CAPÍTULO 35 – Boatos ferem, histórias curam
A pequena sereia se manteve alerta dentro da carruagem. A essa altura, tanto o Reino D'água quanto o Reino Encantado estavam cientes de que ela detinha consigo o tridente do rei. Ariel confiava nas loucuras de seu pai, e sabia que ele jamais colocaria sua herdeira e o tridente em risco.
Quando a carruagem parou no meio do trajeto, Ariel não se esgueirou pela janela nem questionou sobre o ocorrido. Fez exatamente como foi instruída. Já havia selado as portas com o tridente, o protegendo com o mesmo poder dos muros de proteção dos reinos. Sabia que seria como estar dentro de um minúsculo reino, de uma pessoa só. O problema seria que o reino não seria fixo no solo. Assim, ciente de que a carruagem poderia rodopiar, fixou as rodas com raízes do solo, mantendo-se no local. O barulho de espadas e berros ao redor partia seu coração. Sabia que os guardas estavam sendo atacados e queria muitíssimo ajudar na luta. Contudo, seu pai havia ordenado expressamente que não saísse da carruagem, pois jamais poderia perder o tridente para os bruxos. As consequências seriam piores. Além disso, os guardas eram militares treinados, e cabia a eles a defesa do tridente e daquela carruagem.
Ela conseguia ouvir as flechas e adagas contra a madeira, e o poder que repelia as armas contra a carruagem. O vapor ao redor indicava que os tritões estavam lutando com água, apagando as flechas flamejantes. Havia ruídos de espadas e berros. Não demoraria até tentarem abrir a porta e perceberem que não era possível acessar o interior da carruagem. Ninguém conseguiria entrar. Então fariam de tudo para que ela saísse.
Com o silêncio ao redor, e o barulho contra a porta, ela chorou. Não era medo, era lamento pelos guardas. Deviam estar inconscientes, e muito feridos. Ela conseguiu sentir os ataques contra as rodas. Em pouco tempo iriam virar a carruagem. Ariel permaneceu acionando o tridente, iluminado por dentro da carruagem. Ela ordenou água ao redor e continuou selando o interior, de modo a encher de água, sem vazar por nenhuma das brechas. Suas pernas viraram uma cauda e seu pescoço obteve guelras. Conforme giravam a carruagem, ela conseguia permanecer ilesa do lado de dentro, nadando naquele minúsculo aquário.
- Tenta abrir agora!
- Não dá, queima a mão nessa bosta! É magia! Não abre, não arranha, só vira!
- Continua virando, vê se ela bate a cabeça e desmaia! Vai parar.
Era uma conversa chocante, mas ajudou Ariel a continuar nadando enquanto giravam a carruagem de um lado para o outro como se fosse um cubo de brinquedo.
- A lagostim de coroa deve estar intacta com o garfo mágico dela! Pelo visto não se importa com todos que morreram aqui. Só que não dá para morar aí, não, princesa. Se não quer sair, vamos levar a carruagem. Amarra a corda!
Ariel sentiu o solo da natureza e deslizou com força os caules espinhentos contra a carruagem. Infelizmente, não conseguia enxergar, para mirar corretamente, então deslizou até sentir as cordas, de modo a puxá-las.
- Ela controla plantas, ou tem outra pessoa aqui?
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O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final feliz
FantasyAssim que Aurora, a grande guardiã, fechou seus olhos, quem pareceu viver um sonho foi Malévola, a mais terrível dentre as terríveis. A rainha das trevas finalmente iniciou sua guerra, mas nem tudo sairá como o planejado. Ela terá que lidar com um v...