𝟒𝟑

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AO LEVANTAR pela manhã, mais uma vez, ela não encontrou JJ ao seu lado. Mas agora é diferente. Zara sabia que ele não tinha simplesmente sumido do mapa e varrido tudo pra debaixo do tapete. Depois de ontem, era incapaz de acreditar em qualquer coisa que não fosse à favor deles, à favor de tanto conforto e segurança. Ela ainda se sente nas nuvens.

Zara se levanta da cama e se direciona até o banheiro. A camiseta larga pertencente ao loiro batia em suas coxas. Ela bocejou, lavou seu rosto, fez suas higienes e amarrou os cabelos num coque. Logo, caminhou para fora do quarto do menino. Seu estômago ronca de fome e sabia que ele não iria se incomodar se ela fizesse algo para os dois, ou só pra ela, se ele recusasse agrados.

A nostalgia da manhã seguinte que se beijaram pela primeira vez vem em sua mente ao sentir o aroma forte de café vindo da cozinha. Zara sorri, direcionando seus passos até o cômodo e a quem esperava encontrar estava bem ali. Também como naquele dia, JJ estava apenas com uma bermuda folgada, com as costas nuas e concentrado em alguma coisa. Pelo cheiro e os ingredientes, estava preparando panquecas. Só que dessa vez, ele nota a presença da morena mais rápido. Se permite abrir um sorriso fraco pra ela.

— Bom dia. — Se vira.

Ela se aproxima ainda mais, repousando as mãos sobre o peitoral do garoto e ficando na ponta dos pés para selar seus lábios rapidamente. Não demora para perceber que além de surpreso com sua atitude, as bochechas esbranquiçadas tratam-se de corar.

— Bom dia.

Ainda era novidade para os dois que tinham oficializado algo, a diferença é que Zara tinha atitude e confiante. JJ se sente como um pré-adolescente apaixonado pela garota mais bonita do colégio. Não sabia como lidar com demonstrações demais de afeto e tropeçava nas próprias emoções intensas, mas sabia que era bom demais. Ele pode dizer que foi uma das melhores manhãs da sua vida; acordar ao lado de Zara de La Costa. Precisou se auto-beliscar para ter certeza que não estava sonhando com anjos mais uma vez.

— Panquecas? — Ela apontou com a cabeça, quebrando aquele clima tão profundo e silencioso. JJ assentiu.

— Eu só tô confuso com uma parada — Ele pega de cima da mesa um papel cortado com algumas anotações. Ao forçar a vista, ela consegue perceber que é a receita do tal doce. — Tá pedindo um quarto de xícara de chá de farinha de trigo.

— E? — Zara balançou a cabeça levemente, estranhando qual era o problema.

— Por que tem que ser de chá? Não pode ser de café, água? Eu nem tomo chá. — O loiro fez uma expressão confusa. Suas palavras provocaram uma gargalhada alta vinda da menina.

— Você pode ter um porte de jogador de futebol, mas seu cérebro é do tamanho de um grão de arroz. — Ela toma o papel da mão de JJ, que apoia o braço na bancada e dá um sorriso de lado.

— Tenho porte de jogador, Malibu? — Poderia ter focado na parte que Zara literalmente o chamou de burro, mas preferiu amaciar seu ego. Ela revira os olhos bruscamente.

— Vou te socorrer, mocinho — Balançou o papel como se estivesse se abanando. — Pega qualquer xícara aí.

— Você que manda.

JJ deu um selinho rápido da morena e foi fazer o que ela pediu. Zara acaba deixando escapar um sorriso fraco. Era incrível como com gestos tão simples, ele fazia transbordar todas as benditas emoções à flor da pele e despertava as mais diversas borboletas em sua barriga. É lindo o quão inofensivo ele parece ali, com ajuda para preparar uma panqueca e não sabendo a quantidade certa de farinha de trigo à se colher. Tão adorável, por favor.

Quando finalmente conseguem preparar as panquecas e o café, JJ se dispõe à pôr a mesa. Zara o ajuda e então logo os dois se sentam para começar à comer. Surpreendentemente, ela nunca tinha provado uma panqueca tão boa. Lembrou até mesmo das que sua mãe preparava quando era mais nova. Sua mãe. Segurou para não respirar fundo e acabar transparecendo à JJ tanta mágoa que guardou desde que chegou à praia ontem.

— O que que cê achou? — JJ pergunta se referindo as panquecas, nitidamente curioso.

Zara mastiga mais algumas vezes e torce o nariz, vendo a expressão decepcionada de Maybank.

— É... Dá pra comer. — Zomba.

O loiro cruza seus braços fortes e faz uma cara insatisfeita, que é motivo para Zara gargalhar. Ela envolve seus braços ao redor do pescoço do loiro e beija seu rosto, fazendo com que ele abaixasse a guarda aos poucos e olhasse para os olhos amendoados.

— Tá uma delícia, Maybank. — Aperta a ponta do nariz do garoto. — Pode cozinhar sempre pra mim, se quiser.

O sorriso no rosto dele aumenta, então, puxa a menina pelo pescoço para beijar sua boca lentamente. Há tanta simplicidade e calmaria que assusta JJ. Ele nunca tinha vivido em um ambiente e sentido sensações tão brutalmente serenas. Assim como Zara, ele arriscaria à dizer que também estava pisando nas nuvens, mas com a diferença de ser acompanhado com o mais bonito dos anjos.

Zara encerra o beijo contra sua própria vontade com alguns selinhos, rapidamente voltando à comer sentindo a mão de JJ pousada em sua perna. Durante a refeição, conversam sobre coisas aleatórias. JJ menciona que hoje à noite teria um jogo de futebol do seu time do coração, e que precisaria ir até o Figure 8 para assistir, já que o cut ainda estava sem energia. Rapidamente convidou a morena para se juntar à ele e Zara concordou sem pensar duas vezes. Se distrair, ainda mais com ele, seria perfeito.

O café da manhã e o clima leve da menina se interromperam com a ligação no celular dela. Ao olhar o visor do seu celular, vê que é seu pai. Pede licença à JJ que rapidamente concorda, então se direciona até uma parte mais silenciosa da casa e atende a chamada.

— Oi, pai. Bom dia.

— Bom dia, amor. Onde você está?

— Hum... na casa da Kiara. — Mente. Não gostava de esconder as coisas de Owen, mas nesse momento, não era a melhor hora para dizer que tinha dormido com um menino.

— Certo. Estou te ligando pra avisar que já estou com todos os documentos. Todas as provas possíveis para pôr na cadeira aqueles desgraçados. Iremos na delegacia ainda hoje. — Suas palavras tiraram o ar de Zara. — É agora ou nunca, Zazi.

É agora ou nunca.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora