Alfonso lhe acariciou então o lábio ferido.
-Sinto te haver beijado assim. Ela ficou vermelha como uma chama. Sentiu como se seus olhos pudessem ver o que havia dentro dela. - Nunca soube ser delicado -continuou-, porque nunca soube o que é que lhe tratem assim. E agora tenho trinta e cinco anos, estou só e nem sequer sei como cortejar a uma mulher. E tudo se deve a que sou um selvagem. Isto -disse-lhe lhe assinalando o lábio- é a prova...
Olhou aos olhos enquanto a mão que lhe tinha acariciado o lábio.
- Não tem parentes?
-Nenhum -respondeu-lhe Alfonso, levantando-se e dirigindo-se
para a janela-. Escapei-me dê casa uma ou duas vezes. Ele sempre deu comigo. Em um momento dado, aprendi a me defender e, então, cessaram as surras; mas, para então, já tinha quatorze anos e o mal já parecia.
Anahí percorreu com o olhar a cozinha, até que deu com o que podia ser uma espécie de cafeteira. Então ficou de pé.
-Importa-te se fizer um pouco de café? Acredito que o necessito.
- Claro que não, embora me parece meio estranho te ver fazendo essas coisas. .
- Por que? -perguntou-lhe ela -. Sou uma garota muito de casa. Também sei cozinhar. Ou não te lembra dos jantares às que estava acostumado a te convidar meu tio?
- Passaram-se anos já.
Anahí ficou olhando o recipiente que estava enchendo de água. Como poderia lhe confessar que se sentia muito estranha em sua companhia para estar a gosto? Ele a deixava nervosa e não sabia dizer por que, o que piorava tudo.
- Estive muito ocupada, como para ter visitas -disse-lhe. Tratando de desviar a conversação quando se fixou nas cortinas-. Deveria pôr umas cortinas novas.
- Na realidade, deveria pôr muitas coisas, novas, esta casa se está caindo.
-Isso é porque você quer -respondeu-lhe. Fez uma careta quando viu a capa de graxa que cobria o teto por cima do fogão.
-Até o momento, não tive nenhuma razão para arrumá-la. Vivo só e não tenho muita companhia; mas contratei a uma empresa construtora para que façam alguns concertos.
Aquilo era surpreendente. Anahí se voltou para lhe olhar bem, totalmente invadida pela curiosidade.
- Por que? -perguntou-lhe sem pensá-lo.
-Tem algo que ver com a razão pela que te tenho feito vir aqui -admitiu-. Necessito ajuda.
- Quem, você?
-Não negue, por favor.
-De acordo. O que quer que faça?
Alfonso duvidou antes de seguir falando, o que não deixava de resultar estranho nele. Suas expressões se endureceram.
= Demônios! Me olhe -disse-lhe afundando as mãos nos bolsos dos gastos jeans-. Você mesma disse a Maite que era muito selvagem para estar com uma mulher, e tem razão. Não sei como me comportar com gente. Nem sequer sei que garfo terá que usar em um restaurante. O que quero de ti é que me ensine um pouco de educação.
- Eu?
- É obvio que você. A quem mais conheço com um pouco de cultura? Necessito que alguém me eduque.
- Depois de todos estes anos, por que agora?
-Mulheres! Sempre têm que sabê-lo tudo. Não? Algo, por pequena que seja... De acordo -Alfonso suspirou profundamente e se passou uma mão pelo negro cabelo-. Há uma mulher.
Anahí não soube se rir ou chorar. Ficou muito quieta, lhe olhando. Maite! Pensou. Tinha que ser Maite! Era a única possibilidade com sentido. Seu aborrecimento irracional pelo que o havia dito a May, sua súbita decisão de renovar a casa, coincidindo com o retorno da moça ao Sweetwater. Assim era isso. Estava apaixonado e pensava que Maite havia tornado muito pega à forma de ser dos da cidade como para que gostasse de alguém como ele. Assim estava fazendo o sacrifício supremo de tratar de voltar um cavalheiro Pigamaleão ao inverso.
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Tal como é - aya
Storie d'amoreO mal educado granjeiro Alfonso Herrera queria aprender boas maneiras para assim apaixonar a uma mulher, e Anahí Puente era a única pessoa do povo que teria a suficiente educação para levar a cabo esse trabalho. Nenhuma outra mulher se atreveu a apr...