𝟒

16.4K 1.5K 1.3K
                                    

O SUOR ESCORRE PELA LATERAL DO ROSTO E SUA RESPIRAÇÃO ESTÁ LEVEMENTE DESCONTROLADA. Os cabelos presos permitem que seu pescoço receba o ar fresco do ar-condicionado e seus passos são rápidos um atrás do outro. Devia ser onze da manhã. Zara ainda não tinha comido nada e mesmo assim se mantinha de pé na esteira de sua própria academia. Sim, seus pais construíram uma academia particular na casa. Mais uma surpresa para a garota se encher de perguntas.

A ponta dos dedos toca no painel, aumentando a velocidade da esteira e logo a garota começa à correr mais rápido. Estava quase terminando sua série de exercícios, então, não se preocupou em exagerar na dose de adrenalina.

Fez mais alguns minutos de esteira e assim que achou que seu tempo de corrida estava bom, desligou o aparelho e desceu do mesmo. Foi questão de segundos para sentir o próprio corpo fraco, a visão escurecer e perder totalmente a força das pernas. A última coisa que sentiu quando estava com consciência foi seu próprio corpo se chocando ao chão. As palmas das mãos tentam procurar forças para se levantar ao se apoiar no carpete. É totalmente em vão.

Os ouvidos da garota zumbem ao escutar os chamados de sua mãe pelo seu nome. Sente seu corpo sendo sacudido e percebe que em pouco segundos já não está mais no chão. Victoria está te carregando no colo e corre até a sala como numa maratona. Queria ter forças para falar que isso não ajuda pois só te dá mais vontade de vomitar, mas sua prece não é atendida.

Merda. Ela sabe bem o que é isso.

— Filha? Meu amor? — Sua mãe bate levemente no seu rosto. A garota grunhe. — Jesus... Zayleen, vai na cozinha e pega um copo de água e pão pra sua irmã. Agora!

A pequena apressa seus passos até a cozinha para fazer o que sua mãe pediu. Zara mais uma vez tenta se levantar, mas logo cai sentada de volta no sofá com a visão turva. Ela odeia esses sintomas. Tem raiva da forma que se sente após fazer tanto esforço. Se sente inútil e incapaz.

Os passos curtos são escutados e a figura baixa aparece com o que a mãe pediu nas mãos. Victoria estende o pão em direção à boca da garota, que mastiga o mesmo lentamente e bebe do copo d'água. Naquele momento, o silêncio é duradouro. A cabeça da garota é tão agitada como uma boate. Sabia bem que quando recuperasse a total consciência, sua mãe iria lhe bombardear de perguntas e ganharia um belo esporro por não ter comido adequadamente.

A garota pisca algumas vezes quando termina sua pequena refeição e respira fundo aliviada. Se sentia totalmente sufocada quando esse tipo de coisa acontecia. Sim, era recorrente.

Por mais que deteste esse tipo de situação, Zara preferia que estivesse apagada novamente quando os olhos julgadores de Victoria pesam sobre ela. A língua molha os próprios lábios sabendo do interrogatório que estava lhe esperando.

— De novo, Zara? Quantas vezes eu preciso te dizer pra comer antes de fazer qualquer atividade pesada? — Os braços de sua mãe se cruzam. Zara encosta no sofá e fecha levemente os olhos.

— Por favor, mãe. Agora não.

Victoria permanece encarando a filha por mais alguns segundos e seus ombros murcham na mesma frequência que respira fundo. É óbvio que ela sabe do problema que Zara tem. Em certos momentos, tenta se convencer de que é apenas uma fase e que a ajuda o quanto pode, mas ela tem ciência como ninguém no jeito que a mente pode ser traiçoeira. Não quer de forma alguma ver sua filha se autodestruir.

O rosto angelical da garota de cabelos negros é envolvido pelas mãos macias de sua mãe. Os olhos castanhos fitam os amendoados de forma intensa. Zara pode ver proteção, carinho e muito amor bordando sua íris.

— Eu amo muito você e não posso deixar que tente se matar. — Zara puxa os lábios pra uma linha reta. — Irei contratar uma psicóloga pra te acompanhar pelos próximos meses.

𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐄𝐒, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸. ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora