Capítulo 13 - O sapo, o pássaro e a roca
Victor observou o sol nascer, tentando aplacar sua falta de sono. A noite em claro havia agravado suas olheiras carregadas pelo excesso de choro. Ele se encontrava em um estado de miserabilidade total, pois não conseguia conjecturar onde seus filhos estariam. E teria que ser muito habilidoso para dialogar com seu cunhado. Henrique não era fácil, fosse fera ou homem.
O caçador já tinha um discurso pronto em sua mente para persuadir o fadem, visando apelar para o dever com os humanos, e na dívida que tinha com ele por ter evitado um ataque ao castelo de Artur.
O plano só seria bem-sucedido se Cinderela não ousasse entrar no local e implorar por ajuda. Henrique não iria gostar que a princesa o visse com aquela aparência.
Victor sabia que Cindia era ainda mais teimosa que Branca e Aurora juntas, então não teve o menor pudor em despejar extrato de valeriana recém-colhida numa caneca de leite morno, que entregou nas mãos da amiga aflita. Em questão de minutos, a princesa agitada apresentou comportamento sonolento, sedada.
Assim que Cindia fechou os olhos, deitando sobre a mesa de refeição, Victor se prontificou a sair ao encontro de Henrique. Merlim era o único acordado, além dele. O anão observou a mesa posta, e a comida intocada.
- Esteja por perto quando ela acordar, por favor...
O anão assentiu e se serviu de pão, ouvindo o ranger da porta que se fechava.
***
Com as mãos suadas, e uma dor entre o pescoço e o ombro direito pela noite mal dormida, a rainha do Reino Encantado caminhou por todo o palácio, observando cada cômodo, cada porta e cada detalhe. Estaria deixando tudo para trás em busca do socorro de seu povo, e cumprindo com seu dever de governante.
Ela havia deixado o conselho informado das vantagens do casamento com o rei Tristan em razão da proximidade da guerra contra as Trevas, preparando uma transição mais tranquila para sua neta. Dois reinos haviam sido tomados, e ela presenciou com desgosto a tomada do mais recente. Não dava mais para protelar seu casamento, nem sua renúncia prévia.
Sob a marquise do palácio, a poderosa fada pôde contemplar muitos do seu povo à espera de seu anúncio. Eli havia reunido pessoas de diferentes atividades laborais, e de diferentes regiões do reino, para que a notícia de espalhasse rapidamente.
O rosto amistoso de sua Estela estava em evidência, trajando vestes iguais às da rainha, para mostrar aos fadens que daria continuidade aos feitos de Solange. A nobreza se encontrava assentada nas laterais, observando atentamente. Ela entendia a ausência dos demais monarcas.
Tristan não compareceu, mas enviou a princesa Ariel como sua representante. Solange não queria admitir, porém se sentia aliviada em não ter que renunciar enquanto o rei assistia. Considerava mais digno.
Sem mais delongas, ela arrastou seu vestido amarelo perolado até a marquise e contemplou o povo. Nesse momento, Eli, que se encontrava entre os fadens, montado em um cavalo, solicitou silêncio.
Solange suspirou e segurou com ambas as mãos contra a marquise, prendendo o choro. Não sabia se sentia alívio ou desespero. Sempre seguiu uma rotina que jamais variava, mas a partir de sua renúncia, sua vida seria totalmente imprevisível. Ela estava com medo por ela, pelo reino e pela neta.
- Prezados fadens do Reino Encantado... – ela conseguiu dizer, com uma voz tímida que não lhe era característica. – Eu os convoquei aqui hoje porque tenho um anúncio importante a fazer. Sabem que eu prezo por essa terra e por cada cidadão que nela habita. Sabem que eu daria a minha vida pelo reino e que a memória do meu marido se manteve honrada. O tempo me cobrou em esforço para me dar sabedoria, de modo que minhas decisões são acertadas, e tenho a confiança de vocês para o meu sim e o meu não. Nesse momento, o povo precisa de liderança, mas com vigor e ousadia. E sei que há alguém que pode oferecer a vocês isso. Portanto, tendo a certeza de que o melhor para os fadens será feito hoje, é com clareza e alegria que eu, rainha Solange Bel'alma Dornelles, abdico em favor da escolhida pelo cetro!
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O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final feliz
FantasíaAssim que Aurora, a grande guardiã, fechou seus olhos, quem pareceu viver um sonho foi Malévola, a mais terrível dentre as terríveis. A rainha das trevas finalmente iniciou sua guerra, mas nem tudo sairá como o planejado. Ela terá que lidar com um v...