Capítulo 3

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Para Anahí, a volta pra casa foi algo horrível. Sentia-se ultrajada. Fazia anos que lhe conhecia, mas em todo esse tempo, nunca tinha pensado nele de uma forma que pudesse chamar-se física.
Alfonso era muito grosseiro para lhe considerar objeto de desejo, muito incivilizado e antissocial. Por outra parte, jurou a si mesmo que nunca a voltaria a apaixonar-se. Ainda estava muito afresco em sua memória o amor que tinha perdido fazia anos. E agora, Alfonso a tinha tirado de sua apatia com um beijo brutal. Tinha-lhe roubado sua paz mental. Essa noite tinha trocado as regras do jogo inesperadamente e ela se sentia vazia, ferida, e assustada.
Quando Ucker abriu sua porta, ela esperou nervosamente que Alfonso saísse da caminhonete, para que pudesse passar.
-Obrigada-murmurou Ucker.
-Da próxima vez não vou.
Anahí saltou então ao chão, tratando de compreender o que lhe havia dito. Entrou em casa sem dirigir uma palavra a Poncho e quando fechou a porta, ouviu como ficava em marcha outra vez a caminhonete e partia. Então, posse a chorar.

Quando amanheceu, Anahí ainda estava acordada. A noite anterior podia ter sido um mau sonho se não fosse pela dor que ainda sentia no lábio. Sentou-se no alpendre da casa, ainda vestida, olhando sem ver as montanhas. Era primavera, e as flores silvestres destacavam entre a dispersa vegetação, mas ela nem sequer se dava conta da beleza daquela manhã.
Sua mente tinha voltado para dia em que conheceu Alfonso, quando tinha dezoito anos e acabava de chegar ao Sweetwater com seu tio Peter. Tinha ido ao restaurante de comidas rápidas comprar um refresco. Alfonso estava sentado em uma banqueta próxima.
Recordava como lhe tinha acelerado o coração quando lhe viu era o primeiro vaqueiro que via de perto. Tinha o mesmo olhar desafiante de sempre, o cabelo tão alvoroçado como na atualidade e também estava igual ou seja mal barbeado. Seus olhos verdes pálidos a olhavam insolentemente quando se apoiou na caixa registradora para observá-la melhor. Evidentemente, tinha uma absoluta falta de educação.
Ela tratou de lhe ignorar no princípio, mas quando a chamou e lhe perguntou se gostaria de sair a dar um passeio pelo povo com ele, seu caráter meio de escocês e irlandês, impôs-se. Ainda podia recordar sua expressão de surpresa quando enfrentou a ele friamente e lhe dirigiu um olhar gelado. -Meu nome -o relatório-, é senhorita Puente, não, ouça você, e não estou aqui procurando diversão e, se o estivesse fazendo, não seria com um bárbaro como você.
Então, ele se pôs-se a rir.
-Bem, bem. Se não é uma senhorita do Sul, de onde és preciosa?
-Sou do Charleston. Isso é uma cidade, e está na Califórnia do Sul.
-Tive muito boas notas em geografia. - e sabe ler?
Isso lhe tirou de gonzo. A linguagem que empregou a seguir fez que ela se ruborizasse, mas isso não a intimidou levantou-se então, ignorando os olhares dos que lhes rodeavam, dirigiu-se resolutamente para ele e lhe esbofeteou. Depois, partiu lhe deixando atônito. Foi dias mais tarde quando ela soube que eram vizinhos. Ele tinha aproximando-se de sua casa para falar com o tio Peter a respeito de um cavalo. Quando a viu, sorriu e contou a seu tio o que tinha passado no restaurante, como se isso lhe divertisse. Demorou semanas pra acostumar-se ao rude humor de Alfonso e a sua pouca fina forma de comportar-se. Sorvia ruidosamente o café e ignorava o uso do lenço e o guardanapo, além de utilizar uma linguagem excessivamente forte para seu gosto. Mas, como sempre estava pelos arredores, não ficou mais remedeio que acostumar-se a sua presença.
Levava já um ano na cidade quando Anahí foi ver um rodeio. Ali estava Alfonso, evidentemente bêbado, lhe dando uma surra a outro vaqueiro e tirando-se de cima ao resto dos que tratavam de lhes separar. Quando lhe tocou levemente no braço, ele deixou imediatamente de golpear ao vaqueiro e ficou olhando, como se não acontecesse nada. Anahí lhe agarrou da mão e lhe levou ao outro lado do curral, onde lhes estava esperando Ucker, depois daquilo, Ucker a ia procurar cada vez que seu chefe se metia em problemas. Mas, depois daquela noite, não voltaria a ir com ele.
Dava um comprido suspiro e se meteu na casa. Preparou-se uma taça de café e uma torrada. Enquanto se tomava o café da manhã esteve controlando a hora. Tinha uma entrevista às nove com a Maite Perroni, uma garota da cidade que acabava de terminar a carreira de veterinária e necessitava um local para estabelecer-se. Depois de almoçar tinha que falar com o possível comprador do terreno de Alfonso. Ia ser outro dia longo. O homem insistia em ver pessoalmente a Alfonso; mas, depois da noite anterior, ia ser um pouco difícil.
Maite e ela se encontraram no local que lhe queria ensinar. Eram amigas desde antes de que May se fora à universidade e se viam ocasionalmente quando estava de férias.
-Bom, o que te parece? Não está em um bom lugar? Justo na praça da cidade. E te posso oferecer umas condições muito interessantes se te animar a pagá-lo em vinte anos.
-Deixaste-me sem fala -disse-lhe May-. Isto é exatamente o que queria. Tenho suficiente espaço até para pôr um sala de cirurgia, e o gigantesco salão pode me servir perfeitamente como sala de espera. Sim, eu gosto. E também gosto do preço. .
-Além disso, resulta que tenho aqui toda a papelada -replicou-lhe Anahí renda-se e tirando uma sobre de sua grande bolsa-. Assim já pode ir ver o banco e lhe convencerem para que te conceda um crédito.
-James e eu fomos juntos ao colégio -disse-lhe Maite- assim não acredito que haja nenhum problema. Estou acostumada a devolver o dinheiro que me emprestam. Se não, lhes pergunte a meus companheiros de classe!
-Este é um lugar com muita luz, além disso. Garota, já te vejo se fazendo milionária aqui.

Tal como é - ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora