Capítulo 20 - Bons momentos

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Antes mesmo de abrir os olhos, Melissa sentiu um cheiro forte e masculino tomar conta de seu olfato. Foi então que se deu conta  de que tudo o que viveu nas últimas horas não se tratava de um sonho: era tudo parte de uma nova e deliciosa realidade. Na medida em que seus sentidos foram despertando, percebeu também que estava deitada sobre algo mais rígido que seu travesseiro, mas que de longe era mais confortável que ele: um dos braços de Edgar.

A audição foi responsável por perceber uma respiração calma e ritmada, que projetava suaves lufadas de ar contra a superfície de suas madeixas, espalhadas pelo lençol e também sobre o corpo da sua companhia. O penúltimo dos órgãos sensoriais - e não menos importante - foi acionado quando finalmente abriu as pálpebras, ganhando a visão do rosto adormecido de Edgar. Ele estava com os lábios entreabertos, o cabelo negro bagunçado e a face com uma tonalidade avermelhada, embora consideravelmente mais sutil que nas horas anteriores. Ainda assim, continuava absurdamente belo ao olhar de Melissa, que se pudesse, gravaria aquela cena em sua mente para que jamais esquecesse.

A jovem sentiu as bochechas formigarem ao se dar conta de que seu corpo não estava coberto por nada além do lençol claro, que acobertava também a nudez de Edgar, não deixando espaço para a sua própria privacidade. Dessa forma, esforçando-se em uma movimentação tão cuidadosa quanto o caminhar de um felino, livrou-se progressivamente do braço forte que a envolvia, para que assim pudesse procurar pelas suas roupas íntimas pelo quarto.

Aquela tarefa foi mais difícil do que pensou que seria, já que a única fonte de luz naquele momento era uma fresta da cortina que acabou entreaberta na noite passada, e Melissa jamais poderia imaginar que as peças de roupa fossem terminar tão longe uma da outra, como constatou ao encontrar a primeira junto ao sofá e a segunda aos pés da cama.

Enquanto se contorcia para conseguir acertar o encaixe do soutien, ouviu um pigarrear vindo da direção da cama, seguido por uma voz sonolenta:

— Você estava muito melhor antes. — disse Edgar, sem esconder suas intenções naquela frase.

— Bom dia para você também, Edgar. — retrucou Melissa, ignorando o comentário dele. Em seguida, tomou para si a blusa de linho branca, que pertencia a ele, e estava jogada junto às suas roupas, usando aquela vestimenta como uma espécie de camisola.

— Não seja tão estraga prazeres e volte para aqui. Achou mesmo que eu não ia perceber você saindo? — retomou Edgar, em um tom que por mais que tentasse soar como autoritário, não era tão bem sucedido pela calmaria trazida pelos resquícios de sono que ainda dominavam o seu corpo.

— Para ser sincera, achei sim. Você dormia tão pesado que eu pensei que poderia até mesmo ir tomar café e você não notaria. — respondeu a jovem, que, por mais que detestasse fazer algo quando era mandada, acabou cedendo ao pedido de Edgar e voltou ao encontro de seus braços sobre a cama.

— Então você me conhece muito pouco, mocinha. Agora que está aqui, não deixarei mais com que saia. — afirmou ele, convicto. — Aliás, acho que seria melhor se você buscasse suas coisas de uma vez. Quero você comigo até o fim da viagem, Mel.

— Eu acho que você vai enjoar. — ponderou Melissa, mesmo que aquela ideia lhe parecesse mais perto da perfeição que qualquer outra.

— Nunca. — declarou Edgar com uma firmeza evidente. — É tão estranho, Melissa. Passei minha vida todo sozinho e convivia perfeitamente bem com isso, mas agora... Em apenas uma semana com você, é como se a ideia de ficar sem a sua companhia parecesse o mais cruel método de tortura da história.

Melissa ergueu o tronco apenas para que pudesse encarar o homem diretamente. E foi quando conseguiu notar uma coisa que sequer ponderava que fosse possível de ser vista aos olhos: a sinceridade. Estava presente em cada mínimo gesto que ele fazia, desde a forma que respirava até a maneira que a encarava com um olhar penetrante que também parecia capaz de visualizar até mesmo a sua alma.

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