Capítulo 7 - No topo da montanha

2.1K 223 115
                                    


Capítulo 7 – No topo da montanha

       Simbad não conseguia dormir, pensando no que poderia estar escrito no bilhete de Ruiva. Ela lhe devia explicações e um chapéu. A princesa tinha escondido sua aventura com os piratas, mas isso não significava que havia se esquecido deles.

      O capitão de Jolly Roger pensava nas possibilidades de se vingar do rei, valendo-se da posição de cavalheiro Night, mas a possibilidade de ferir Ariel o incomodava, ainda que ela fosse uma inimiga. Ela parecia feliz entre os piratas, como ele era. Talvez conseguisse entendê-la no tempo em que haveriam de passar juntos. Entender o motivo dela estar vestida de noiva e inconsciente nas águas. Ela parecia querer viver o que suas mães viveram, e buscava um caminho de união. Contudo, ele não podia ignorar o sangue dela. Era filha do pior rei de todos.

       Irrequieto, ele quis caminhar, mas não sabia se seria barrado no corredor. Ao abrir a porta deu de cara com não menos que dez guardas armados que o vigiavam. Chegava a se sentir enaltecido com tamanho reforço conta ele.

- Aonde pensa que vai? – um deles quis saber.

- Caminhar até aquela abertura para respirar ar puro. Estou sufocado aqui.

- O senhor Night não tem autorização para isso. Por favor, volte – outro guarda requereu.

      Simbad revirou os olhos, sentindo-se um prisioneiro com regalias de uma alimentação variada. Para um pirata havia pouca coisa pior do que viver enclausurado.

- Deixem-no. Irei acompanha-lo até a varanda, e retornarei com ele. Vocês podem nos acompanhar a distância.

      Como as ordens vieram da princesa Ariel, os gaurdas acataram. Ao contrário de Simbad, que encontrava-se com roupas largas e confortáveis, Ariel mantinha-se com seu vestido verde, como se fosse um horário plausível para caminhadas.

      Ela foi a frente, e Simbad caminhou respeitando a distância de três metros que ela impôs delicadamente com o olhar. Assim que seus olhos puderam contemplar as estrelas, o pirata se sentiu mais tranquilo.

- Sua amiga rasgou meu bilhete. Creio que não seja apropriado escrever para você – ela disse sem olhar para Simbad.

      Ele tentou se aproximar, mas Ruiva o deteve.

- Os guardas vão reportar ao meu pai isso. Não se aproxime. Terá que falar comigo de dia, sem me olhar nos olhos, em lugares públicos cheios de tritões, como nós...

- Não me provoque. Nasci pirata e vou morrer pirata.

- Eu esperava mudar vocês. Não conte a ninguém sobre minha estadia no Jolly Roger, principalmente a sua amiga ninfa.

- Ela não é minha amiga.

- Não estou nem aí para o que ela é sua!

- Fale baixo... O que escreveu no bilhete?

- Nada importante. Ia marcar um encontro contigo num local adequado, mas agora ela sabe onde fica, e deixou de ser oportuno. Você não vai ferir meu pai... Precisamos dele nesse momento. O que fizer irá afetar a todo um povo. Sei que o odeia, e talvez me odeie. Mas eu não odeio você e não lamento pelo que vivi no Jolly Roger. Aprendi muito. Cresci muito.

     Simbad não soube o que responder. Havia pensado em muitas coisas para dizer, em muitas críticas e ofensas, mas nada disso combinava com o que estava sentindo.

- Você... me odeia por ser filha dele? Agora que sabe quem eu sou?

      Foi a única vez em que ela se virou para a direita e buscou pelos olhos de Simbad, esperando uma resposta sincera.

O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final felizOnde histórias criam vida. Descubra agora