Capítulo 39 - Yeonsangun

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- Por Buda, que desperdício. – Soltei um suspiro entediado. Não conseguia acreditar que estava desperdiçando meu precioso tempo com aquilo.

Contemplei a batalha que se desenrolava bem abaixo de mim. Espadas se chocando, gritos e relinchos, o cheiro de sangue e suor no ar. Soltei um riso debochado quando meus olhos se fixaram em dois pontos conhecidos na multidão de corpos. Um rato de biblioteca e uma princesa que bancava a guerreira, cercados por um bando de caipiras do seu lado, lutando contra um exército com anos de preparo e treinamento, liderados por aquele que treinou desde o berço, o astuto lutador, o incompreendido imperador que salvava a todos mas recebia o ódio da população em troca. Ah, certo, aquele ser divino era eu. Eu deveria sentir orgulho...não, orgulho não, na verdade, eu deveria sentir ofensa...ah sim, eu estava sendo brutalmente ofendido. Eu não havia treinado por tanto tempo para que a batalha que eu tanto ansiava fosse contra um bando de miolo moles. Queria que fosse apenas uma piada de mau gosto, mas infelizmente aquilo era um fiel retrato da realidade. E ainda tinha mais! Mas é claro, como eu fui me esquecer que quando uma coisa está ruim, sempre dá para piorar? Além de ter que lidar com os sonsos dos meus irmãos ainda tinha que aguentar aquele general traidor. Ri por dentro e um sorriso selvagem se formou em meus lábios. Ele caiu como um ratinho em uma ratoeira, sedento pelo queijo. Minha isca havia funcionado melhor do que imaginava...a única parte ruim foi que eu tive que assistir todo o drama que o general fez. Patético. De qualquer forma, eu iria ganhar aquela guerra mesmo. Mas, e se a Deusa do Destino estivesse contra mim neste dia? Me remexi dentro da armadura e coloquei a mão no cabo de minha espada, aquilo era como um conforto para mim. E se eu acabasse morrendo em campo de batalha? E se eu estivesse os subestimando demais? Engoli em seco, mas logo em seguida ri. Que idiotice a minha, que pensamento mais esdruxulo era aquele? Eu? Morrer na mão daqueles estabanados? Impossível. Se eu me encontrasse com meu irmão no campo de batalha ele iria me atacar com o que? Livros? Ri de novo, dessa vez mais forte. E a princesinha? Ela ia fazer o que? Se duvidasse ela nem conseguia carregar uma espada com aqueles bracinhos finos. Ah, como era boa a sensação da segurança, da garantia que aquela batalha já estava ganha. Depois daquilo eu até poderia escrever um livro de comédia, contando a estupenda história de um intelectual que não tinha músculos e uma princesa mimada que enfrentaram o maior exército da Coreia...pensando bem, escrever era para os fracos. Não, eu nunca me rebaixaria a tal nível. Muito pelo contrário, depois que aquela baboseira toda tivesse terminado eu iria me regozijar em vinhos e carnes da melhor qualidade. Ah, pensei no gosto do vinho, vermelho como o sangue do meu irmão que logo estaria pintando a grama, doce em minha boca. Pensei em meu palácio, nos meus inúmeros aposentos e riquezas, sem mais nenhum parente louco para interromper minha paz. Espere. Soltei um bufado. Eu tinha me esquecido daquela velha caduca. Assim que aquilo acabasse eu ia exilar ela, ou matar ela logo, uns anos a menos não iriam fazer diferença para ela de qualquer forma. Não era ela que gostava tanto de conversar com os ancestrais? Eu estaria fazendo um favor a ela! E ainda me consideravam egoísta e sem coração...Mas, o pensamento da minha morte voltou a me perturbar. "Por vias das dúvidas, é melhor eu me prevenir, por mais que eu saiba que é uma idiotice da minha parte, bom, que seja. "

Chamei meu servo e sussurrei:

- Você já está comigo há muito tempo, não é?

- Sim, Vossa Majestade. Venho servindo o senhor desde quando você era adolescente.

- Ótimo. Tenho uma tarefa muito importante para você – abaixei um pouco mais o meu tom de voz - E você não pode falhar – falei, enfatizando cada palavra – Entendeu?

- Mas, Vossa Majestade tem certeza que eu sou o mais qualificado para realizar esta tarefa?

- Você ousa ir contra a minha vontade? Foi isso mesmo que eu ouvi?

The beginning of a new eraOnde histórias criam vida. Descubra agora