𝟒𝟏

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A JOVEM TINHA decidido ficar na casa por mais algum tempo. Com a companhia de sua irmã e de seu pai, esquecia um pouco das cenas que tinha presenciado há alguns dias. Owen estava tentando de tudo para fazer com que Zara se sentisse em família mais uma vez. Cozinhou sua comida nostálgica e preferida, fez maratona de filmes com suas garotinhas e até mesmo deixou-as maquia-lo. A cena era hilária. Um homem daquele porte com cílios postiços e um batom tão vermelho como sangue. As gargalhas soavam altas, enquanto isso, ele estava com o rosto sério e seus braços fortes cruzados.

— Me amarre numa camisa de força a próxima vez que eu topar esse tipo de ideia. — Suas palavras fizeram Zara limpar as lágrimas de riso do canto dos olhos e andar até ele.

— Fala sério, você está um gato. — Virou a cadeira que ele estava sentado em direção ao espelho. Os olhos de Owen arregalaram e as duas meninas voltaram à rir. Era digno de um filme de comédia.

— Tá igual uma Barbie, papai. — Zayleen admitiu e Owen a encarou de forma ameaçadora, mas que não a afetou nenhum pouquinho.

— Vocês vão tirar essa merda da minha cara agora — Ele formou um bico bravo. — Eu estou parecendo um palhaço!

— Tudo bem, tudo bem — Zara levantou suas mãos erguendo carta branca. Puxou as mangas da blusa até os cotovelos e pegou o pacote de lenços umedecidos em cima da penteadeira. — Você tá mesmo ficando velho, hein.

A expressão séria contínua de Owen faz as meninas rirem mais um pouco, o que consequentemente, acabou trazendo mais humor à ele, que também gargalhou fraco. O dia tinha sido ótimo. A companhia daqueles dois era mais do que essencial, ainda mais no momento que estava passando. Desde o dia que feriu seu pé, não tinha visto Victoria novamente. Também fazia dias que não conversava com seus amigos, que não tinha contato com JJ. Rafe estava sempre lhe digitando, perguntando se ela precisava de algo e se queria sua companhia. As respostas tem sido as mesmas, que está bem, porém precisa de seu espaço. Ele sempre entende, pelo menos. Não pode negar que sente falta de quando não tinha nada à se preocupar. Quando se divertia com seus amigos, estava numa boa com sua família e sentia que viver cada dia como se fosse o último era mais importante. Mas agora, parece que as coisas desmoronaram. Por isso ela se esforça para reconstruir uma coisinha de cada vez, sozinha.

Já tinha anoitecido quando viu seu pai subir as escadas com Zayleen dormindo no colo. Deu um sorriso fraco. O dia tinha sido bem agitado para os três e a garotinha com certeza estava mais do que exausta. Já Zara, custaria bastante à dormir. Não pretendia fechar os olhos num sossego total tão cedo com tudo que vêm passando pela sua cabeça. É difícil.

Não demorou para ele descer as escadas novamente e se sentar ao lado da filha no sofá. Zara fitou o programa de comédia que passava na TV e suspirou, repousando as mãos em cima das coxas. Owen notou seu comportamento e ele sabia bem o quê isso significava. Conhecia sua garota como ninguém.

— Vai, filha — Ela ergue o olhar pro pai. — Vai dar uma volta, se distrair.

— Eu estou bem, não se preocupe. — Mostrou um fraco sorriso. Owen suspirou.

— Você não precisa se privar do próprio bem-estar por problemas momentâneos. Não agora. — Passou a mão pelos cabelos negros da filha. — Sei que está brigada com seus amigos e parece que não há lugar pra onde correr, mas quem disse que não. Por que não pode ter seu próprio momento?

As palavras entram na cabeça de Zara como balas de canhão. A tensão que insistia em incomodar seus ossos se desfaz e após respirar fundo, concorda com a cabeça, puxando o homem pra um abraço forte. Ele estava certo. Precisava de um refúgio, um momento apenas dela e de mais ninguém. E ela sabia bem como fazer isso.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora