Capítulo 6 - Planos

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Ao contrário de Edgar, que ocupou sua noite em puro trabalho e obrigações, Melissa aproveitou aquele tempo sozinha para recuperar suas energias, não fisicamente falando, mas sim em relação ao emocional. Há muito tempo não tirava um tempo para cuidar de si especificamente, e o mais perto que chegava disso era aplicar um hidratante vez ou outra. Agora, além da motivação que regia toda aquela viagem - o autocuidado e a experiência consigo mesma - também havia um pretexto a mais para que se arrumasse um pouco melhor: a pretensão de conquistar o gato que havia conhecido no hotel.

Dessa forma, logo que entrou em suas acomodações, encheu a banheira com água quente e desbravou a seção de produtos de higiene pessoal que o hotel ofertava como cortesia. Para sua surpresa, além das clássicas espumas de banho, o arsenal de beleza fornecido pela hospedagem era muito maior do que imaginava: máscara facial, creme para o rosto e até mesmo óleo de massagem faziam parte dos caprichos que a hospedaria fornecia.

Então, com o celular sobre a pia tocando Abba no último volume e um sal de banho aromatizado com lavanda perfumando todo o ambiente, bem como a máscara de pepino acariciando suavemente a pele delicada de seu rosto, Melissa passou o restante daquela noite curtindo a própria companhia. Ou, ao menos, tentando apreciar a própria presença na maior parte do tempo, já que era praticamente inevitável passar mais de trinta minutos sem voltar a pensar em Edgar. Queria saber o que ele estava fazendo, se precisava de ajuda com o trabalho, poderia até mesmo se oferecer para ser sua secretária particular. Mas ainda era cedo, e por mais que desde quando o conhecera ele houvesse dominado todos os seus pensamentos, precisava ter calma.

Quando a água da banheira esfriou e ficar nela já não era tão confortável assim, Melissa finalizou sua sessão de cuidados pessoais e vestiu o pijama de frio mais fofinho que havia levado para viagem. Naquela noite, preferiu ligar para a recepção e pedir que o jantar fosse servido em seu próprio quarto, pois sabia que comeria sozinha e a ideia não a animava tanto.

***

Os primeiros raios de sol ainda surgiam no horizonte naquela manhã de 23 de dezembro, mas Edgar já estava de pé, e muito animado, por sinal. Depois de um bom banho, com o perfume marcando presença, o empresário desceu para aquele que julgava ser o melhor momento de seu dia: o café da manhã. Não apenas porque adorava gastronomia e o desjejum suíço era digno de receber um lugar entre as suas refeições favoritas, afinal, iogurte e cereais eram alguns de seus alimentos prediletos, mas também por outro motivo, que não envolvia nenhum alimento: Melissa.

Estava ansioso por revê-la, para que então pudessem continuar a conversa. Queria conhecê-la, queria entendê-la, queria convidá-la para jantar e solidificar a relação que estavam construindo. Mas, como dizem por aí, querer nem sempre é poder.

Apesar de ainda estar demasiadamente cedo, o cenário do salão de café da manhã do hotel não condizia com o horário: grande parte das mesas já estavam ocupadas, e o burburinho característico daquela aglomeração já ressonava pelo cômodo. Ainda assim, o rosto conhecido que Edgar procurava não estava entre as variadas feições que compunha a densa gama de turistas dos mais variados lugares do mundo.

Com o passar dos minutos, pessoas novas chegando e os hóspedes mais matutinos terminando suas refeições, deixando assim o grande salão, a esperança de Edgar decaía a cada instante. E, com o seu declínio, a insegurança crescia proporcionalmente: será que Melissa estava o evitando? Talvez tivesse sido ousado demais no último dia, talvez ela pensasse que ele fosse um louco por querer passar o tempo todo com alguém que mal havia conhecido... Mas não conseguia entender também a lógica de seus pensamentos, já que a moça parecia ter se divertido tanto quanto ele. Edgar afastou aquele dramático monólogo com um último gole na xícara de café e decidiu também abandonar o espaço, aceitando, por fim, que Melissa não apareceria por ali.

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