𝟓𝟎

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OS CURTOS MINUTOS que Zara passou junto de Sarah foram responsáveis por uma certa parcela de alívio no coração da menina. Esqueceu um pouco que tudo estava desabando e ela teria de segurar em si mesma para não cair junto. Ainda sim, a realidade passa diante de seus e nunca é a melhor solução ignorar. Por isso, Zara estava sentada naquelas cadeiras velhas enquanto escutava diversas vozes e profissionais passando de um lado pro outro naquele infernal corredor de Hospital. Tantos enfermeiros, cirurgiões e técnicos correndo pra diversas direções e nenhum deles capaz de dizer qual era o estado que sua irmã e seu namorado se encontravam. Se encontrou inúmeras vezes puxando os próprios cabelos e roendo as unhas. O silêncio daqueles profissionais era ensurdecedor.

Zara tinha decidido que se isolar seria capaz de afrouxar qualquer último resquício de sanidade mental que ainda tinha. Agora, estava com a cabeça deitada no ombro de Kiara, que segurava sua mão com carinho e lhe passava segurança, mesmo que a última coisa que tivesse para transmitir era isso. O aprendizado das horas que se passaram foram que chorar demais dá dor de cabeça. Até agora, a morena engoliu todas as lágrimas que insistiam em transbordar seus olhos, na busca de se manter sã. Era difícil demais.

Feito um perfeito sinal divino, a presença fixa após alguns passos em direção aos jovens perdidos de uma figura alta com um jaleco branco fez os cinco adolescentes se levantarem das cadeiras como num reflexo. O coração de Zara pareceu parar por um segundo.

— Vocês que são responsáveis pela criança e pelo garoto resgatados do incêndio? — O homem da voz grossa questionou.

— Sim, nós somos. — Zara respondeu antes que todos. — Como eles estão, doutor?

Os olhos escuros do doutor fitaram os cinco jovens angustiados. Conseguia ver nas íris de cada um a esperança ressurgindo como fênix.

— Meu nome é Ross. Fui o responsável por operar o garoto e a doutora Lessa cuidou da menina — Ele afundou suas mãos no bolso do jaleco. — Tivemos que fazer cirurgias de emergência. Eles inalaram muita fumaça e tiveram muito contato com as chamas. Queimaduras de segundo e terceiro grau estavam espalhados por todo o corpo deles, quero dizer... — Ele hesitou um pouco.

— Diz pra mim, Ross. — Zara praticamente suplicou.

— A menina tinha queimaduras leves e não inalou tanta fumaça. Quando os encontramos, o garoto estava abraçado com ela e ela com uma camisa tapando seu nariz e boca — Suspirou. — Zayleen está bem, só precisará de mais cuidados médicos e logo poderá receber visitas.

Aquelas palavras fizeram Zara respirar fundo de alívio, deixando uma lágrima deslizar pelo seu rosto. Kiara apertou seus ombros. Ela sabia que tudo daria certo.

— E o meu namorado, doutor? — Nem tudo ainda eram flores.

Ross abaixou os olhos por um breve momento antes de começar à falar.

— Jason teve muita exposição ao fogo, por isso, teve queimaduras mais profundas espalhadas pelo corpo do quê a menina. Sem contar da quantidade de fumaça que ele inalou — À cada mínima sílaba, o peito de Zara se apertava de uma maneira avassaladora. — A cirurgia também ocorreu bem, mas ele está instável. Não temos previsão para que ele acorde ou saia da UTI.

O choque veio em dose dupla. Descobrir o nome do garoto que ela era perdidamente apaixonada apenas num momento que ele não pode sequer rir da sua reação e a consciência de que JJ foi envolvido pelo fogo tentando salvar sua irmã. Um ato heróico, puro e que fez Zara paralisar por longos minutos. Ela conseguia escutar as vozes de seus amigos chamando seu nome, os choros dos mesmos e sentia os olhos de Ross ainda em cima dela. Tudo veio rápido demais. O apagão, o baque contra o chão e mais uma vez, o coração em pedaços. Zara tinha caído mais uma vez.


𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora