𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓

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A ÚLTIMA FINA CAMADA DE MÁSCARA DE CÍLIOS APLICADA INDICA QUE ESTÁ PRONTA. Os cabelos são jogados para um lado e apenas aplica um pouco de filtro solar no rosto, temendo que o sol pudesse criar mais alguma vermelhidão em suas bochechas. Então, calça os chinelos e desce as escadas. Tinha recusado o pedido de seus pais a levarem até sua primeira consulta. A justificativa foi que já conhecia a ilha como a palma de sua mão. Não sabia quem queria enganar com uma desculpa daquela. Incrivelmente, ninguém pestanejou e ela se livrou de ter de criar ainda mais mentiras.

Um pouco depois da esquina da grande mansão, chutando pedrinhas no chão, o garoto da cabeleira loira a aguardava. Ainda se fazia mil perguntas mentalmente sobre o suposto lugar que Zara quer o levar. Não entra na sua cabeça que, depois dos desentendimentos e aquela explosão de sentimentos que aconteceu na praia, a garota ainda quisesse entrar em sua zona de intimidade. Não que sair "juntos" fosse algo muito íntimo, mas particularmente, ele tinha raiva de pessoas que já o fizeram mal, não o contrário.

Talvez ela seja boba demais.

De longe, ele consegue escutar o som dos chinelos da garota caminhando até ele e levanta a cabeça, reparando na camiseta preta larga com uma estampa da Marilyn Monroe. A peça ia até o meio de suas coxas, mas ainda sim, era perceptível que estava usando um short da mesma cor e de moletom. Carrega uma expressão serena, que não transparecesse qualquer sentimento extremo. Isso choca um pouco JJ. A transparência de sua alma calma é algo novo pra ele, que sempre conviveu com pessoas pesadas e explosivas.

Os olhos amendoados da garota encaram os azuis de JJ e seus pés param de andar. Passa tempo demais o encarando. Isso o faz desviar o olhar para fitar o chão. Mesmo com o sol extremo da ilha, percebe que a pele do garoto está um pouco pálida e uma suspeita logo aparece nos seus pensamentos.

— Já comeu alguma coisa hoje? — Pergunta o analisando.

— Não tomo café da manhã. — Ele responde ainda com os olhos fixos nas pedrinhas que estava chutando há alguns minutos.

— Não pode começar o dia sem uma boa refeição. — Ela sorri fraco, e então, ele volta à olha-la. — Vem.

Zara caminha novamente, agora passando na frente de JJ e esperando que ele a seguisse, então, assim o faz. O loiro se põe ao seu lado e mesmo que tivesse vontade de fazer mil perguntas como aonde estavam indo ou o porquê que ela estava preocupada se ele já tinha comido alguma coisa, prefere ficar quieto e se concentrar nos sons dos passos de ambos contra o chão.

A dupla caminha até onde Zara mentalizava e, o surpreendendo ainda mais, arregala levemente os olhos ao ver uma padaria simples. O homem atrás do balcão sorria para os clientes na fila enquanto atrás dele, algumas pessoas passavam pra lá e pra cá, provavelmente o ajudando com o atendimento.

— Zara, eu não tenho dinheiro. — Afunda as mãos no bolso da bermuda. Sua fala é envergonhada.

— Eu te pedi dinheiro? — Ele franze a testa. — Eu pago, Maybank!

Antes mesmo que ele pudesse se manifestar contra, a garota já estava debruçada no balcão, trocando palavras e sorrisos com o senhor de meia idade que tinha um avental com o nome da padaria escrito. Deveria ser da família, pois parecia um sobrenome.

— Você come bomba de chocolate? — Ela passa os olhos pelo vidro, onde tinha incontáveis doces expostos para visão e ele concorda.

— Já que eu tô me aproveitando de você, pede um pouco de chantilly no meu.

A fala do garoto faz Zara sorrir. Não é nada demais, mas pra ela, significa muito. Ele estava abaixando a guarda pela primeira vez e sem nenhum baseado nos dedos ou bebida no sangue.

Depois de efetuar seus pedidos, os dois se sentam numa mesa ao ar livre. Não sabe exatamente ainda como agir perto de JJ. Afinal, qualquer coisa podia ser motivo para um ataque desnecessário ou apenas totalmente ignorada. De qualquer forma, ela já estava ali. Não seria ninguém além de si mesma.

— Como estão as coisas no seu lado? — Ela pergunta, apoiando seus cotovelos na mesa.

— Ainda sem energia — Ele brinca com os dedos. — Provavelmente ficaremos assim até o fim do verão.

— Isso é injusto. Em dois dias de tempestade, todos do cut estão vivendo sua vida normalmente. — JJ dá uma risada.

— Bem-vinda à vida real, miss Malibu. Finalmente descobriu que o mundo não é um conto da Disney.

Os dentes da garota mordem o interior da bochecha.

— O que te faz pensar que eu vivo num conto de fadas? — Ergue a sobrancelha, curiosa.

JJ estala a língua no céu da boca e seus olhos que até então estavam focados no minúsculo pacote de açúcar entre os dedos, agora encaram seu rosto.

— Você é rica. Isso é o suficiente.

— Não sou rica. Temos uma boa condição graças ao esforço dos meus pais. — Mais uma vez, ele ri de forma irônica. — Eu morava no Bronx até um tempo atrás.

— Espera — O semblante humorado no rosto do garoto some. — Você morava no lado obscuro de Nova York?

— Bem-vindo ao mundo real, JJ. Nada é como você pensa. — Zara pisca um olho pro loiro, o deixando totalmente sem palavras enquanto uma garçonete servia seus pedidos na mesa.

Está realmente surpreso. JJ não se considera alguém que só olha pro próprio umbigo e não vê o que acontece em sua volta, mas não imaginava que existiam pessoas além dele que escondiam segredos. Na verdade, ele não se importava muito.

Mas Zara tem algo intrigante ao seu ver.

Seu maior foco é não estabelecer mais relações fortes com ninguém além dos Pogues. Mas, quando a curiosidade bate, mata o gato no mesmo instante.

Talvez ele esteja interessado em conhecer mais de Zara de La Costa.

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