𝟐𝟓

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O ANIVERSÁRIO DE um dos homens mais ricos do Figure 8 não era muito diferente da festa de verão. Haviam sim muitas pessoas mais velhas, esbanjando seu dinheiro e erguendo agora, taças de champanhe. Cada vez que via o líquido transparente dentro do recipiente de vidro, Zara revirava os olhos. Ela nunca iria entender o porquê gente rica não se contenta com uma cerveja estalando de gelada e um churrasco bem feito. Sempre tinha que ter mais "luxo", o que pra ela, é patético.

Porém, por mais que a quantidade de gente madura fosse maior, adolescentes também estavam presentes, como as duas amigas totalmente deslocadas. As duas estavam em um canto, tomando de suas respectivas latas de cerveja e observando toda aquela festa em volta. Até um velório tinha mais emoção do que aquilo. A nitidez de que os corpos presentes naquele lugar só se importavam com dinheiro é gritante. Não conseguia ver verdade na diversão de uma pessoa. Assustador, honestamente.

— Tem certeza que não quer fugir daqui? — Kiara balança sua lata, dando um gole na mesma após.

— É o que eu mais quero — Confessa. A cacheada sorri olhando pra amiga. — Mas já me estressei muito por hoje.

— Cadê a Zayleen, hein? — Kiara cruza os braços, novamente, olhando em volta. Parecia procurar pela garotinha.

— Está com meus pais — Bebe de sua cerveja. — Me desentendi com a Victoria porque ela não queria deixar minha irmã trazer aquela pelúcia inseparável.

— Que chata da porra. — Kiara resmunga, recebendo os olhos de Zara em cima dela. — Sem ofensas.

de La Costa ri, batendo seu ombro contra o da amiga e voltando à observar o ambiente. Ela consegue ver pessoas dançando, rindo, conversando e garçons passando pra lá e pra cá servindo todos que estavam ali. Aqueles homens e mulheres carregando bandejas com comes e bebes faz Zara suspirar com lembranças. Aquele dia ainda está marcado em sua cabeça e parece fazer morada. Ela tenta não se manter preocupada, já que JJ praticamente lhe deu um banho de água fria. Mas é inevitável. É como se aqueles quatro fossem um só, então quando algo atinge um deles, afeta todo mundo. Zara percebeu isso no primeiro momento que teve contato com eles.

A menina suspira, abaixando a lata de cerveja e relaxando a postura.

— Vou ao banheiro. Quer vir? — Olha pra Carrera.

— Tenho que achar meus pais. Depois a gente se encontra, certo? — Zara assente e recebe um sorriso da cacheada, que se vira e some no meio da multidão.

Ela desloca seus passos de onde estava e caminha pelo espaço, procurando algum lugar que pudesse não escutar a música chata tão alto e que tivesse um pouco de distância de tanta gente insignificante. E então, ela parece encontrar o espaço perfeito. Percebendo o quão afastada estava da festa e o som abafado, Zara encosta na árvore, tomando sua cerveja tranquilamente e escutando o quebrar das ondas da praia. Outro lado positivo dos lugares da ilha é que praticamente tudo ficava perto da praia.

— Buh. — O sussurro em seu ouvido à faz pular. Escutando risadinhas, a garota revira os olhos.

— Se emprega no circo. — Ela cruza os braços, voltando à encarar as ondas se desmanchando assim que chegavam na areia.

— Por que está sozinha? — O corpo de Rafe se encosta na outra árvore.

— Não deveria estar com seus amigos? — Retruca com outra pergunta, o fazendo sorrir minimamente.

— Que amigos?

Zara tira o foco do mar e encara Rafe, notando que ele carrega a expressão mais serena do mundo no rosto. Assim como ela, seus braços também se cruzam e ele molha os lábios com a língua.

— É tudo uma questão de classes, Zara — Abaixa o olhar. — Você sabe como é isso.

— Quer dizer que não pode manter amizade com gente pobre? — Zara balança sua lata já vazia.

— Eu seria linchado — Volta à encarar o rosto da garota. — Manter as aparências não é tão fácil quanto parece.

— Eu não confio em você, Rafe. — Seu tom passa firmeza. Ele sabia que ela não estava mentindo.

— Nem eu em você. — Agora, esconde as mãos atrás das costas. — Seus amigos me odeiam, eu não te julgo por me odiar também.

— Não é como se não tivessem motivos. — Zara ergue as sobrancelhas. Rafe ri fraco.

— Todo mundo guarda segredos. — Ele balança os ombros e pega a lata da mão da menina, fazendo uma careta ao perceber que estava vazia. — Não aguento mais tomar champanhe. Tem gosto de xarope.

A piada faz Zara rir. Logo, ela se recompõe e encara o oceano mais uma vez.

— Por que insiste tanto em falar comigo? — Pergunta, realmente curiosa.

O garoto não muda a expressão. Por algum motivo, seu corpo todo se mantém tranquilo e ele não transmite qualquer indício de perigo. Toda a defensiva que ele tem com os Pogues ou até mesmo na frente de todo mundo, tinha virado cinzas.

— Você não me trata como um animal. — Zara se surpreende ao ver a coloração rosada em suas bochechas. Mais uma vez, ele quebra o contato visual, nitidamente envergonhado. — Eu gosto disso.

A morena fica em silêncio. Ela sabia que não era certo manter conversa com ele pelo simples fato de ele não ser uma boa pessoa. Além disso, tinha feito um verdadeiro inferno na vida dos amigos no passado. Mas não sabia ao certo. Ele passa uma energia totalmente diferente. Zara sempre acreditou demais na mudança das pessoas e que ninguém deve ser julgado pelo passado, mas de qualquer forma, era inevitável ter um puta pé atrás.

A garota joga sua lata de alumínio no lixo mais próximo e consegue ver um garçom passando servindo mais cervejas. Então, ela vai até o mesmo, pegando uma garrafa gelada e caminhando em direção à Rafe, estendendo a bebida pro mesmo com um sorriso fraco no rosto.

— Eu também odeio champanhe.

Surpreso, ele encara Zara por alguns segundos e logo abre um sorriso, pegando a garrafa de sua mão e abrindo a mesma, logo dando um gole. Ele fecha os olhos e suspira. Ninguém resiste à uma boa gelada.

— Obrigado.

Um tiro de surpresas atrás do outro.

Zara acena com a cabeça e observa o rosto do garoto antes de se retirar carregando um sorriso e procurando sua amiga.

Gentileza gera gentileza.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora