Capítulo 5 - Alianças improváveis

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Capítulo 5 – Alianças improváveis

     Tristan já estava há meia hora observando o mesmo papel, sem ânimo algum na vida. A novidade a respeito dos conversadores trouxe a ele um estado de inquietude. Uma vez que seus informantes relataram a perda de dons dos conversadores, seria questão de tempo até que a rainha Solange o procurasse.

      Todavia, as horas pareciam anos. Seu povo estava em paz, o governo era equilibrado, e sua filha, ainda que sem juízo, parecia sossegada, desempenhando seu papel de princesa dentro dos conformes. O rei ansiava por atividades que quebrassem sua rotina. Mal sabia que toda a sua vida em breve iria mudar.

     Distraído pelo mar que exibia sua beleza perante a janela submersa de seu salão de uso privativo, decidiu ignorar a invasão de Ariel ao seu marasmo.

- Levante-se imediatamente, e vamos aparar essa barba! O senhor não sabe quem veio te visitar!

- A rainha Solange?

     Ariel ficou boquiaberta e irritada.

- Como o senhor sabia?

- Como não saberia? Eu tenho olhos e ouvidos por todos os lugares! Ela veio desacompanhada?

- Mas é claro! Não vai se arrumar? O senhor não está nas melhores condições.

- Não perguntei sua opinião! – ele reclamou, birrento.

- Não acredito que já sabia que ela viria e mesmo assim não aparou essa barba. Isso é o fim!

- Não fique aí parada me julgando! Traga-a até aqui e nos deixe a sós.

- Quer que eu apare a sua...

- Cale essa boca e vá logo! Garota petulante!

- Eu te proíbo de sair daqui sem que passe uma navalha nessa barba!

- Já foi até a rainha fazer o que eu mandei? Vai querer viver o resto da vida trancada no seu quarto?

      Ariel espremeu os olhos e sacudiu seus cabelos vermelhos. Seu pai parecia gostar de parecer velho e cruel. Ela o obedeceria, mas não desistiria de seus planos. A barba podia ter vencido a batalha, mas não a guerra.

      Tristan contemplou sua filha desaparecer escadaria acima. A ruiva brava deixava seu palácio menos morto. Ainda assim, era frustrante continuar a vida naquele estado de solidão, e muito pior ser rejeitado por quem desejava. Havia pessoas que nasceram para serem amadas e outras, não. Ele entendia que não estava destinado ao amor. Chantagear Solange para ceder ao pedido de casamento era indigno, mas parecia ser o único modo de não viver sozinho.

       O rei não aparou a barba. Para receber sua visitante, apenas passou um óleo essencial cheiroso e seguiu seu caminho. Era ridículo sentir-se como um garoto outra vez. Ao ranger da porta, se deparou com a rainha levemente envelhecida e mais triste do que antes. Era bem destoante de suas lembranças.

- Majestade – ela se dirigiu a ele com respeito, descendo a escadaria de vidro e cristal.

      A rainha de fato parecia mais desmotivada do que ele. Isso o deixava com vontade de ser seu amigo. Imaginava que ela seria a única capaz de entende-lo, e em posição para conversar sobre todas as questões que lhe tiravam o sono.

- Tem me evitado a sete anos em todos os eventos dos reinos. Estou surpreso que venha me ver por vontade própria. Parece exausta. Veio andando até o Reino D'água?

- Se está me provocando, então seu humor está bom. Pode me convidar para me sentar?

- Posso. Eu posso muitas coisas.

O Conto dos Contos 3 - A disputa pelo final felizOnde histórias criam vida. Descubra agora