Capítulo 6 – Ao ataque
A rainha dos fadens se preparou com um traje bordô, elegante e leve. Repassava em sua mente tudo o que deveria falar, bem como tentava prever as possíveis perguntas e até mesmo as respostas do rei Tristan.
Esperava que sua decisão fosse o melhor para os fadens e para si. Queria apenas verificar se Tristan pretendia concretizar o casamento, ou apenas se vingar dela. Ele não era do tipo que perdoava com facilidade e os dois já tinham um noivado rompido. Solange sabia que era o segundo relacionamento polêmico do rei, e uma vez que dissesse sim, não poderia voltar atrás. Sua visita seria a fim de sondá-lo quanto a suas intenções, e refletir se conseguiria viver em outro reino, com um homem pouco simpático. De qualquer forma, se a proposta de união fosse séria e viável, ela já tinha planejado como pressionar o rei e firmar o noivado, mostrando que como esposa, também seria rainha, com autoridade e opiniões firmes. Ou Tristan haveria de aceitar suas condições, ou a expulsaria do reino de uma vez, a ela e a pequena comitiva que traria ao reino D'água, numa surpresa muito bem planejada.
A rainha dos fadens não era impedida de entrar no reino dos tritões, então sua carruagem rodava até o palácio sem dificuldades. Também tinha acesso à entrada do palácio. Apenas aguardava o anúncio oficial para poder se encontrar com o rei.
Tristan, alheio aos planos de Solange, estava finalizando a reunião com o conselho, discutindo a respeito de todas as vantagens e desvantagens acerca da aliança oferecida pelas ninfas e pelos piratas. Era arriscado se aliar a inimigos, expor táticas de guerra e confiar seus homens sob responsabilidade de desconhecidos. Era necessário que os povos não se misturassem, e apenas contassem com a ajuda na hora do ataque, bem como no fornecimento de pó neutralizador de dons. Também precisavam de alguma garantia, de modo que o conselho sugeriu que ao menos Simbad ficasse retido no reino, ainda mais sendo tritão e sobrinho do guardião. O rei detestou a ideia, mas analisou que os riscos cairiam sobre a vida de Simbad, que arcaria com a responsabilidade de qualquer traição. Sendo assim, o rapaz acabaria sendo punido pelos erros dos seus. Tal hipótese persuadiu o rei a concordar com essa condição no tratado que redigia com os conselheiros.
Simbad e Rubi, por sua vez, foram guiados pela própria princesa Ariel, que apresentava o reino de forma gentil. Não era uma visita a todos os cantos, mas apenas a locais que não fossem estratégicos ou importantes. Sendo assim, a visita não teve como ser longa.
A sereia estava retornando com os visitantes ao palácio, e evitando contato visual com o pirata o máximo possível. Rubi Hood, que era muito perspicaz, percebeu que havia algo de estranho no silêncio daqueles dois. Era um silêncio que falava muito, como quem está pensando em mil coisas para dizer, enquanto controla a boca para não deixar uma palavra sequer escapar.
Rubi pensou que talvez a princesa fosse a ladra do chapéu. A ninfa esperava, contudo, que não fosse, porque um relacionamento entre aqueles dois seria nocivo aos planos de aliança deles. Era um risco perante Tristan que não estava disposta a correr. Instintivamente, apoiou o braço sobre o ombro de Simbad, tentando afastar a sereia, insinuando intimidade entre os dois. Impetuosa, ela provocou:
- Para quem vive no mar, com liberdade e sem muros, é impossível permanecer no seu reino, por mais bonito que seja. A reunião do seu pai com o conselho já terminou? Porque temos que voltar para os nossos. Estão nos aguardando.
Ariel não sabia se olhava para aquele braço sobre Simbad ou para o próprio pirata, que parecia encabulado. A sereia lançou um olhar firme e sério.
- Por aqui, assuntos delicados não são decididos por impulso. A intenção do rei não é fazê-los esperar. Vocês terão sua resposta, por enquanto, aceitem nossa hospitalidade. Até porque como ninfa, a senhora vai definhar se permanecer dentro de nossa barreira, mesmo sendo uma rainha. Quanto ao capitão Simbad, esse surpreendentemente está com os seus. Ele é um tritão, afinal.
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O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final feliz
FantasíaAssim que Aurora, a grande guardiã, fechou seus olhos, quem pareceu viver um sonho foi Malévola, a mais terrível dentre as terríveis. A rainha das trevas finalmente iniciou sua guerra, mas nem tudo sairá como o planejado. Ela terá que lidar com um v...