Capítulo 1

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Ao princípio, Anahí pensou que os golpes soavam no interior de sua cabeça, já que se tinha ido à cama com uma forte enxaqueca. Mas quando os golpes na porta se fizeram mais fortes, sentou-se na cama e olhou a hora no relógio de parede. Era uma da madrugada, e não podia imaginar-se que ninguém no rancho queria despertá-la a essa hora, por nenhuma causa. Levantou-se de um salto e ficou uma bata sobre a camisola. Seus olhos cinzas refletiam a preocupação que a embargava enquanto atravessava a casa para abrir a porta. A casa era como a de todos os ranchos da região e, de onde estava cravada, podiam contemplar-se' as Montanhas Chiricahuas, ao sudeste do Arizona.


- Quem é? -perguntou ela com o clássico acento do Charlestónn, onde tinha nascido.

- Ucker, senhorita -respondeu-lhe uma voz ao outro lado da porta. .

Era o capataz do Alfonso Herrera . Sem que fora necessária uma só palavra de explicação, ela soube o que ia mau e a razão pela que a tinham despertado.

Abriu a porta e recebeu ao alto e loiro homem com um sorriso preocupado. 

- Onde está? -perguntou-lhe.

O homem se tirou o chapéu suspirando.

- Na cidade, no bar Rodeio.

- Está bêbado?

O capataz duvidou um instante.

- Sim, senhorita -disse por fim.

- Esta é a segunda vez nos últimos dois meses.

Ucker se encolheu de ombros e começou a manusear o chapéu. .

-Ah, o melhor tem problemas de dinheiro -aventurou-se Ucker.

-Não acredito -murmurou ela-. Faz já meses que tenho um comprador para essa parte de terra dele, mas não quis nem pensar do tema.

-Senhorita Puente, já sabe o que pensa ele dessas urbanizações. Essas terras foram que sua família da guerra civil.

-Tem milhares de hectares! -explorou ela-. Não me diga que vai pôr-se a faltar esse, parte de terra precisamente! 

-Bom, é que é aí onde está a casa familiar.

-Pois agora não parece que a esteja usando muito.

Ele se limitou a encolher-se de ombros como resposta ao comentário de Anahí.
Alguns minutos mais tarde, vestida com uns jeans, um yérsey amarelo e uma jaqueta de pele, Anahí estava sentada ao lado do Ucker na caminhonete com as marcas do rancho de Alfonso Herrera pintadas de vermelho nas portas.

-E por que não vais pedir lhe a outra gente que lhe ajude? -perguntou-lhe ela molesta.

-Porque você é a única pessoa no vale que não está zangada com ele.

 - É que não lhe podem levar a casa os meninos e você?

- Tentamo-lo uma vez, mas a fatura do médico foi muito cara. Ele não se atreverá a golpeá-la a você.

Isso era bastante certo. Alfonso era um homem feroz e rude, que vivia em um edifício ruinoso que ele chamava de casa como se fora um ermitão. Odiava a seu vizinhos e era o homem mais violento que ela tinha conhecido em sua vida. Mas, depois do primeiro momento, lhe tinha cansado bem. A gente dizia que isso era porque Anahí era toda uma senhora do Charles tom, Carolina do Sul, e ele se sentia na necessidade de protegê-la. Mas isso era verdade só pela metade. Any também sabia que gostava porque tinham o mesmo caráter, porque se enfrentava a ele sem medo. Tinha sido assim desde o começo. Saíram da estrada do rancho e se meteram na autoestrada. Havia luz suficiente para ver os gigantescos cactos levantando seus braços ao céu e as escuras montanhas recortando-se contra o horizonte. .
Arizona lhe parecia tão bonita fazia que lhe cortasse a respiração, apesar de que já levava oito anos vivendo ali. Tinha chegado da Carolina do Sul quando tinha dezoito anos, destroçada por uma tragédia pessoal e esperando encontrar nessa nua terra uma perfeita expressão de sua própria desolação. Mas se esqueceu de todo isso quando viu as Montanhas Chiricahuas pela primeira vez. Após, tinha aprendido a apreciar aquelas paisagens e os verdes tons da região onde tinha nascido se foram fazendo cada vez mais difusos em sua memória.

Ainda lhe notava o lugar de que procedia sobre tudo no acento e em sua forma de comportar-se; mas nesse momento se sentia tão do Arizona como um, personagem do Zane Grei.

-Por que tem feito? -perguntou-lhe ela ao capataz quando entravam no pequeno povo do Sweetwater.

-Isso é algo que não me incumbe. Mas é um homem solitário e se sente já velho.
-Mas se somente tem trinta e cinco -replicou. Não está precisamente como para o asilo.

-Está sozinho, senhorita Puente. Os problemas não parecem tão grandes quando pode compartilhá-los.

 Anahí suspirou. 

Isso sabia ela muito bem. Desde que morreu seu tio, fazia já quatro anos, não tinha a ninguém com quem compartilhar sua solidão. Se não tivesse sido pela agência imobiliária e o estar filiada a meia dúzia de organizações, teria se tido que partir dê Sweetwater se desesperada.
Ucker estacionou diante do bar Rodeio e saiu da caminhonete. Annie estava já em terra antes de que ele pudesse aproximar-se de ajudá-la.

O garçom lhes estava esperando na porta, a calva lhe brilhava à contraluz.

-Graças a Deus! Annie, ele acaba de deixar inconsciente a um vaqueiro. E se atou a bofetadas com outros três mais.

-O que?

-Era um do rancho Lazy X. Lhe disse algo que não gostou, sabe Deus o que. Ele estava sentado tranquilamente, terminando-se outra garrafa de uísque, sem meter-se com ninguém quando esse estúpido vaqueiro... -deteve-se e suspiro.- Me tornaram a romper o espelho, além de uma dúzia de garrafas. Ao vaqueiro o tiveram que levar a hospital a que lhe recomponham a mandíbula e a dois dos outros, terá que lhes fazer o mesmo quando despertarem. O último está aí detrás, subido a uma árvore, com o Poncho sentado no chão debaixo dele, esperando a que baixe ou caia e renda-se como um louco. 

Alfonso não ria nunca. Pelo menos até que não ficava realmente como um louco sedento de sangue.

-E o que passa com o xerife? -perguntou Anahí suspirando. . .

-Como fariam a maior parte dos homens em seu são julgamento, pensou que o melhor era mandar a seu ajudante para que lhe convencesse.

-E? -perguntou Anahí arqueando as sobrancelhas.

-Porque esse senhor está na dispensa pedindo a vozes que lhe tirem dali.

-E por que não lhe tiram?

-Porque a chave esta com Poncho. - Ucker pôs o chapéu sobre os olhos.

-Acredito que o melhor é que me vá sentar na caminhonete.

-Sim, mas vê antes a tirar da cama à autoridade, Ucker -disse-lhe o garçom angustiado.

- Por que? -perguntou Ucker-. O xerife Wilson não vai se levantar para prender o chefe e como Danny está encerrado na dispensa, acredito que tudo está em ordem. O único problema são os gritos.

-Verá, é pelos destroços. Até recentemente, isto acontecia de vez em quando, e era normal, não passa nada porque alguém rompa o espelho e umas quantas garrafas uma vez ao ano. Mas é que agora é todos os meses! O que é o que acontece?

-Eu gostaria de sabê-lo -suspirou Anahí-. Bom, acredito que é melhor que vá ver-lhe.

-Sorte. Olhe, pode ter uma pistola -disse-lhe o garçom. -A vai necessitar. - Anahí chegou à parte traseira do bar bem a tempo para escutar a última parte de uma larga e calorosa série de tacos, lançados por um homem alto, vestido com um jaquetão de pele de cordeiro e que olhava muito sério a outro homem que estava encarapitado no mais alto de um carvalho.

Tal como é - ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora