Capítulo 27 – Perigosa mente livre
Ao todo, foram seis armas brancas que Caleb encontrou escondidas nas vestes da esposa. E isso o divertiu. Ele gostava do quanto ela era perigosa. Em meio a muito vinho e provocações bobas, ela também o havia desarmado. Duas navalhas e uma sacolinha de pó neutralizador de dons. Cada mesa de cabeceira comportava os pertences assassinos do casal de cretinos. Um exibia ao outro suas armas como se fossem boas cartas em um jogo de altas apostas.
Apesar de Caleb ser tão magro e pálido, supreendentemente conservava força o suficiente para erguer a esposa no colo, com as pernas envoltas contra seu quadril. Ela tinha cheiro de flores, acrescidas de rum e frutas cítricas. Era um aroma suculento, quase um sabor.
Malévola, curiosa e sem receios, venceu a trilha de botões do colete do marido. Queria mesmo saber o que esperar dele. Suas expectativas não eram altas, mas foram atendidas. Ele não era musculoso, mas tinha seu charme, com a pele quente e cheiro de madeira e ervas. E estava cheio de hematomas pelo tórax e braços, o que a deixou mais instigada. Com leves toques, ele já sentia dor, o que era muito divertido. Mas Caleb não parecia se importar. Como um bom apreciador de vinhos, o rei Chapeleiro tomou do seu cálice precioso, curvilíneo e exuberante, consumando o casamento como se a noite tivesse vinte e quatro horas, e o tempo fosse sua posse.
A mais sedutora dentre as sedutoras agora era sua esposa em todos os aspectos, e ele havia alcançado a elevada posição de um amante. Isso era uma vitória grandiosa. O rei sequer faria questão ser considerado também um marido. Apenas garantiria ser o único amante.
***
Um par de olhos castanhos se abriu contra o impetuoso sono da noite. Um sorriso ousado em lábios púrpura acompanhou toda aquela agitação facial, que parecia em descompasso com o corpo curvilíneo que permanecia relaxado sobre a cama. Malévola, ainda deitada, se virou para o marido, que dormia ao seu lado. Ela testou a pulsação dele, num falso gesto de carinho com o polegar. Havia inserido uma dose excessiva de sonífero na bebida de Caleb. Ela mesma teve que ingerir um pouco para passar credibilidade. Precisava afastar o rei por alguns minutos para agir em liberdade e descobrir seus segredos.
Seu anseio por interrogar os prisioneiros afugentava a fadiga, e estava certa de que não teria outra oportunidade além daquela.
A mais sádica dentre as sádicas observou as costas de Caleb, cheias de hematomas, e sorriu, curiosa. Não era possível que um simples humano pudesse ferir tanto o rei chapeleiro. Devia haver um mistério por trás daquilo.
A rainha se cobriu apenas com uma capa, e afofou os cabelos com as mãos, admirando-se contra o espelho de sua penteadeira. Voltou a observar a cama, conferindo o marido. O rei se mantinha inconsciente, como era de se esperar. Silenciosamente, ela desapareceu, reaparecendo diante da cela na qual mantinha uma fada e um humano aprisionados.
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O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final feliz
FantasyAssim que Aurora, a grande guardiã, fechou seus olhos, quem pareceu viver um sonho foi Malévola, a mais terrível dentre as terríveis. A rainha das trevas finalmente iniciou sua guerra, mas nem tudo sairá como o planejado. Ela terá que lidar com um v...