Capítulo 16 - Possibilidades

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Ao contrário de Melissa, para Edgar, aquele dia não havia sido nada divertido. Diferente da forma que a jovem encarou a situação, o empresário simplesmente não conseguia pensar em alguma possibilidade que não envolvesse mais ela. Não conseguia sentir raiva de Melissa por ter abandonado aquela história tão facilmente, não conseguia nutrir o mínimo de indignação por não ter tido sequer a chance de se explicar antes que ela partisse. Tudo o que carregava desde então era o sentimento de culpa. Uma culpa que fazia o seu coração doer, os olhos lacrimejarem e as costas pesarem ao imaginar que, se não fosse pelo seu imediatismo e a falta de raciocínio lógico, poderiam estar juntos naquele instante.

Quando chegou ao hotel, o mesmo que havia se hospedado no dia de Natal, quando teve que partir para Zurique no compromisso com sua empresa, a aparência que tinha não era nada perto do esperado para alguém que estava de férias, muito menos em um lugar que prometia ser tão revigorante.

Edgar estava visivelmente cansado, seus olhos carregavam marcas de olheiras profundas que denunciavam o sono escasso nas últimas noites e seu humor também entregava que o estado psicológico que se encontrava estava longe de ser equilibrado.

Tinha combinado de se encontrar com um amigo no outro dia, já que naquelas circunstâncias, por mais que fosse tão discreto a ponto de manter a maior parte de sua vida particular em sigilo, o turbilhão de sentimentos que rasgavam seu peito era forte demais para permanecer guardado e sentia que poderia entrar em colapso a qualquer momento se não compartilhasse tudo aquilo com alguém.

Logo que pegou as chaves de seu quarto, partiu para um bom banho, que foi sucedido por um sono tão pesado que só despertou no outro dia, quando a camareira acidentalmente entrou no quarto, pensando estar vazio diante de tanto silêncio, mas logo saiu, desculpando-se ao menos dez vezes antes.

Estava um pouco atrasado, mas no final das contas, Júnior merecia esperar um pouco, afinal, se não fosse ele o acordando naquela noite de Natal para que resolvesse o imbróglio com as luzes, provavelmente nada daquilo estaria acontecendo.

Quando chegou ao restaurante do hotel, o colega já o aguardava, com uma xícara de café pela metade e alguns croissants sobre o prato.

— Finalmente, cara! Achei que você tinha se esquecido que marcamos de tomar café juntos. — reclamou Júnior, enquanto dava uma golada no líquido escuro da xícara.

— Claro que não, sempre sou muito fiel aos meus compromissos. — rebateu Edgar, sinalizando para que um dos garçons que passavam pela mesa trouxesse o mesmo pedido do colega.

— Você está um lixo, Edgar. Fala sério, essa viagem não teve justamente a desculpa de fazer você relaxar? Porque não é a impressão que eu estou tendo. — observou Júnior, com a sinceridade de um amigo que conhecia o empresário há tempo suficiente para perceber que havia algo de muito errado com ele.

— É, Júnior. Eu estou um caco. — concordou Edgar, sem se importar com a acidez do colega, que já estava devidamente acostumado. Ele passou a mão pela barba por fazer - que, diferente do habitual, não estava ao menos aparada, deixando sua aparência um tanto desleixada, o oposto do que lhe era costumeiro. E então, começou a contar tudo o que havia acontecido até ali.

Não poupou um detalhe sequer: ressaltou como tinha certeza de que o que sentiu quando viu Melissa pela primeira vez foi amor, daqueles à primeira vista que todos imaginam que acontecem unicamente nos contos de fada. Mas ele jurou que a história com ela era bastante real. Narrou seus passeios, todos os momentos que viveram juntos, contou sobre o baile, sobre como ela era incrivelmente linda. Até chegar na noite de Natal, quando o infortúnio das luzes, que ironicamente lembrou-se que era uma das decorações favoritas de Melissa, decidiu separá-los.

Amor de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora