Nem sequer havia eletricidade. Quão único tinha era algumas abajures de petróleo e uns móveis onde ela: não se teria sentado por nada do mundo.
-Sente-se -disse-lhe ele lhe aproximando uma destroçado poltrona.
Ela ficou de pé. Tinha estado nessa casa só uma ou duas vezes, com seu tio, e desde que este morreu, sempre tinha encontrado alguma desculpa para ficar no alpendre quando ia por ali para falar com o Alfonso. Olhou-a com uma expressão estranha quando viu a cara com a que estava olhando seu reduzido mobiliário. Levantou-se enfurecido e entrou na cozinha.
-Vêem aqui, ao melhor as cadeiras da cozinha lhe parecem melhor para seu delicioso traseiro.
-Sinto muito -disse-lhe ela entrando na cozinha- Não queria ser tão grosseira.
-O que não queria, era sujar seu precioso vestido com meu mobiliário -disse-lhe ele - Sente-se.
-Bom, o que quer?
-Essa é uma boa pergunta -respondeu-lhe ele apagando em um cinzeiro o cigarro-. Até agora não me tinha dado conta do besta que podia chegar a ser.
-Não se preocupe, o de ontem à noite me tomarei como uma experiência.
-Tem muita? -perguntou-lhe ele olhando-a aos olhos. Lutou comigo porque tinha medo?
-Estava-me fazendo mal! -disse-lhe ela de mau humor.
Alfonso respirou profundamente e as pupilas lhe brilharam. Fez uma leve pausa e suas seguintes palavras tomaram completamente por surpresa.
-Disse a Maite que eu era muito selvagem para ter uma mulher.
Anahí ficou boquiaberta. Sentou-se e ficou olhando, não podia acreditar-se essa falta de discrição por parte de May.
-Eu... eu nunca pensei...
-Que ela me contaria? -perguntou-lhe ele fríamente, tirando outro cigarro do pacote e acendendo-o com um impaciente golpe no acendedor-. Ela estava brincando a respeito disso, não o disse com má intenção. Estive pensando ultimamente muito nessas palavras e no velho e só que me encontro.
Levantou a vista do charuto e olhou a Anahí aos olhos. - Quando Maite me disse isso esta manhã me fez me sentir muito mal. Dava-me conta de que tinha razão, de que nem sequer sei me comportar entre gente civilizada.
- Poncho...
Ele moveu a cabeça.
- Não te desculpe por haver dito a verdade. Esta noite não dormi. Sinto muito te haver feito mal no lábio, me levei muito mal contigo. Espero que tenha em conta que tinha bebido o bastante.
- Sim, tinha sabor de uísque -lhe disse ela sem pensar. Se ruborizou ao dar-se conta de que recordava exatamente ao que ele sabia.
-Sim? -respondeu-lhe olhando a seu lábio ferido-. Não sei o que me passou. E, em cima, você te pôs a brigar comigo, o que piorou as coisas. Deveria me conhecer melhor.
- Levo anos brigando contigo.
- Sim, mas verbalmente.
- E o que se supõe que tinha que ter feito, me relaxar e desfrutar?-De acordo, já te disse o que sinto. Por Deus, o que esperava de mim? Logo que conheci minha mãe e não tive irmãs. Toda minha vida a passei entre homens, sobre tudo com meu pai, que me dava umas surras tremendas cada vez que lhe desobedecia...
Anahí lhe escutava sem pensar, até que suas palavras começaram a meter-se em seu cérebro. Esforçou-se então em fazer desaparecer seu mau humor.
-Meu pai era boiadeiro -prosseguiu ele-, e minha mãe não pôde viver com ele durante muito tempo. Fugiu quando eu tinha quatro anos. É, ocupou-se então de mim e sua idéia da disciplina era me surrar quando fazia algo que não gostava. Tive problemas até para ir ao colégio, porque ele não acreditava na educação. Mas, para então, eu já era bastante maior que ele e podia me defender.
Isso explicava muitas coisas. Nunca lhe tinha falado de sua infância, e o único que sabia daquela época de sua vida, eram os vagos comentários de Ucker a respeito de quão dura tinha sido.
Ela estudou com curiosidade seu rosto.
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Tal como é - aya
RomanceO mal educado granjeiro Alfonso Herrera queria aprender boas maneiras para assim apaixonar a uma mulher, e Anahí Puente era a única pessoa do povo que teria a suficiente educação para levar a cabo esse trabalho. Nenhuma outra mulher se atreveu a apr...