Capítulo 24 - De volta ao Brasil

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Logo que abriu os olhos, naquela primeira manhã do ano de 2020, a visão que Melissa teve não poderia ser mais acalentadora. Edgar, vestido no roupão do hotel, preparava um apetitoso café da manhã na pequena mesa que ficava em um dos cantos do quarto, fazendo com que o perfume do pão fresco, provavelmente preparado há poucas horas pelos funcionários do hotel, tomasse conta de seu olfato, e, por conseguinte, também de seu estômago, que roncou em protesto.

— Bom dia, meu amor. — falou ela, chamando para si a atenção de Edgar, anteriormente empenhado em transferir os itens da bandeja da hospedaria para a estrutura amadeirada.

— Bom dia, princesa. — respondeu ele, deixando aquela arrumação de lado para dedicar-se à Melissa. Edgar depositou um demorado beijo em sua testa, afastando para trás da orelha as madeixas rebeldes, que, mesmo tão despenteadas, aos seus olhos continuavam perfeitamente bonitas. — Você acaba de estragar a minha surpresa. Era para ter sido um café na cama especial, mocinha.

— Pode ter certeza que fiquei muito surpresa que acordei, e especial já é só por ter você aqui. — rebateu ela, sentando-se sobre a cama e puxando junto a si o edredom claro. — Mas já que eu me adiantei, vou aproveitar enquanto você termina de arrumar isso tudo para me aprontar, certo?

— Certíssimo. — concordou Edgar, voltando para a sua tarefa de antes enquanto Melissa partiu para um longo banho, que, como de costume, demorou mais que o esperado, e se não fosse pelos utensílios térmicos, provavelmente tomariam aquele café já frio.

Aquele final de manhã transcorreu perfeitamente bem. Depois de pronta, Melissa se juntou a Edgar naquela refeição digna da realeza, com croissants perfumados, geleias variadas, um delicioso cappuccino e o bolo de chocolate mais delicioso que já havia experimentado. Logo quando terminaram, vestiram-se, como na última noite, de um verdadeiro arsenal de casacos, com múltiplas camadas de proteção contra o frio que castigava qualquer um que se atrevesse a sair de casa naquele dia.

Apesar do clima congelante, não poderiam, em hipótese alguma, desperdiçar o último dia naquela cidade, dessa vez completamente sozinhos, já que Lara, junto a Gabriel, despediram-se do casal na última noite, pois roteiro de viagem deles incluía outras cidades e a partir de então só se reencontrariam no Brasil.

O primeiro lugar que visitaram naquele dia foi o Cabaret Voltaire. Era um ultraje para qualquer amante da arte que uma visita a Zurique não contemplasse o passeio pelo museu, que era o berço do movimento Dadaísta. Lá, tiveram contato com as formas mais abstratas de arte, algumas ideias que Edgar julgou um tanto malucas diante de seu classicismo, mas que certamente conquistaram a mente fabulosa de Melissa.

Depois, fizeram algumas passagens pelas igrejas de arquitetura românica mais famosas da cidade, onde disputaram lugar com os outros turistas para guardarem alguns retratos e visualizarem um pouco mais de perto - já que, diante da aglomeração inerente, era impossível estar, de fato, próximo aos itens - os objetos que aquele templo, que ao mesmo tempo também era uma espécie de museu, exibia.

Enquanto desbravavam o interior daquele lugar, Melissa recordou-se de uma certa vez que quando estava visitando as igrejas de Ouro Preto com a sua família, e sua avó lhe contou que sempre que entrasse em uma pela primeira vez poderia fazer um pedido. Então, logo quando dividiu aquela crença com Edgar, fizeram os seus pedidos. Por uma enorme coincidência, ou justamente a sincronia de pensamentos que os envolvia, a prece foi a mesma: que aquele amor continuasse mesmo quando desembarcassem de volta ao país.

Pelo fim da tarde, quando o Sol se escondia no horizonte e a temperatura tornava-se ainda mais fria do que julgavam ser possível, finalizaram aquele dia de passeio com uma caminhada pelas ruas da cidade histórica, onde, ao contrário das construções modernas que dominavam a maioria da cidade, casinhas de arquitetura clássica compunham o espaço, coloridas de maneira tão harmônica que faziam daquela região o cenário perfeito para a paisagem de um belo quadro. Como não haviam telas, muito menos qualquer habilidade com a pintura, Edgar e Melissa registraram aquele espetáculo com uma imagem no smartphone, que, sem dúvidas, iria parar em um porta-retratos no escritório de cada um.

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