Capítulo 25 - Linha perpendicular do tempo

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Capítulo 25 - Linha perpendicular do tempo

     Wendy adentrou no aposento de Zinim para ajudar a menina a se arrumar. Estava segurando pela ponta dos dedos um vestido lindo laranja. Não era a cor favorita da garota, mas ajudava a disfarçar a sujeira em razão de seus modos mais adequados às florestas do que à corte. Mesmo com tanto treinamento, a menina ainda preferia manter seu estilo aventureiro. Ela apenas fingia seguir as regras.

     Zinim, ao avistar Wendy, afundou e esfregou as mãos sobre o saiote que estava vestindo, como se as limpasse no tecido. Seu olhar circulava pelo quarto, indicando que ela estava escondendo algo.

     Wendy se aproximou da menina e depositou o vestido sobre a cama.

- Vou te ajudar a se lavar.

- Eu já me lavei.

- Então não se lavou direito...

     A menina tentou segurar, mas foi forte demais. Ela simplesmente abriu a boca e compartilhou com o mundo um arroto libertador.

- Zinim!

- Eu.

     Wendy somou o arroto, com o saiote sujo, a cama com farelos, e o canto dos lábios da menina cheios de açúcar. Tudo isso indicava, segundo uma infalível lógica matemática, que a garota havia comido muita sobremesa, antes mesmo da comemoração do aniversário da rainha Joana.

- Você não fez isso...

- O que? – Zinim perguntou, e inocentemente lambeu um canto da boca.

     Wendy puxou as cobertas, fazendo com que caíssem ao chão. Então caminhou até o baú e não encontrou nada. Em seguida, foi ao gaveteiro, e abriu as gavetas, uma por uma. Ela examinou o quarto com os olhos, em busca da sobremesa.

     Zinim parecia apreensiva, paralisada sobre o travesseiro.

     Wendy, com a mão na cintura, acenou com a cabeça, certa de que iria encontrar a prova do crime. Com passos suaves e curvos, ela fez uma dancinha de superioridade diante da cama de Zinim, girando cento e oitenta graus para a esquera. Em três segundos, ficou de joelhos, lançando a coberta para cima. E lá estava a bandeja com os farelos, bem debaixo da cama.

- Há! Eu sabia! Você não vai ter espaço nessa barriga pequena para comer todas as coisas gostosas que fizeram para o aniversário da rainha. E ainda vai passar mal!

- Tanto faz, o que eu comi era o melhor bolo de todos.

- Duvido! Hoje vai ter um bolo, e aposto que...

- E todos terão que comer delicadamente um pedaço minúsculo, porque é elegante ficar com fome diante de muita comida gostosa. Tenho que ir de barriga cheia para essas festas da corte. E ainda vão me colocar para dormir cedo. Eu não posso dançar, não posso correr, não posso comer e nem falar nada. Então, já estou preparada. - Zinim alisou a barriga.

O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final felizOnde histórias criam vida. Descubra agora