𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓

𝟐𝟑

A MANHÃ SEGUINTE do solstício é um tanto quanto exaustiva. Boa parte do tempo, Zara enrolou pra se levantar e se revirava entre os cobertores, com o objetivo de passar o dia inteiro naquela cama. A noite passada tinha sido um pesadelo. Não que ela nunca tivesse presenciado brigas, mas a forma que ela descobriu toda a fragilidade de JJ não a deixou dormir direito. Era claro que todo mundo tinha seus próprios momentos de fraqueza, mas nunca tinha visto algo daquele jeito. Uma pessoa expressar tantos sentimentos numa fração de segundos. A tensão ainda faz seu coração palpitar mais rápido. Definitivamente, não iria esquecer do que aconteceu ontem.

Batidas na porta do quarto fazem ela resmungar. Mesmo assim, a figura mais ou menos da sua altura adentra o quarto, com um blusão branco que provavelmente pertencia ao namorado e um sorriso amigável no rosto. Kiara sempre sabia como passar conforto, pra qualquer um que fosse.

— Ei, bom dia. — Ela para em frente a cama onde Zara está deitada. A morena que até então estava de costas, se vira pra ela e sorri fraco.

— Bom dia, Kie. — Boceja.

— Vim te acordar porque sei que não gosta de começar o dia sem um bom café da manhã. — O sorriso no rosto de Zara aumenta.

— Você é uma graça. — A cacheada ri, deixando sua mão cair em cima do edredom que cobre o corpo de Zara.

— Como você tá? — Não soa como curiosidade e sim preocupação.

Zara respira fundo e se senta na cama, apoiando as costas na cabeceira de madeira e apoiando os braços nos próprios joelhos. Mais uma vez, a cena da noite anterior repassa em sua cabeça. Torcia para que tivesse sido um pesadelo ruim, mesmo sabendo que seu desejo não se tornaria real.

— Um pouco em choque, ainda — Kiara senta à sua frente. — Eu sabia que ele escondia muitas coisas por trás daquelas barreiras que ele mesmo constrói, mas não imaginava que era tanto.

— Ele apenas transbordou. — Os olhos amendoados encaram Kiara. — O JJ guarda muita coisa, desde sempre. Todo dia é uma batalha pra quem tem problemas psicológicos, você entende? — Zara concorda. Ela entendia como ninguém. — Você ficou assustada?

— Não. — Ela riu, esticando as pernas. — Surpresa é a palavra certa.

— Então não teve medo do seu pico de raiva? — A dona dos cachos cruza os braços.

— Nada me põe medo, Kie. Além disso, a última coisa que ele precisa é do pensamento de que as pessoas sintam pena dele. — Zara se levanta da cama, estendendo a mão para Kiara, a ajudando à também ficar de pé.

Carrera abraça o pescoço de Zara e se direciona pra fora do quarto. Um detalhe importante é que, na noite passada, Zara não quis voltar pra casa. Disse que não estava se sentindo bem pros pais por mensagem e avisou que dormiria com Kiara. A única resposta que recebeu foi um aviso pedindo para se cuidar vindo de Victoria. O lado bom de estarem de férias num lugar tão importante, é que recebeu a liberdade que nunca conheceu. É mágico e um tanto quanto apavorante, confessa.