Capítulo 1 - O Chapeleiro dá as cartas

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Capítulo 1 – O Chapeleiro dá as cartas

         A maldade não é inimiga apenas da bondade. Há rivalidade entre os maus, entre os gananciosos e egoístas. As disputas violentas por poder haveriam de começar, pondo à prova inimizades antigas. Quando uma rainha usurpadora e um rei louco se encontram, a única garantia é o caos.

         Os olhos verdes cintilantes e alucinados do chapeleiro brilhavam como os de uma cobra prestes a dar o bote. O antigo rei das trevas estava ansioso para se vingar. Observou as terras conversadoras circuladas por chamas, e os animais sobrevoando o local. A recepção ambientada em guerra e destruição o alegrou.

- Que cena épica – ele aplaudiu. - Como você não pretende tomar o local para mim nesse momento, não vejo problemas em me acompanhar ao meu reino.

         Malévola encarou seu inimigo com desdém. Não aceitaria ordens.

- Você não tem reino e nem trono.

- Mas que louca! Não estou te pedindo, estou te avisando que vamos para as minhas terras. Preciso ser ainda mais claro?

          O chapeleiro estendeu seu chapéu contra a bruxa, que tentou se defender por meio de uma esfera que serviria de barreira. O bruxo havia aproveitado os anos no País dos Horrores para perambular no tempo e conhecer alguns hábitos da bruxa. Foi sagaz ao mirar nos pés dela, pois Malévola instintivamente protegia a cabeça antes.

          Enquanto ela descia com sua esfera protetora, indo da cabeça aos pés, ele subia com sua fumaça entorpecente, de modo que a bruxa não conseguiu se blindar a tempo e desfaleceu sobre os braços branquelos de seu inimigo. Ele era forte o suficiente para carregá-la no colo tal qual uma dama, mas não faria isso. A jogou sobre os ombros como se fosse uma presa abatida, garantindo-lhe indignidade, e tratou de seguir rumo ao seu palácio.

***

          O antigo rei das trevas chegou diante do seu território e parou por um momento, contemplando seu lar cinzento e apavorante. Ele sorriu, se espreguiçou, e jogou a bruxa com força contra o chão, mas ela evitou a queda com rapidez, se transportando a alguns metros do reino adentro.

- Que louca! Já acordou faz tanto tempo, por que permaneceu sendo carregada?

- Seu linguajar é uma ofensa aos nobres. É por isso que perdeu a coroa para mim, te falta classe.

- De que te adianta classe, se não é herdeira de nada? Nós dois sabemos que vou tomar minhas terras de volta.

         Malévola desatou a se cercar com seu exército, transportando os gigantes que se encontravam no palácio para o local onde estava. Dessa vez, criou uma esfera de defesa bem maior, de modo a proteger suas terras, e passou a caminhar em direção ao vilarejo.

         A bruxa reparou que todos do seu povo estavam confinados em suas residências, o que era estranho, mesmo sendo de noite. Ela se virou na direção do chapeleiro, que a observava ao longe, ainda na entrada do reino, de braços cruzados e cabeça inclinada, com aqueles olhos verdes cintilantes.

- Sabe que não tem como passar pelo meu bloqueio – ela berrou, sentindo-se deselegante.

- É claro que eu sei disso! Também sei que você é resistente ao entorpecente do meu chapéu, que te paralisa por no máximo seis minutos. Quando sua respiração acelerou, eu percebi que estava acordada, sua louca! Eu só queria saber a duração do efeito mesmo, então muito obrigado por facilitar para mim. Só tenho uma pergunta... Vai manter sua esfera ao redor do reino das Trevas pelo resto da vida? Comigo aqui você não é rainha, e sem seu anel de Alessia vai ficar difícil usar muito poder sem esgotá-lo.

O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final felizOnde histórias criam vida. Descubra agora