Capítulo 11 - Desastre de Natal

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Aquela noite, de longe, tinha sido uma das mais esplêndidas de sua vida, e sem dúvidas, ficaria para sempre na memória de Edgar.

Muitos dizem por aí que depois da chuva, sempre vem o arco-íris. Mas e se, por ironia do destino, a ordem das coisas se invertesse? Ele esperava que não, Melissa esperava que não. Tudo naquela viagem havia sido tão mágico até então que os dois sequer poderiam pensar na possibilidade de algo dar errado. Aquela viagem era destinada a dar certo, bem como a união deles.

No entanto, talvez, no fundo, aquele ditado estivesse certo, e foi quando o celular de Edgar tocou, invadindo a paz que dominava aquele ambiente com o toque estridente que ele havia esquecido de silenciar. Estava tão imerso no sono de antes que sequer conseguiu ler algo além do prefixo cinquenta e cinco que precedia o restante do número que o incomodava naquela altura da noite. Como era de seu país, sentiu-se na obrigação de atender, pois por mais que pudesse ser apenas um amigo esquecido da diferença de fusos horários lhe felicitando pelo Natal, existiam também inúmeras possibilidades de coisas indesejadas que poderiam ter acontecido.

— Eu espero que você tenha um motivo muito bom para me incomodar essa hora. — resmungou Edgar ao atender a ligação, prestes a jogar o celular contra a parede e ignorar todas as convenções sociais.

— Edgar, sou eu, Júnior. Não tenho muito tempo para falar, está tudo uma bagunça agora. A iluminação em Zurique deu pane e você é o representante da empresa mais próximo de lá. Preciso que você vá para lá imediatamente. — disse o companheiro de escritório do outro lado da linha telefônica, com um barulho conturbado ao fundo da chamada que Edgar presumiu ser da sede da empresa.

Se não fosse a recomendação médica, também estaria empenhado em administrar todas as luzes de Natal que era responsável, mas aquele ano era diferente. Estava de férias. Estava, no pretérito, porque aparentemente, seu repouso acabava de ser interrompido.

— Cara, eu estou de férias, com pretexto médico e tudo mais. Não posso sair do meu momento de descanso, me desculpe. — estava prestes a desligar, quando a fala acelerada de Júnior sequer deu espaço para tal.

— Edgar, isso não é um pedido. A reputação da empresa depende de você, cara. Zurique tem um dos festivais mais famosos do mundo, não podemos arruinar isso bem no Natal. Chegue lá em duas horas, pegue um táxi, pague o quanto for necessário, mas chegue a tempo.

Antes mesmo que pudesse argumentar em seu favor, Júnior desligou o telefone e, dali em diante, não restavam outras alternativas para Edgar. Suspender o contrato de iluminação que a empresa estabeleceu em um dos lugares mais badalados naquela época do ano, com a expectativa de milhares de turistas e uma rescisão milionária, seria decretar a falência da empresa.

Sem ter sequer acordado totalmente, com o cérebro parcialmente desligado, vestiu o terno que havia usado na ceia mais cedo e acomodou o restante das roupas na mala, descendo tão apressado para a recepção que mal teve tempo de apagar as luzes. Na portaria, como o pacote de viagem já incluía todos os dias de hospedagem que ficou - e ainda alguns além - o processo de check out foi quase imediato, apesar do recepcionista sonolento que o atendeu.

A urgência era tanto que Edgar não se preocupou nem com o reembolso que tinha direito, e partiu para o centro da cidade tão rápido que nem mesmo o frio daquela noite gélida o fez parar.

Apenas quando sentou-se no banco, também gelado, de um táxi não muito novo, após oferecer ao motorista o triplo do valor habitual para que pudesse fazer uma corrida tão longa no dia de Natal, que se deu conta de tudo o que tinha lhe acontecido nos últimos minutos.

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