Capítulo 32 - Jin-Woo

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      Sentado em meu cavalo, com uma planície em minha frente e um batalhão atrás de mim, fechei os olhos e tentei me acalmar. Muita coisa havia acontecido naqueles dias e minha mente se encontrava em um estado de confusão. Muitas incertezas permeavam meus pensamentos. Estaria eu fazendo a coisa certa? Quantas vezes mais eu poderia ser enganado? Não. Abri os olhos. Eu não deveria ter aquele tipo de pensamento, não em um momento como aquele, mas aquilo estava além do meu domínio...

      Um misto de emoções me invadia; raiva; culpa; medo; desconfiança; traição. Como eles puderam esconder uma coisa daquelas de mim? Eu confiava neles... e eles sabiam. O mestre e o príncipe sabiam e não me contaram. Por quê? Como pude ser tão ingênuo? Se eles não me contaram nem aquilo, quantos outros segredos eles podiam estar escondendo? Por quanto tempo eu fui manipulado? Balancei minha cabeça. Aqueles eram pensamentos egoístas e infantis. Eles tiveram seus motivos...Mas então por que aquele sentimento de traição continuava a me incomodar? E eu não podia colocar a culpa toda neles, na verdade, a culpa inicial havia sido minha...onde eu estava com a cabeça quando eu permiti que Taehyung fosse enviado naquela missão? Tolo. “Mas eles não te contaram nada, mesmo quando eles descobriram que seu amigo havia sido capturado, mesmo quando eles ficaram sabendo que ele havia sido torturado...eles não te contaram nada, fingiram que estava tudo bem mesmo quando não estava, te deixaram no anonimato. Que direito eles tinham de decidir o que você deve ouvir ou não Jin-Woo? Pense bem, você já é um homem, toma as suas próprias decisões, ainda mais em um assunto que te faz mais respeito do que a eles, você seria a parte mais afetada. Você confiou neles, mas eles te enganaram...então qual é o motivo de você ainda lutar ao lado deles? O que difere o caráter deles do caráter do imperador atual? Eles fizeram a sua cabeça, eles te usaram Jin-Woo, usaram o seu amigo! Pense nele sofrendo, sendo torturado, deixado sem água, sem comida. Tudo porque eles não te contaram nada, não te deram a chance de tomar a sua decisão, não te deram a chance de escolher! Pense bem Jin-Woo, qual é o motivo de você lutar ao lado deles? ”

      Independentemente de tudo aquilo, eu estava ali, naquele momento o que eu mais precisava era de concentração. “O que importa é o agora, nada mais”. Ficar me indagando não iria me levar a lugar nenhum. Eu sabia que eles haviam tido seus motivos. E se, ainda houvesse esperança, mesmo que fosse mais frágil do que um botão de flor e mais fina do que uma linha, se ainda existisse a possibilidade de meu amigo estar vivo, eu iria sacrificar tudo, até mesmo minha vida, para resgatá-lo. E o que me fazia continuar ali, no cavalo, era a certeza de que eu estava defendendo a causa certa. No ano em que eu passei afastado da corte eu pude presenciar muitas coisas. Eu vi e senti na pele a realidade dos moradores e eu sabia que estava na hora de aquilo tudo acabar. Eles não iriam aguentar mais. E era a minha hora de lutar por eles, retribuir todos os anos de sofrimento. Estava na hora de salvá-los.

      Respirei fundo mais uma vez. Do local em que estávamos podíamos ter uma visão privilegiada de todo o campo. Olhei para um local mais baixo do que o terreno em que me encontrava e pude ver nosso exército já em sua formação. Os arqueiros, os soldados os cavaleiros. Todas aquelas pessoas estavam ali para defender uma única causa. Comecei a observar tudo, gravando aquela imagem em minha mente. Os soldados à minha frente e atrás de mim, o acampamento mais afastado, onde já se encontravam preparados os meus queridos amigos e médicos, a floresta atrás de mim, todos aqueles elementos montavam o nosso campo. Olhei para minha direita e vi os primos, os olhares focados e sérios, completamente diferente da alegria de antes, pareciam verdadeiros assassinos, prontos para defender a sua causa com unhas e dentes. Olhei então para a minha direita. Logo ao meu lado se encontrava o mestre Rocky, o olhar afiado como o de um lobo e com a postura impecável e esguia. Logo em seguida se encontrava nosso príncipe. Eun Woo mantinha um olhar calmo, porém sério e soberano, parecia um rei em cima do cavalo. O marechal vinha logo em seguida, um homem sábio, as rugas sendo marcadas por conta da testa franzida, as sobrancelhas esbranquiçadas juntas e os punhos cerrados. Mal-Chin já havia assistido e vivido muitas batalhas, era um ótimo exemplo. A figura bruta do marechal era completamente diferente da figura da princesa. Ela parecia uma ave de rapina, esguia e pequena. O olhar compenetrado, os cabelos trançados e o leque em sua cintura eram um forte contraste com o seu rosto de porcelana. Eu só podia lamentar daqueles que a julgavam um alvo fácil, mal sabiam eles que atrás daquela máscara de jovem adolescente inofensiva se escondia uma assassina mortal, armada até os dentes. E por fim, mas não menos importante, Moon Bin completava a nossa fileira. Ele portava diversas armas, porém elas não estavam à mostra. A única arma que ele expunha era um tchaco na cintura. A feição dele permanecia calma, aliás, era a feição dele de sempre. Não sei por que, mas olhar para ele me trouxe paz. Finalmente, meu olhar se virou para o batalhão inimigo. O exército do imperador era grande e bem treinado. Eu não podia falar que aquilo não me trazia um pouco de medo, pois eu estaria mentindo. Eu conhecia as fraquezas e os pontos fortes de ambos os exércitos, pois afinal, eu já estive no meio dos dois. O exército do imperador era composto restritamente por homens bem treinados, soldados desde o berço, criados desde pequenos para serem guerreiros impecáveis e de sangue frio, familiarizados com as armas desde o berço. Enquanto isso, o nosso exército era misto, composto desde soldados de alto escalão até simples fazendeiros, camponeses e pescadores, que conheceram o mundo da guerra não fazia muito tempo. Engoli em seco. Quais eram as nossas chances? Entretanto, antes que minha mente conseguisse criar mais possibilidades sombrias sobre o nosso destino, um barulho irrompeu pelo campo. Um retumbar tão alto que até o exército inimigo havia ouvido. “Por Buda, que barulho é esse? ” Meu queixo caiu. Emergiu de dentro da mata uma aglomeração de corpos. Fileiras organizadas, uniformes verde escuros, pareciam filhos da floresta. Filhos não, filhas. Era um batalhão formado somente por mulheres. O contingente, que era formado por aproximadamente 100 mulheres marchou pelo campo até parar bem atrás da princesa, criando um espanto em todos ali presentes. “Como assim mulheres? ”, foram os comentários. Até mesmo o príncipe ficou surpreso. O único que não demonstrou nenhuma reação foi o mestre Rocky, para ele parecia tudo muito normal. A soldado responsável pelo pelotão se apresentou e fez uma reverência para a princesa, esta ficou muito satisfeita com a presença daquelas mulheres, mas não fez nenhum comentário, depois disto a soldado retornou para sua fileira, aguardando como todos nós os tambores soarem para iniciar a batalha, entretanto o que se ouviu não foram as batidas do início do confronto, mas sim algo diferente: A voz de um cavaleiro. O homem se apresentou e cavalgou para o meio do campo e de lá ele disse com uma voz que ressoou por todo a planície:

      - Queremos fazer uma oferta de paz!

      Todos se entreolharam, surpresos. Como assim uma oferta de paz? Eles iriam mesmo desistir da batalha?

      Ele então continuou:

      - Entregaremos um prisioneiro que sabemos ser importante para vocês…para isso exigimos a vida do marechal!

      Todos os olhares se viraram para Mal-Chin, que parecia extremamente calmo. Ele se virou para o príncipe e falou:

      - Eu irei sem problemas, Vossa Alteza.

      - Não marechal, não posso permitir tal ato. – O príncipe respondeu, sério.

      - Pois então, eu irei no lugar dele Alteza – Falei.

      - Negado – ele falou, severo – meu irmão está somente blefando. O que ele quer é desestabilizar o nosso exército – ele então se virou para o soldado que havia comunicado o pedido – Negado!

      - Bem – o soldado começou – o nosso imperador irá libertar o prisioneiro mesmo assim. Pois a nossa Majestade é benevolente, mesmo com os traidores.

      Dito isso, ele retornou ao seu lado do campo.

      Segundos depois, pudemos ver um cavalo vindo em nossa direção. Em cima dele havia alguma coisa. Alguém. Meus olhos se arregalaram e o seu nome ficou em meus lábios.

      - Taehyung...

      Como se ele pudesse prever meus pensamentos, o mestre logo colocou a mão em meu ombro, me tirando do transe. Ele lentamente negou com a cabeça e permaneceu com a mão lá, como em uma tentativa de não me deixar perder a cabeça.

      Fiquei encarando o cavalo enquanto ele atravessava a planície. Os minutos pareciam horas e a planície parecia não ter fim. Meu coração batia forte no peito e minhas mãos tremiam na expectativa. Ele estava ali. Estava vivo. E vindo em minha direção. Parecia bom demais para ser verdade. Quase que como um sonho, que em um piscar de olhos se transformou em um pesadelo.

      Tudo pareci estar em câmera lenta. Meus olhos desviaram do cavalo correndo em nossa direção e foi parar nas mãos hábeis de um arqueiro. A flecha posicionada. A corda tensionada. O barulho. Não tive tempo de agir, não tive tempo e gritar. A única coisa que eu consegui fazer foi observar, horrorizado. A flecha vinha com a precisão mortal. O cavalo se movia furiosamente, porém a flecha era mais rápida. Não demorou muito para que ela atingisse seu alvo. Um baque surdo. Um grito que não chegou a sair. Um corpo tombando no chão. Foi assim que a batalha começou, pelo menos para mim.

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Eu ando meio sumida por aqui não é? É, eu sei...Desde que eu voltei de viagem não escrevi nada, mas logo voltarei a escrever normalmente. Obrigada por terem paciência comigo e por continuarem acompanhado essa história :). Espero que todos vocês estejam bem. Um abraço ~Sophia

The beginning of a new eraOnde histórias criam vida. Descubra agora