Capítulo 7 - Em chamas

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Edgar e Melissa estavam na sala de cinema do hotel, já que a piscina, quando foram conhecer, estava ocupada pelo mesmo grupo de pequenos que brincava de pega pega pelos corredores da hospedagem. Apesar de ambos gostarem de crianças, aquelas específicas faziam Melissa reconsiderar fortemente a ideia de ter filhos no futuro. Então, tanto ela quanto Edgar decidiram que seria melhor buscar outra coisa para fazer naquela tarde. Como já haviam conhecido a sala de jogos, o espaço para filmes era a melhor opção que tinham.

Os dois estavam lado a lado, em poltronas adjacentes, e vez ou outra tamanha proximidade provocava um esbarrão de mãos, toque de dedos e até mesmo o contato entre as bochechas, quando ambos decidiram simultaneamente recostar a cabeça na parte lateral da traseira dos estofados. E, claro, quando eventualmente aconteciam esses encontros, era como se faíscas saltassem entre a pele alva de Edgar e a derme bronzeada de Melissa. O encontro de dois mundos, dois universos tão semelhantes e ao mesmo tempo tão distintos, dois corpos que, se pudessem, não seriam mais um duo, mas sim uma unidade resplandecente.

Mas a racionalidade, o peso moral e o receio infundado impedia que, por enquanto, a paixão que crescia no íntimo de cada um se concretizasse de fato. Até que, no auge do segundo filme, uma comédia romântica de qualidade duvidosa, surgiu um diálogo que, fora de contexto, poderia ser plenamente interpretado como uma auto reflexão da dupla:

— Eu não sei porque demoram tanto para se beijar. Fala sério, tá na cara que eles se gostam, não precisa dessa enrolação toda. — esbravejou Melissa, irritada com o enredo do filme.

— O filme mal começou. Talvez ele esteja com receio de levar um fora. — defendeu Edgar.

— E por que ele não arrisca? O não ele já tem! — rebateu Melissa, que ainda não tinha se dado conta do caminho que aquele diálogo levava.

— Se fosse você no lugar dela, você gostaria, Melissa? — perguntou Edgar, que ao contrário da jovem, havia sido astuto o suficiente para interpretar aquela breve conversa como a deixa que precisava para avançar alguns passos na relação com a colega de viagem.

— Não, esse ator é patético. Mas se fosse outra pessoa... — inevitavelmente, ao mencionar a outra pessoa, Melissa teve seu pensamento atraído pela única pessoa em que atraía o seu interesse naquele momento, e que, por sinal, estava perigosamente ao seu lado. A jovem levou o seu olhar até o rosto de Edgar discretamente, e quando se deu conta de que ele a olhava de uma forma diferente das outras vezes em que haviam se encontrado, desviou imediatamente o rumo dos olhos para outro canto.

Por mais que fosse vergonhoso admitir, ela estava intimidada com aquela troca de olhares. Não de um jeito ruim, mas de uma forma que fazia seu estômago embrulhar e a garganta secar de uma maneira que há muito tempo não acontecia, e que sequer lembrava como reagir a essa situação.

— Melissa... — Edgar queria completar a frase, mas por mais que houvessem mil palavras a serem ditas, ainda que seu emocional implorasse para que ele externasse o turbilhão de sentimentos que sentira desde quando encontrou a dona daquele sorriso aberto, a voz falhava e a única coisa que conseguia pensar naquele momento era em como queria beijar aquela jovem.

Ouvindo seu nome, mesmo que relutante, Melissa voltou o olhar até Edgar e, naquele momento, foi como se o tempo entrasse em colapso e ficasse preso em um singular paradoxo. Ao mesmo tempo em que bastou um ínfimo tempo, na casa dos milissegundos, para que os rostos se aproximassem e as bocas se encontrassem em um beijo intenso que refletia todo o desejo acumulado desde o momento em que magicamente se apaixonaram, aqueles instantes também pareciam congelados, e ambos conseguiam perceber com exatidão a distância sendo dizimada. Até que o espaço entre eles tornou-se subatômico e o atrito entre as duas bocas provocou um calafrio que percorreu a espinha de Edgar e deixou Melissa trêmula.

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