𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓

𝟔

O CÉU JÁ GANHOU UMA COR ALARANJADA E TODA E A LUZ DO SOL QUE ILUMINAVA TODA A ILHA DE OUTER BANKS JÁ ESTAVA INDO EMBORA. Is This Love do Bob Marley ecoa pela rádio da van histórica e o batucar dos dedos de Kiara contra o volante só prova o quão apaixonada ela é por Reggae. Zara não julga. Aliás, ela é completamente obcecada por músicas dos anos noventa. As paredes do seu quarto em Malibu são repletas de pôsteres das Spice Girls, Britney Spears e poucos da Marilyn Monroe. Gostos musicais não se discutem, afinal.

O "paraíso na terra" passa diante das janelas do carro durante o fim de tarde. O calor que fazia durante o dia, agora estava sendo substituído por um frio não tão forte. Zara deixa seu braço pra fora da van e fita toda a paisagem pelo caminho. Não demora muito até que o lugar que ela se encontra apareça. Mansões de luxo, lanchas, carros de primeira linha e outras coisas de gente rica. Seus dentes fincam no lábio inferior. Mais uma vez, sua curiosidade sobre as políticas de Outer Banks se aguçam. A divisão de classes é realmente chocante.

— Por que esse negócio de Pogues? — Zara deixa escapar. Kiara sorri com a incapacidade da amiga de não fazer perguntas.

— Tá vendo essa área de country club que você mora? — Zara concorda, ainda olhando pra fora. — Esse é o Figure 8, o lar dos Kooks. É onde você tem duas casas, dois barcos ou coisas assim. Alguns batem no peito dizendo que estão ali por merecer, mas eu duvido muito.

Zara fica em silêncio diante da declaração da amiga. Ela acredita que há sim pessoas que se esforçaram o suficiente para terem uma boa condição nos dias atuais. Seus pais são um exemplo disso. Porém não debateu, aliás, ela ainda estava começando à conhecer de verdade a ilha.

Não muito tempo após, a paisagem luxuosa que passava pelas janelas é substituída por uma área totalmente contrária. Provavelmente estão no lado pobre da cidade.

— E esse aqui é tudo nosso. O lar dos Pogues. Onde você tem dois empregos, duas contas pendentes pra pagar e coisas de gente que precisa se esforçar pra ter o que comer. — Seus olhos brilham olhando para o lado de fora da van. — Eu também moro no cut, mas passo tanto tempo aqui que esqueço da minha deprimente realidade. Além disso, o pai do Pope é o cara que consegue tudo por aqui. Se precisar de qualquer coisa, só contatar ele.

Novamente, a garota não diz nada. Prefere fitar o mundo passando diante de seus olhos. Então era ali que seus amigos moravam e onde seus pais viveram a maior parte da adolescência. Ela ri sozinha com o pensamento de que está em um museu da família.

— Quero te mostrar um lugar. — Kie diz e Zara concorda com a cabeça. Mesmo na sua vida toda tendo dificuldade pra se relacionar com outras pessoas, seu coração diz que Kiara é alguém confiável. Por isso, deixa que ela a guia de olhos fechados.

Em tão pouco tempo, ela sente como se estivessem ligadas.

A van de Kiara para em algum lugar que Zara ainda não tinha se tocado aonde era e as duas garotas descem do veículo. Os cachos da morena balançam conforme seus passos se apressam até uma certa direção. Zara a acompanha, ainda curiosa ao olhar pra todos os lados. Há bastante mato e o reflexo do laranja do céu bate contra a água do mangue. Ela se segura para não perguntar onde ela estava a levando.

Carrera para de andar e Zara faz o mesmo. Ao olhar pra frente, ela enxerga uma pequena casa de madeira. Se aproxima mais alguns passos e franze o cenho, tentando reconhecer se já tinha passado em frente ao lugar antes. É falho, pois nenhuma recordação volta pra sua mente.

— Quem mora aqui? — Afunda as mãos nos bolsos traseiros dos shorts.

Zara encara a amiga e só assim nota os olhos marejados da morena. Tem vontade de questionar novamente, mas agora, não sabia o que dizer.