❝ 𝗢𝗨𝗧𝗘𝗥 𝗕𝗔𝗡𝗞𝗦 ❞
Tudo mudou da água pro vinho. A pele arrepiada, a cabeça cheia e a boca seca. Com seus dois melhores amigos mortos, os Pogues nunca estiveram tão unidos. Só que, dessa vez, não era mais a mesma coisa. JJ não confia em ning...
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A MÚSICA ALTA, o ar condicionado gelando todo o quarto e seus cabelos molhados enrolados na toalha ajudam seu humor à melhorar naquele puro instante de concentração. Zara está em frente ao espelho enquanto aplica uma máscara de argila no rosto. Na embalagem, dizia alguma coisa sobre clarear a pele e retirar alguns cravinhos chatos. Então, como estava afundando no mais puro tédio daquela tarde, ela resolveu cuidar de si mesma. É sempre uma ótima saída guardar bem sua autoestima, afinal.
Assim que termina de passar o produto no rosto, aguarda alguns minutos e pega seu celular em mãos. Tinha notificações de suas redes sociais e mensagens de Rafe. Zara sorri. Desde o dia que saíram, ele fazia questão de manter proximidade. Isso era bom demais. Não suportava homens que fingiam desinteresse apenas para parecer desapegado. Além de ser uma atitude infantil, perde qualquer encanto possível. Pra ela, atitudes sempre contaram mais do que palavras ou qualquer físico.
Ela franze a testa confusa ao notar que havia mais de cinco chamadas perdidas de Kiara. Desde que entrou de férias, focou em aproveitar mais a realidade e não perder tanto tempo com redes sociais. Outer Banks é o paraíso na terra e esse fato se comprovava cada dia mais. Um aperto no coração atinge a garota ao lembrar daquele fato. Ela não mora na ilha. Portanto, dentro de alguns meses, estaria de volta pra sua casa e provavelmente não retornaria tão cedo. Não gosta nem de pensar nisso. É como se em pouquíssimo tempo, ela tivesse tido a sensação de estar em casa, coisa que nunca sentiu em tanto tempo que morou em Malibu.
Antes que pudesse criar mais alguma ideia depreciativa de sua futura ida da ilha, a pequena figura aparece na porta do seu quarto com os olhinhos fixos na irmã mais velha. Zara deixa seu celular de lado e se aproxima de Zayleen.
— Oi, meu amor.
— A tia Kiki tá subindo — Suas mãozinhas põem as mechas grossas atrás das orelhas. — Ela parece nervosa. Aconteceu alguma coisa?
Zara morde os lábios inferiores e nega com a cabeça. É claro que tinha acontecido alguma coisa, mas iriam resolver naquele quarto e sem a presença de mais ninguém. A questão era o quê tinha rolado para que ela fosse até a casa da garota para poder falar pessoalmente.
Imediatamente, a luz em cima de sua cabeça acendeu. Ela havia descoberto de seu encontro com Rafe? Suas mãos começam à suar. Pretendia contar, afinal, não gostava de esconder nada de Kiara. Nunca foram disso. Quem tinha sido o filho da puta que descobriu isso primeiro? Céus... São tantas paranóias que sente sua testa latejar.
Então, depois de subir aqueles degraus, Kiara aparece em frente a porta de seu quarto. Ela tremia dos pés a cabeça e seu rosto estava levemente inchado. Isso assusta Zara. O que diabos tinha acontecido?
— Ziza — Olha pra garotinha. — Pega um copo de água com açúcar pra tia Kiara, por favor?
A menina assente, passando ao lado de Kiara e segurando levemente em sua mão. A morena força um sorriso que desaparece rapidamente quando Zayleen já não está mais sob sua vista. Ela adentra o quarto de Zara como um furacão e enquanto a melhor amiga tranca a porta do cômodo, a dona do cabelo cacheado se senta na cama, com a respiração ofegante. Ela estava pálida.
— Meu Deus do céu, Kiara. Parece que viu um fantasma. — Puxa um banco de madeira que tinha num canto de seu quarto e se senta na frente da amiga, pegando nas mãos da mesma. — O que aconteceu?
A morena funga, tentando controlar sua respiração e aperta ainda mais as mãos da melhor amiga. Mesmo nervosa com a situação, Zara tenta passar todo o conforto que nem ela mesmo tinha para Kiara. Após alguns minutos com Carrera respirando pelo nariz e soltando pela boca, ela logo puxa as mãos trêmulas dos dedos de Zara e tateia o lençol da cama, parecendo procurar algo.
Zara franze as sobrancelhas vendo que Kiara puxa um jornal. Então, ela ergue o mesmo, mostrando a manchete de uma notícia que tinha saído de manhã.
— Dois jovens resgatados num barco naufragado no oceano. — Bate com o indicador sobre a folha. — Você tem noção que porra é essa?
de La Costa pega o jornal nas mãos, passando os olhos pelas minúsculas letras que anunciavam a notícia e não consegue achar nada de muito suspeito, já que no meio daquele texto, estava escrito que os jovens não quiseram expor sua identidade publicamente.
— Eu não entendi, Kie — Levanta os olhos pra garota nervosa. — Não há nada de comprometedor aqui.
— Val e Vlad, porra! — Arranca o papel da mão de Zara. — O barco deles naufragou ano passado, durante uma tempestade enquanto estavam indo pro sul. Quem estava tentando fugir pelos mares desses filhos da puta? A porra do John B e da Sarah! — Ela gritava. — Val e Vlad foram os nomes que eles usaram quando foram para Tannyhill. O John B escreveu um bilhete pra Sarah e pediu pro JJ entregar com o nome de Vlad!
Parecia que a cada palavra, a força de Kiara ia sumindo. As lágrimas dolorosas escorriam pelo rosto, a garganta arranhava pela veracidade dos gritos e num só piscar de olhos, suas pernas fraquejaram. Kiara cai de joelhos, como se seu chão tivesse desabado junto com as poucas forças que ela reunia desde aquele maldito dia, debaixo da tenda policial. Ela não sabia mais o que fazer. Seus amigos estavam vivos. Eles não tinham morrido, nada aconteceu.
O peito de Zara rasga pela dor de sua amiga, portanto, não fica parada em seu lugar. Se direciona até Kiara de joelhos sobre o chão do seu quarto e a abraça, mais uma vez, deixando ela se desmanchar em seu ombro. Carrera aperta os braços fortemente em volta do corpo da amiga. Aquela notícia foi um furacão. Uma coisa tão agressiva e tão tranquilizante ao mesmo tempo que ela não sabia lidar: Nenhuma das duas, na verdade. Mesmo que nunca tivesse tido qualquer contato com os dois jovens, ela sentia a dor dos seus amigos todos os dias. Principalmente dele.
John Booker Routledge e Sarah Cameron estavam vivos.
