𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓

𝟑𝟕

A TARDE AO LADO dos amigos e de JJ tinha sido incrível. Zara se sente leve e todo o nervosismo que pesava seus ombros nos últimos tempos já não existiam mais. John B e Sarah eram pessoas extremamente amáveis e se identificou de primeira com os dois. Eram aventureiros, sorridentes e bem animados. Literalmente o bom e velho Pogue Style. A energia que todos emanaram hoje foi fundamental para ser, realmente, um dos melhores dias que passou ao lado deles. Tudo estava perfeitamente bem e ela transbordava gratidão.

Zara retirou seus chinelos quando chegou até dentro de sua casa e suspirou ao sentir seus pés entrando em contato com o carpete fofo. Amava vadiar pelas ruas de Outer Banks ao lado de seus amigos, mas a paz de estar dentro de seu cantinho era inigualável. O que mais queria agora era tomar um bom banho, comer alguma coisa e descansar toda a energia que tinha ganho hoje com tantos sorrisos e gargalhadas.

A morena caminha até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando em mãos uma jarra de água bem gelada. Despejou o líquido no copo e ao aproximar o recipiente dos lábios, escutou um barulho esquisito vindo do andar de cima. Franziu a testa. Sabia que não era seu pai e sua mãe, pois os dois tinham avisado que iriam levar Zayleen num evento de crianças próximos a casa. Então, imediatamente, subiu as escadas cuidadosamente com o copo de água na mão, temendo que fosse algum assaltante focado em roubar todos os luxos daquela mansão. Ela respira fundo, nervosa.

O som se repetiu duas, três, incontáveis vezes e estava vindo de seu quarto. Zara fixa os pés no chão em frente à porta do cômodo e suspira calmamente, tentando controlar a tensão que fazia morada lentamente em todo seu corpo. Então, sem mais delongas, abriu a porta quase que na velocidade de um raio.

Ela preferia ter presenciado mil cenas. Um filme de terror sangrento e grotesco, cenas de um pós furacão ou qualquer coisa que deixasse ela pensando naquilo por semanas, mas na sua concepção, qualquer coisa seria melhor que aquilo.

Na sua cama de casal, que ela usou pra dormir com JJ há alguns dias atrás, estava sua mãe, em cima do colo de Ward Cameron e suas roupas pareciam traçar uma trilha da porta até os lençóis no chão. Até agora eles não tinham notado a presença da garota no lugar. Ela está horrorizada. Sente como se seus pés tivessem sido enterrados dentro do concreto e o resto do seu corpo inteiramente envolvido por gelo. A vontade de vomitar vem tantas vezes, mas ela não consegue mover um músculo.

Num deslize só, seus dedos da mão fraquejaram e o copo cheio de água se partiu pelo chão em caquinhos. O estrondo fez Victoria olhar pra trás assustada, com os olhos tão arregalados que seus glóbulos oculares facilmente poderiam saltar pra fora. Rapidamente sai de cima do colo do homem, catando suas roupas no chão enquanto Ward puxava o edredom para se tapar. Ainda assim, Zara estava congelada.

— Filha, eu... — A morena ergue a mão, impedindo que sua mãe continuasse.

— Há quanto tempo tá traindo meu pai?

A expressão de Victoria é irredutível. O tempo que estava paralisada e em silêncio, foram os minutos que serviram para pensar em todas as vezes que sua mãe sumia por dias e aparecia depois justificando que estava atolada de trabalho. Os telefonemas cortados pela metade, as demoras para responder mensagens e o abandono do próprio marido e de suas filhas. Não conseguia engolir, não mesmo.

— Zara, por favor — Novamente, ela tenta.

— Responde, Victoria! — Gritou tão alto que sua garganta ardeu. Sua mãe fechou os olhos.

A mulher respirou fundo, abaixando a cabeça, nitidamente envergonhada por ter feito sua filha presenciar tudo isso.

— Mais de um ano.