Capítulo 2 – Nada é o que parece
Dentro do palácio das Trevas, no grande salão, o rei chapeleiro se encontrava sentado em seu trono, dispondo das cartas do baralho de copas para todos os súditos, que estavam enfileirados, cada qual aguardando sua vez. Os bruxos pareciam admirados e curiosos, criando diversas teorias em suas cabecinhas perigosas em razão da mudança das mudanças no reinado.
Malévola havia considerado suspeito o pedido do rei Caleb para se arrumar com um vestido que denotasse ostentação ao máximo, vermelho e dourado. Em contraste, sua tiara era a mais simples de sua vasta coleção, e havia sido escolhida a dedo pelo rei.
A mais manipuladora dentre as manipuladoras sentia-se como uma boneca, com um idiota a vestindo e a controlando. Ainda assim, não se importava de jogar o jogo dele. Estava atenta às regras que Caleb estabeleceria aos poucos, e daria um jeito de vencer com elas outra vez. De fato, o infeliz era mais poderoso do que ela, mas havia uma fraqueza nele: o apreço por jogos arriscados. Ele tinha paixão por aventura, perigo e incertezas. O prazer dele estava nos imprevistos, pois não era do tipo que sabia o que era medo. O chapeleiro era louco por emoções fortes.
Malévola ponderou que poderia usar o rei a seu favor, deixá-lo acreditar que estava no controle, e quando menos esperasse, o faria ser sua marionete. Como o chapeleiro era parecido com ela e raciocinava de forma vil, era possível descobrir as cartas dele, uma por uma. Levaria tempo, mas todas as cobras são pacientes e astutas. E o chapeleiro seria de grande utilidade na tomada dos reinos. A bruxa, ao observar o rei de rabo de olho, sorriu em pensar que se livraria dele na hora certa, a saber, quando estivesse distraído, e já tivesse servido ao seu propósito.A antiga rainha se encontrava num trono abaixo do rei, encarando com desdém cada bruxo que vinha tirar uma nova carta.
Em pé, muito bem vestido, estava Edgar Stone, como testemunha daquele jogo do qual nada sabia. O cão humano da mais perspicaz dentre as perspicazes permanecia calado, seguindo as ordens de sua rainha, a única que para ele era legítima. Ela havia, ao menos, explicado a Stone que o chapeleiro parecia querer manter as aparências de poderio, como se jamais tivesse sido destronado, pois ninguém sabia o que havia acontecido com ele ao certo desde o seu desaparecimento. Por isso, era importante que os bruxos vissem que ele estava acima das autoridades anteriores.
A bruxa havia pedido a Edgar para se comportar, pois latidos e mordidas só haveriam de ocorrer quando ela decidisse. Malévola ordenara que ele fosse um bom garoto, e ele haveria de obedecer.
Edgar e Malévola contemplaram bruxos fazendo drama por conta de ases, tornando-se serviçais, e outros celebrando as cartas de números 9 e 10. A bruxa chegou a bocejar de tédio, de forma escancarada, para que Caleb visse. Ele a ignorou, o que estava se tornando um hábito, mas quanto mais o rei agia como o tal, mais a bruxa se empertigava. Ela era astuta em elogiar quem alcançava as posições elevadas, e coincidentemente estratégicas.
- Parabéns pelo 10 de copas. A posição de tesoureiro é importante e cheia de benefícios – ela disse com falsidade.
O novo rei a encarou e assentiu com a cabeça, como se concordasse com ela. Inusitadamente, ele dispensou o último bruxo da fila de reclassificação logo após o mesmo ter conquistado uma nova posição, mantendo apenas três bruxos, um de cartas A, outro de 5 e de 10 como testemunhas, e chamou o único humano do reino:
- Senhor Ston, sente-se. É sua vez de pegar uma carta do baralho.
Malévola e Edgar entreolharam-se, e o homem nada pôde fazer além de se sentar diante do chapeleiro. O humano viu as cartas serem muito bem embaralhadas. As mesmas foram dispostas à mesa, e o rei optou por não descartar nenhuma posição.
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O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final feliz
FantasyAssim que Aurora, a grande guardiã, fechou seus olhos, quem pareceu viver um sonho foi Malévola, a mais terrível dentre as terríveis. A rainha das trevas finalmente iniciou sua guerra, mas nem tudo sairá como o planejado. Ela terá que lidar com um v...