Capítulo 9 - Mímica e chocolate quente

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A primeira coisa que Melissa fez ao acordar foi abrir a longa cortina branca que protegia o quarto dos raios solares. Estava ansiosa, e se percebesse que a nevasca ainda estava ali, atrapalhando seus planos, era capaz de ir pessoalmente até o céu e interromper aquela chuva de flocos de neve.

Para sua sorte, apesar da monotonia da paisagem branca, que denunciava uma vila toda coberta pela neve, nenhum grão de gelo caía das nuvens. Isso significava que ela deveria se arrumar o mais rápido possível e encontrar Edgar, que provavelmente já estava à sua espera, no hall do hotel. Apesar da pontualidade não ser uma característica propriamente sua, naquela manhã em especial conseguiu se arrumar em um tempo récorde de quinze minutos, sem se esquecer de nenhum item: havia passado o protetor contra o ressecamento do frio, vestia roupas suficientes para impedir uma hipotermia - que a deixavam mais parecida com um boneco inflável do que um humano - e, claro, usava também o clássico batom vermelho, que sabia ser o favorito de Edgar.

Por último, pegou o caderninho de anotações, que continha desde a lista de presentes que deveria comprar para levar ao Brasil até o roteiro de viagem que havia montado, e a máquina Polaroid que estava acumulando poeira em sua gaveta desde quando a comprara, uma vez que não era tão fotogênica e desde a aquisição não teve nenhum evento tão marcante que sentisse vontade de registrar. Não que um passeio fosse um grande evento, mas sabia que a chance de não encontrar-se mais com Edgar no retorno ao país era real, e, caso acontecesse, queria ao menos uma lembrança daquela inesquecível viagem.

Aquele último pensamento provocou uma estranha sensação de vazio em seu interior, acompanhada de uma pontada aguda em seu coração. Pare com isso, Melissa, você está sendo boba, pensou. Mas era incontrolável o pesar que sentia ao pensar que dentro de alguns dias teria que voltar à sua rotina normal, sozinha em seu apartamento, sozinha no hospital em que trabalhava. Não teria mais companhia para o café da manhã, tampouco beijos para alegrar o seu dia. Para ela, o fim era inevitável, mas pensar tanto nisso, ao menos enquanto ainda possuía algum tempo até o ponto final.

O beep do elevador, indicando que já havia chegado no térreo, despertou-a de sua reflexão e a trouxe de volta para a realidade. Edgar, como já imaginava, estava a esperando em uma das poltronas, enquanto assistia o noticiário matinal e segurava uma xícara de café.

Assim que percebeu a presença de Melissa, que já estava vindo em sua direção, Edgar levantou-se e deixou a xícara sobre a mesa, caminhando ao encontro da moça. Sem avisar, depositou um beijo demorado nos lábios dela.

— Que maneira fantástica de desejar bom dia. — disse Melissa, quando se separaram.

— É uma maneira fantástica de fazer bom o meu dia. — respondeu Edgar, piscando um dos olhos para ela.

— Funcionou para mim também. — completou ela, enquanto caminhavam na direção da grande porta de vidro que separava o interior da parte de fora. O dia no hotel estava especialmente movimentado, com hóspedes circulando pelos corredores animados e, em sua maioria, direcionados ao lado de fora, afinal, todos ali perderam dois preciosos dias de passeio pela cidade.

Chegar ao lado de fora era a mesma sensação de entrar em um freezer, tamanho era o frio que fazia. A temperatura negativa fomentava a sensação de congelamento, que quase fez Melissa desistir do passeio e se acomodar no interior aquecido do hotel.

Mas ao seu lado estava Edgar, que por mais que estivesse se segurando ao máximo para não demonstrar qualquer indício de fragilidade, por dentro também sentia até o último poro do corpo ser tomado pelo frio súbito.

— Quando li que aqui era muito frio, imaginei um pouquinho mais quente. — comentou Melissa, quebrando o gelo daquela caminhada de descida da colina que o hotel estava localizado.

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