𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓

𝟐

O CORPO PARECE QUE REINICIA. Após umas boas horas de sono para recompensar todo o tempo que dormiu sentada em posição desconfortável, sente que está pronta pra encarar a nova realidade pelos próximos meses. A garota se levanta da sua cama e vai até o banheiro, tomando um banho rápido e escovando os dentes logo depois. Faz uma maquiagem leve, com direito à rímel e lip tint apenas pra não ficar com a aparência nítida de que havia acabado de acordar. Olhando no celular, percebe que são sete da noite.

Logo ao sair do banheiro, Zara logo percebe o calor que está fazendo mesmo dentro do quarto. Então, opta por não colocar roupas muito agasalhadas. Veste um short preto colado e uma blusa de crochê vermelha que deixa sua barriga à mostra. Passa um pouco do seu perfume de bebê e calça os chinelos antes de sair do quarto. Suas suspeitas se confirmam e um suspiro escapa dos seus lábios. Até mesmo durante a noite o calor é perceptível.

No fim da escada, escuta alguns gritos finos e abre um sorriso por conhecer aquela voz. Os cabelos escuros e ondulados como o seu se balançam quando a figura pequena corre desajeitadamente até a garota.

— Tô com fome, Zazi. — Um de seus bracinhos balançam, enquanto o outro segura a pelúcia azul.

Percebe que a necessidade é a mesma de que sua irmã quando sente a barriga roncar. Seu nariz torce. Sabia que não tinha comido nada decente desde que entrou naquele carro rumo à viagem. Também sabe que seus pais a forçaram à pelo menos fazer uma refeição, na qual ela engoliu três pedaços de um frango e repetiu o mesmo processo de sempre logo depois. Não é como se ela gostasse desse hábito, mas já havia virado costume. Engolir, esperar e vomitar. Tudo era melhor do que estar acima do peso.

— A mamãe não fez nada pra comer? — Pergunta olhando pra garotinha, que em resposta, nega com a cabeça. — Hum, parece que iremos explorar Outer Banks.

Zayleen sorri animada e dá alguns pulinhos, provocando a mesma reação na sua irmã. De qualquer forma, não queria e nem podia ficar dentro de casa por muito tempo. Tinha consciência de que uma hora ou outra, sua mãe poderia até a ameaçar para sair de casa e conhecer o "novo mundo".

A garota avisa ao pais que está saindo e logo percebe o sorriso ansioso no rosto deles. Devia mesmo ser um lugar especial, porque podia jurar que estavam prestes à soltar fogos. Na verdade, todos da casa estão meio eufóricos. Quem não ama as férias de verão? Sol, calor, praia, sossego, paz e muita diversão. Bom, pelo menos a tradição era assim.

Por fim, Zara se vê nas ruas de Outer Banks com um mapa nas mãos para não se perder completamente confusa com o tanto de nomes e rotas que marcam no papel. Em pouco tempo desiste de tentar seguir um padrão e bufa. Ao seu lado, sua irmã nem sequer percebe o estresse da mais velha. A conversa com sua pelúcia é mais importante. Zara gostaria de em certas horas não saber o próprio idioma, pois podia jurar que Zayleen havia a chamado de burra pro pequeno Stitch. Crianças, sempre tão doces, ela pensa.

Alguns minutos depois de caminhar sem destino nenhum, a placa grande com algumas luzes em volta faz as duas pararem. Zara respira de alívio lendo o slogan. "The Wreck, restaurante e lanchonete". Em baixo, havia alguma coisa sobre desde mil novecentos e bolinha, mas isso passa completamente despercebido pelas duas famintas. As duas passam pelas portas do estabelecimento torcendo para que não estivessem fechando.

Uma música calma e ambiente toca de fundo. Passeando os olhos pelo lugar, percebe que a maioria das paredes é feita de madeira. O chão e as cadeiras também. Há uma parede de vidro que permite a visão de um cais e uma boa parte do enorme mangue. É aconchegante, pra falar a verdade.

— Oi! Precisa de alguma coisa? — Zara dá um pulinho de susto ao ser puxada de volta pra sua realidade. Deve ter ficado tempo demais analisando o lugar.

Ela logo percebe que quem a direciona é uma garota. Parece ter a mesma idade que a sua e os cabelos cacheados estão soltos, porém, com um lenço azul no topo da cabeça. Traja uma blusa branca amarrada e calça jeans clara. Seus pulsos são carregados por pulseiras e ela limpa as mãos com um pano de prato. Céus, ela é mesmo linda.

— Sim, claro — As mãos pousam nos ombros pequenos de Zayleen. — Vocês já estão fechando?

— Pra falar a verdade, sim — A cacheada olha as horas em seu celular.

— Pode nos atender por último? Por favor, tenho uma criança bastante faminta. — O suplico de Zara faz a morena rir.

O olhar da mesma intercala entre o bichinho azul que a pequena carrega e o rosto da mesma. Também está admirada pela beleza da garotinha.

— Claro, tudo bem. Podem se sentar. — Zara suspira aliviada e diz um "obrigada" baixo antes de sentar com sua irmã.

A garota lê rapidamente o cardápio e depois de muita insistência de Zayleen, concorda em pedir uma porção de batatas fritas e outra de frango frito. Também pede refrigerante. A morena logo sai dali para preparar os pedidos.

Enquanto a mais nova brinca com sua pelúcia, Zara continua à olhar em volta. Parece ser bastante um ambiente de família. Transmite um ar positivo e cheio de amor. De alguma forma, parece que já foi um território de muitos momentos bons e felizes.

Não passa muito tempo até que a cacheada volte com os pedidos em mãos. As meninas se servem e Zara não perde tempo em devorar sua refeição, mesmo sabendo que se arrependeria depois. Não queria mesmo ter que lidar com desmaios ou palhaçadas do tipo por ter ficado tempo demais sem comer. Ela não liga pra muito pra essa questão, na verdade.

— Nunca te vi por aqui — A morena diz e aponta com a cabeça pra cadeira livre como se pedisse permissão. Zara assente e ela se senta. — É nova?

— Vim passar as férias — Responde comendo sua batata. — E você?

— Nasci e cresci aqui — Dá um sorriso com os olhos fixos na madeira da mesa, provavelmente se recordando de todos os seus momentos na ilha.

— Então já está acostumada com esse calor. — A resposta faz a cacheada rir e concordar com a cabeça.

— Nem imagina o quanto. — Ela sorri. — Kiara.

— Zara — Sorri de volta.

— E você, hein? — A outra olha pra mais nova. — Qual o seu nome?

— É Ziza. — Responde com a boca suja de comida. Kiara levanta uma sobrancelha e olha de soslaio pra mais velha.

— O nome dela é Zayleen, mas se chamar ela assim, vai pensar que tá brigando com ela. — Mata sua charada e faz Carreira rir.

— Ziza, hum? — Kiara apoia os cotovelos na mesa e encosta o queixo na palma das mãos. — Seu nome é lindo.

— Obrigada, Kiki. — de La Costa responde tímida e arranca gargalhada das duas jovens.

A conversa infinita só terminou quando o carro de Kiara para em frente a casa das duas irmãs. Ofereceu carona num gesto tão simples, mas muito gentil e Zara não recusou. Tinha gostado muito de ter conhecido a morena.

— Olha — Kie começa, atraindo o olhar da outra garota. — Amanhã, eu e meus amigos daremos uma festa na praia da ilha. Começa às cinco, quando o sol começa à se por — Ela tira do porta-luvas do carro um bloco de notas e uma caneta. Puxa uma folha do mesmo e escreve rapidamente, a dando na mão da garota logo depois. Zara logo vê que é um endereço. — Aparece por lá, será bom fazer amizades já que passará tanto tempo por aqui.

— Tudo bem — Guarda o papel no bolso e sorri. — Obrigada, Kiara.

As duas se abraçam e Carreira beija o rosto de Zayleen. Logo, as duas irmãs se retiram do carro para adentrar a casa.

Ao menos, uma nova amizade.

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são as patroas gente