𝟓𝟐

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ZARA • POINT OF VIEW

Já havia se passado algum tempo desde que Zayleen havia acordado e, dentro de alguns dias, receberia alta. A novidade foi muito bem recebida por todos nós. Choramos, nos abraçamos, comemoramos e agradecemos às forças divinas e ao universo por terem guardado tão bem a minha garotinha. Aquele inferno estava acabando e meu peito se inflava de gratidão.

Porém, JJ ainda não tinha dado um sinal. Continuava na UTI, respirando com ajuda de aparelhos e toda vez que perguntávamos sobre ele para doutor Ross, ele apenas fazia uma cara de dó e negava com a cabeça, dizendo que ainda não tinham notícias. Cada dia mais, é como se toda a esperança que eu sentia de que as coisas iriam melhorar sumissem um pouquinho. Eu sempre fui alguém que acreditou sempre no melhor, no lado bom e num possível futuro incrível. Mas, como ninguém, eu também sei como a vida pode ser traiçoeira. Eu nunca estaria preparada para perder alguém tão importante pra mim. Eu não suportaria a ideia de perder JJ.

— Zara — a voz que reconheci ser da minha melhor amiga me tirou dos meus pensamentos profundos. Levanto minha cabeça, fitando os seus olhos e sua expressão calma. — Trouxe água pra você.

Abri um sorriso fraco, pegando a garrafinha que estava em suas mãos para mim e abrindo a mesma, dando longos goles e torcendo para que o líquido lavasse minhas preocupações. Meus amigos têm sido minha base nos últimos dias. Não me lembro de um sequer que eu fiquei um dia inteiro fora desse hospital. É angustiante o pensamento que, apenas um segundo de distração, podia ser fatal para qualquer um dos meus portos seguros que estavam enterrados naquelas macas.

— Obrigada — fixei meus olhos nos de Kiara. — de verdade, por tudo.

— Somos uma só, Zara. — minha melhor amiga guiou seus dedos até os meus cabelos, fazendo um carinho gostoso entre meus fios e provocando um suspiro meu.

Uma hora se passou feito uma lesma preguiçosa. Mudei de posições naquela cadeira, me levantei para andar de um lado para o outro, troquei algumas palavras com Sarah e Kiara e recebi abraços reconfortantes de John B e Pope. Ainda assim, nenhuma notícia sobre o estado do meu namorado. Os segundos que se arrastavam só me davam mais certeza que eu estava cada vez mais perto de mais um colapso. Nem mesmo meus amigos e minha família poderiam assegurar-me se isso ocorresse.

— Jason Jacob Maybank. — o nome estremeceu meu corpo, a voz familiar congelou minha barriga e eu me levantei feito uma bala de canhão, correndo na direção de doutor Ross com o coração errando as próprias batidas. Senti a presença dos meus amigos logo atrás de mim, também extremamente curiosos para saber o quê tinha acontecido com o meu namorado, seja lá o que fosse.

— Como ele tá, doutor? — as palavras saíram da minha boca de forma trêmula.

Ross, como se fosse um tipo de tradição, escondeu as mãos dentro dos bolsos do jaleco branco e fitou o rosto de cada um presente ali. Deveria ter visto os mil e um sentimentos que reinava nos corpos dos Pogues.

— Ele reagiu bem aos nossos medicamentos e já tiramos ele da UTI — sinto meus batimentos pararem. — ele já acordou e em breve poderá receber visitas.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu senti o que conhecido de alguém em meus ombros. Minha melhor amiga rapidamente me virou, e quando nossas íris se esbarraram, não esperamos mais qualquer segundos pra nos abraçarmos e chorar loucamente. Chorar de alívio, pela paz que aliviou nossos corações e também pelo tamanho desespero que passamos nos últimos dias. Aquele abraço se tornou grupal, com a presença de Sarah, Pope e John B, chorando e sorrindo junto de nós.

Nós estávamos mais únicos do que nunca por uma única razão. JJ tinha nos unido, como ele sempre amou fazer pelos amigos.

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— Acho que vou fazer um lanche. — minha fala despertou Kiara e Sarah, que estavam largadas naquelas cadeiras de hospital e eu já havia escutado diversas vezes suas barrigas roncarem.

— Você não é louca de sair desse inferno e não me levar nas suas costas. — Kiara ameaçou, se levantando e ajeitando a touca verde que cobria metade de sua testa. — Vamos?

— Por favor. — Sarah também suplicou, me fazendo rir.

Dessa vez, nós estávamos bem mais tranquilas em questão à sair daquele estabelecimento. O quê não poderíamos mesmo é passar mais um segundo dentro daquele lugar, sentíamos que poderíamos enlouquecer. Por isso, nos levantamos rapidamente e avisamos aos meninos que logo estaríamos de volta. Nossos passos se direcionaram para fora do Hospital, onde ao sentir a brisa e o ar fresco de fora daquele ambiente que eu passei os últimos dias, acabei por respirar fundo e relaxar meus ombros. Tudo ficaria bem agora, eu sei que ficaria.

Caminhamos até o mesmo ponto de sempre; o restaurante da família Carrera. Não havia qualquer outro lugar que nos unisse mais do quê a casa de John B e aquele ambiente de tanto amor. Senti isso desde o primeiro dia que pisei naquele chão de madeira e senti o cheiro de família que o The Wreck carregava. Isso se provou nos dias posteriores, que Kie me acolheu junto de sua família e do pessoal. Eu nunca tinha me sentido tão livre.

Logo que adentramos o lugar, enxergamos o pai de Kiara atendendo alguns clientes. Seus olhos nos fitaram de forma preocupada e ele rapidamente apressou seus passos até nós, envolvendo sua menina em seus braços. Minha melhor amiga o apertou de volta, fechando seus olhos de maneira forte e que fez meu peito apertar. Eu sabia que Sarah e eu não tínhamos mais tanta preocupação em relação à nossos pais, mas Kiara sim. Não conseguia imaginar as coisas que passaram pela cabeça do senhor Carrera nos últimos dias.

— Céus, eu estava tão preocupado com você. — ele segurou o rosto da morena, que deu um sorriso fraco e tranquilizante.

— Está tudo bem agora, pai — repousou seus dedos sobre as mãos grandes dele. — JJ recebeu alta.

O sorriso aliviado no rosto do senhor Carrera foi contagioso, pois logo percebi que todos ali estavam sorrindo da mesma maneira. Já havia escutado algumas histórias de que no ano passado, os pais de Kie não simpatizavam com os meninos e abominavam a vida que a filha levava junto deles. Depois de tudo que aconteceu, eles afrouxaram a guarda e senhor Carrera foi o primeiro à ligar preocupado para Kiara querendo saber informações do estado do meu namorado após a notícia do incêndio se espalhados por todos os Outer Banks.

— Eu tô morrendo de fome. Estávamos comendo apenas uns salgados velhos do hospital e bebendo suco natural — ela apontou com sua cabeça pra nós, que sorrimos em sua direção quando seus olhos nos fitaram. — pode preparar algo pra gente, pai?

— Claro, meu amor. Posso sim. — senhor Carrera tirou suas mãos do rosto de Kiara e indicou uma mesa vazia para que nos acomodássemos, o que logo fizemos.

Pedimos uma certa quantidade de comida que ele sequer pestanejou sobre. Esteve preocupado demais com Kiara para querer se meter em sua vida naquele atual momento. Nós estávamos felizes e com o coração leve. Desde o dia que eu pisei nessa ilha, eu sabia que minha vida poderia mudar, mas não da forma que se revirou totalmente de cabeça pra baixo. Eu me sentia completa e infinitamente grata.



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reta final de fato... meu deus eu n tô pronta

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora