𝟑𝟖

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A CABEÇA LATEJAVA e os olhos ardiam como o inferno pelo tanto de tempo que passou chorando

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A CABEÇA LATEJAVA e os olhos ardiam como o inferno pelo tanto de tempo que passou chorando. Aquela noite tinha sido como um limbo. Zara não dormiu em casa e fez questão de desligar seu celular para não ser incomodada por ninguém, principalmente por sua mãe. Se sentia desolada, como se os pés apenas flutuassem sobre o chão e o corpo ativado no modo avião.

O incômodo em seu pé já não era mais tão nítido, pois surpreendentemente, Rafe tinha conseguido retirar o grande caco de vidro e improvisado um curativo bom. Ainda assim, ela sabe que aquele copo estraçalhado sobre o chão não chegava perto de como seu coração ficou com a cena que presenciou. Preferia ter levado socos diretamente no estômago. Tinha certeza que a dor seria a mesma ou até mesmo, mais leve.

Também não tinha sido louca de dormir na casa dos Cameron, então, residiu em uma das inúmeras pousadas de Outer Banks. Era um lugar confortável, perfeito para quem estava apenas de passagem. Por maior que fosse o nojo irreparável que estava sentido do dinheiro da família, passava a oportunidade de ser rebelde ao ponto de levar um colchão para a praia e dormir por lá mesmo. Pensando bem, até que seria uma experiência interessante.

O dia nasceu lindo apesar das dificuldades. Zara está deitada numa rede da área de lazer enquanto observava as crianças de uma família de férias brincando na piscina. Ela sorri. No dia de ontem, ela tinha sido destroçada por pessoas do próprio sangue e convívio, mas a Ziza não tinha nada à ver com isso. Colocava a mão no fogo que ela já deveria ter acordado e perguntado onde estava sua irmã mais velha. Seu pensamento lhe provoca a necessidade de suspirar. Ela era o único detalhe importante em toda aquela situação de merda. Faria tudo para estar o mais perto possível de sua garotinha.

O sorriso fraco que estava no seu rosto aumentou ao ver a figura alta de Rafe vindo em sua direção. Ele carregava nas mãos uma pequena bandeja, onde tinha algumas frutas e sucos para o café da manhã. Ele têm sido adorável demais em todas as questões. Quando Zara deixou claro que não queria que ele a fizesse companhia naquela noite, concordou sem pestanejar e à acompanhou até a pousada. Tinha mandado mensagens de bom dia e coisas do tipo, mas ao perceber que seu celular provavelmente estava desligado, resolveu fazer uma surpresa. Ele acertou bem nessa.

— Bom dia. Achei que estaria com fome.

Zara se levantou da rede que estava deitada e andou até a pequena mesinha de madeira que havia ali perto. O loiro pôs a bandeja sobre a superfície da mesma e se aproximou da morena, selando seus lábios rapidamente. Claro que tudo isso têm sido estranho, mas ela estava aproveitando o momento. Não podia negar que sua presença fazia bem a ela.

— Dormiu bem? — Puxou uma cadeira para ela primeiro e assim que a morena se sentou, ele fez o mesmo para si mesmo, se aconchegando ao seu lado.

— Mais ou menos. — Zara leva suas mãos até os cabelos longos e os prende num coque alto. Rafe não perguntaria se ela queria falar sobre o quê aconteceu ontem, sabia que ainda não era o momento.

— Certo — Rouba uma fruta do pote, fazendo Zara olha-lo feio. — Credo, foi só uma.

— Você que compre as suas. — Sua fala faz Rafe levantar as sobrancelhas. Zara balançou os ombros em deboche e voltou à petiscar as frutinhas.

— O que pretende fazer hoje? — Ele pergunta. A morena pensa um pouco. Para falar a verdade, seu único plano pra hoje era ficar deitada na cama da pousada o dia inteiro e acabar com todos os doces do frigobar, então não era nada relevante.

— Dormir o dia todo. — Confessa. — Por que?

— Se quiser, tenho um lugar pra gente ir e se distrair. — Zara leva seus olhos até o rosto de Cameron, mordendo de seu morango e ficando em silêncio.

— Você e seus lugares misteriosos. — Rafe sorri.

— Eu sou uma caixinha de surpresas, Zee.

Definitivamente. Ele era mesmo.

Zara sorri com sua resposta, então bebe um pouco do seu suco também de laranja natural. Ela se vira, espalmando suas mãos nas próprias coxas e fixando os olhos nos dele.

— Pra onde iremos, mochileiro?

Rafe gargalha com o apelido e repousa agora suas mãos sobre as de Zara. Antes de responder, acaricia com o polegar a pele macia da mão da garota.

— O que acha de uma trilha? — Ergue o olhar pros olhos amendoados novamente. — Na floresta, sem sinal e sem ninguém pra incomodar, como sei que você quer.

Zara está surpresa. Tinha tempo que não fazia uma dessas trilhas loucas e imediatamente sua curiosidade se atiça em como poderia ser um "rolê" no meio do mato junto de Rafe. Como disse, ele é mesmo alguém muito agradável.

— Hoje? — Ele concorda. — Tem certeza, Rafe?

— Só você está ponderando. — Ele ajeita a postura e coloca as mãos em cima dos ombros, encenando que segurava uma mochila. — Estou fazendo jus ao meu apelido.

Ela pensa um pouco. Precisava mesmo de uma válvula de escape durante toda a tarde e, se estendesse até a noite, ficaria muito mais grata. Não queria preocupar ninguém, muito menos os seus amigos, muito menos ele. Já tinham passado por dor de cabeça demais e agora todos estão felizes. Ela só precisava de um momento pra respirar depois de um baque tão forte. Todo mundo precisa, de fato.

— Claro, eu adoraria. — Sorri fraco.

Rafe mantém uma expressão animada no rosto e leva sua mão até a bochecha de Zara, acariciando a mesma que ainda estava um pouco avermelhada pelas longas horas de choro. Até mesmo depois de ter sido arrancada o próprio chão, ela continuava linda como um anjo.

— Seu pé está melhor? — Leva os olhos azuis até o chinelo que a menina está calçando. Ela assente.

— Tive o melhor atendimento hospitalar possível. — Mais uma vez, o Cameron mais velho solta uma risada fraca.

Agora, Zara leva seus dedos até a mão de Rafe que segurava seu rosto e respira fundo.

— Obrigada. — Ele a olha atentamente. — Por tanto apoio e respeito nesse momento.

O loiro enrola a ponta da mecha que estava pra fora do coque no dedo, brincando com seu fio de cabelo.

— Eu faria qualquer coisa por você, você sabe.

As bochechas da morena coram, o que se torna um pouco imperceptível pelo seu rosto levemente avermelhado. Então, puxa Rafe pra um abraço, onde sentiu alguns beijos sendo despejados na pele do seu pescoço e os dedos do garoto acariciando suas costas. Tão amável.

A palavra daquela manhã tinha sido gratidão.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora