Capítulo 13 - (Des)encontros

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O relógio ainda não marcava nem seis horas quando Melissa começou a empurrar sua pilha de malas pelo corredor do hotel, reunindo todas as suas forças para conseguir levar toda a bagagem para o andar de baixo e não ter o orgulho desafiado pedindo ajuda a algum dos funcionários, que provavelmente ainda estavam sonolentos nesse horário.

Com persistência e algumas gotas de suor, conseguiu alocar todo aquele contingente no interior do elevador, e desceu orando a todas as divindades que aquele peso não fizesse ele desabar até o subsolo. Por sinal, suas orações tiveram efeito, já que a porta se abriu no térreo e o plim que indicava a sua chegada despertou um dos carregadores que cochilava em pé, apoiado em uma das pilastras, livrando-a de empurrar aquele fardo por mais alguns metros até cruzar a porta do hotel.

Diferente das outras vezes, o salão principal da hospedaria estava vazio, sem qualquer criança correndo, e, pior ainda, sem nenhum Edgar à sua espera. Por mais que tentasse, não conseguia não sentir a ausência dele, reiterando a sua tese de que mudar o destino da viagem seria a melhor opção para o seu bem-estar mental. Afinal, não duvidava que caso continuasse ali por mais um tempo, começaria a ter alucinações.

Melissa direcionou-se até o balcão que separava os hóspedes dos recepcionistas e informou o atendente, coincidentemente o mesmo que lhe contara da saída de Edgar, sobre o cancelamento de sua estadia.

Depois de realizar todos os procedimentos de check-out e receber o reembolso pelos dias posteriores, estava finalmente livre daquele martírio. Não que Melissa fosse ingrata a ponto de desprezar os momentos felizes que viveu desde quando chegou ali, mas entendia que tudo na vida são ciclos. E, agora, era hora de encerrar aquele e partir para outro, que esperava do fundo do coração que fosse mais animado e sem decepções na etapa final.

O taxista, que a esperava na frente do hotel, acomodou as malas no bagageiro do carro e Melissa ocupou um dos assentos de trás. O vidro ao seu lado estava embaçado pelo frio, e a moça fez questão de passar os dedos cobertos pela luva felpuda na estrutura para que limpasse a camada turva e pudesse ter uma última visão daquela cidadezinha que mal teve tempo de explorar.

Se despediu da enorme montanha atrás do hotel, da descida que dividia a hospedagem do restante da cidade, da confeitaria que possuía o melhor bolo de avelã que já havia experimentado, da loja de lembrancinhas que quase a fez levar um Papai Noel inflável dentro da mala, da livraria que tinha cheiro de madeira, e, por fim, da grande árvore de natal, que ainda tinha as luzinhas ligadas e contribuía para iluminar a rua naquele início de manhã, em que o Sol estava tímido e decidiu que não iria sair da cama para trazer a vivacidade daquele 26 de dezembro.

Como da primeira vez, Melissa agradeceu ao taxista e deixou uma gorjeta generosa ao senhor de meia idade - se ela não estava tão feliz naquele dia, ao menos ainda tinha a oportunidade de fazer outras pessoas alegres. Esperou por cerca de trinta minutos naquela estação gelada de trem, cuja única companhia era o vendedor de passagens, até que a primeira locomotiva do dia chegasse para levá-la ao seu destino.

Para o seu alívio, bem como o restante dos estabelecimentos naquela manhã pós-Natal, o trem também estava confortavelmente vazio, o que permitiu que ela se acomodasse da forma que bem entendesse em sua poltrona e cochilasse por uns bons minutos, até que um aviso indicasse que a próxima parada seria em Zurique.

Chegando lá, o cenário era bem diferente do que havia se acostumado nos últimos dias. Ao contrário da calmaria do interior, Zurique era uma cidade grande, com pessoas apressadas caminhando em todas as direções, independente se estavam no período natalino ou não, artistas se apresentando nas calçadas, bêbados deslocados tropeçando nos pedestres e coisas do tipo. A agitação na estação ferroviária dificultava consideravelmente a vida de Melissa, que carregava a sua pilha de malas e não sabia sequer para onde ir, já que não tinha reservado nenhum hotel até então.

Amor de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora