rachaduras, cobrir os buracos profundos e derrubar algumas paredes. Leva tempo para o aperfeiçoamento, é cansativo, doloroso e no meio do caminho a gente sente que não pode lidar, mas... — ela tira os olhos de mim para a vista. — Tudo vale a pena quando podemos sentar e desfrutar daquilo tudo de bom.

Fito também a vista com meus olhos gotejando.

— Será que devo também construir algo assim? — falo mais para mim do que para ela.

— Claro querida. — sua mão me toca. — Deve sim, sem hesitar.

Uma pitada de tenacidade e ate mesmo de valentia me toma. Fico de pé.

— Então eu estou indo.

Ela sorri e saio apressada.

Não sei ao certo se devo ou não correr com tanta pressa para essa cabana destruída, mas não posso me sentar e apenas deixar que o vento forte destrua aquelas estruturas que se forçam a se manter de pé, mesmo depois de todo castigo.

Talvez eu vá encontrar destroços pesados, mas não posso desistir, não se eu quiser olhar apaixonadamente para a bela vista.

Chego à fazenda nem sei como.

Começo a me perguntar se estou fazendo a coisa certa ou não.

Eu não tenho duvidas do meu amor, não. Eu só tenho medo da rejeição, da minha coragem ser derrubada.

Foi uma semana e ele não veio um dia, tudo bem que não sabia onde eu estava, mas poderia me ligar. Com apenas cinco rejeições de chamadas em três dias ele apenas desistiu.

Grita minha mente.

Mesmo assim Não desisto e apenas bato a porta.

Meu coração bate lépido no peito à medida que ouço passo vindo.

Quando a porta se abre me deparo com uma imagem que eu não queria ver ou que talvez eu não estivesse pronta para ver, uma que faz toda a minha maleta de construção cair aos meus pés.

— Nora?

— Bélgica.

Estou surpresa, mas não posso dizer o mesmo dela.

Ela está bem aqui. 

Paixão No TexasOnde histórias criam vida. Descubra agora