Capítulo 18 - Conversa

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Melissa não conseguia fazer nada além de tremer. Tremia as pernas, que só Deus sabe como ainda conseguiam sustentar o peso de seu corpo. Tremia as mãos, que mal eram capazes de segurar a taça de champanhe. Tremia a boca, que não sabia ao certo se era pelo nervosismo ou pelo frio, de maneira que, de repente, começou a sentir toda a ventania que havia ignorado até então.

A situação de Edgar não era muito distante. Conseguiu força suficiente para chamá-la, clamar por aquele nome que há muito dominava o seu pensamento, mas desde quando partira, nunca mais teve a oportunidade de usá-lo como um vocativo. Não podia acreditar que ela estava ali. Seu coração buscava por Melissa em cada esquina, em cada rosto que cruzou pelas ruas desde aquele dia 25, mas a possibilidade de encontrá-la, depois de tantas frustrações, era alimentada exclusivamente pelo lado emocional, quando, no fundo de seu subconsciente, sabia que aquele cenário era uma utopia.

Mas estava enganado. Ela estava ali, ao vivo e em cores, bem na sua frente. Queria agarrá-la, queria beijá-la e não permitir que ela saísse nunca mais do conforto de seus braços. Mas não conseguia. Sentia-se vulnerável como nunca, e estava terrivelmente enfeitiçado pelos lábios vermelhos daquela mulher que conquistou seu coração desde a primeira vez que colocou seus olhos nele.

Não conseguiam estimar por quanto tempo permaneceram ali, naquele silêncio torturante, em conflito com os feromônios que bombardeavam a atmosfera particular entre os dois e lutavam contra qualquer resquício de racionalidade. Com esforço, Melissa conseguiu quebrar aquela parede comunicativa:

— Edgar. Você me deixou. — aquela frase saiu mais trêmula do que a jovem pretendia, praguejando internamente a si mesma por transparecer a sua vulnerabilidade diante de Edgar. Não conseguia sequer diferenciar o tom da declaração, que flutuava entre uma pergunta e uma constatação.

— Melissa... — Edgar sentiu aquela frase cortar seu coração, principalmente pelos vestígios de dor que conseguiu perceber no tom de voz da moça. Ele jamais perdoaria a si mesmo por a ter magoado, e, principalmente, por quase ter perdido a chance de vê-la novamente, mas, naquele momento precisava concentrar todos os seus esforços em convencê-la a ficar. — Eu não te abandonei, Melissa.

— Você desapareceu, Edgar! Eu procurei por você em todos os lugares! Sabe como eu me senti quando perguntei ao recepcionista por você e ele me disse que você havia saído do hotel de maneira definitiva pela manhã? — esbravejou Melissa, agora com o timbre mais consistente, praticamente cuspindo todas aquelas palavras que há tanto tempo guardou dentro de si e agora se esvaíam com uma naturalidade abrupta. — Uma idiota, Edgar!

— Eu te explico tudo Melissa, por Deus! A última coisa que eu pretendia era te deixar dessa forma! — rebateu ele, em uma súplica desesperada.

— E quer saber mais? — perguntou Melissa, continuando antes mesmo que ele pudesse responder. — Agora eu me sinto mais idiota ainda, Edgar. Porque eu acabei de perceber que nem mesmo com o seu desaparecimento eu consigo deixar de gostar de você. Inferno! — desabafou ela, que se arrependeu no próximo segundo de ter falado aquilo. Burra, Melissa, você é burra, pensou consigo mesmo.

Foi então que percebeu que sua bochecha estava molhada.

Ah, droga! Por que sempre tinha que chorar em todas as discussões? Desde criança, sempre teve o péssimo reflexo de expressar todas as emoções através das lágrimas. Mas aquela não era, nem de longe, uma situação adequada para tal. Ainda assim, não conseguia evitar: depois daquela, vieram mais outras, que gradativamente limpavam a maquiagem que camuflava o seu rosto, e a cada rastro deixado nas bochechas, sentia sua alma mais exposta.

Estava prestes a desabar ali mesmo. Aquele turbilhão de emoções que tomou conta de si desde quando olhou no fundo daqueles olhos tão escuros e penetrantes trouxe à tona tudo o que tentava esconder durante todos aqueles dias.

Amor de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora