Os corredores do palácio nunca estiveram tão vazios, o que era de se esperar devido a hora avançada, nenhuma pessoa teria o desejo de vagar pelos corredores escuros de um imenso palácio em plena madrugada. Eu era uma exceção. Eu já tive noites de sono mais calmas que aquela, nas quais eu mergulhava em sonhos calmos, essa noite eu não tive esse prazer. Meus sonhos se transformaram em pesadelos, dos quais eu não tinha a menor vontade de compartilhar. Acordei devido ao susto e me deparei com os lençóis encharcados de suor e não consegui dormir de novo com medo de que aqueles horríveis pesadelos voltassem a me assombrar. Como não consegui mais pegar no sono, me levantei e fui andar pelo palácio, na esperança de clarear meus pensamentos.
A brisa fresca da noite me envolveu e inflei meus pulmões, tentando absorver todo aquele ar puro que foi ao meu encontro.
Meus passos se perdiam no silêncio do palácio, era como se eu andasse sobre plumas que ocultavam todo e qualquer som, me dando a sensação de completa solidão, que mais tarde pude perceber que era passageira.
Andei calmamente até o pátio principal que estava mergulhado em uma luz prateada hipnotizante. Me sentei em um banco e olhei para o alto. As estrelas pareciam pequenos diamantes que enfeitavam um infinito pedaço de cetim preto. Continuei em êxtase enquanto observava o céu quando um barulho me fez voltar a realidade. Meus sentidos se aguçaram e varri o pátio com os olhos, atento a todo e qualquer movimento. Até que, meu olhar se fixou em um corpo que estava parado me encarando. O reconheci na hora, era o soldado que havia me salvado naquele dia. Acenei para que ele se sentasse ao meu lado e vi que ele relutou por um momento, como se julgasse para ver se era realmente seguro. Após uma breve consideração, vi ele vindo ao meu encontro lentamente. Quando ele estava bem na minha frente ele se curvou em uma reverência. Toquei gentilmente seu ombro e sinalizei para que ele se sentasse ao meu lado, ordem que ele obedeceu rapidamente.— O que você está fazendo acordado Jin Woo? — perguntei com a voz calma.
— Não consegui dormir Alteza — ele respondeu.
— Por quê?
— Um pensamento vem me assombrando — ele falou relutante.
— Gostaria de poder te ajudar porém temo que isso não esteja em meu alcance — respondi vagamente.
— Na verdade Alteza — ele olhou para mim — O senhor é o motivo da minha angústia.
— Eu? — perguntei espantado.
— Não o senhor em si — ele se apressou em explicar — Mas a minha atitude em relação ao senhor e a sua irmã.
— Que atitude? — minha voz assumiu um tom de interesse.
— A-alteza, eu não — ele subitamente demonstrou um imenso interesse na grama salpicada com orvalho — eu não sou tão bom quanto Vossa Alteza acredita que eu seja.
— Perdão? — perguntei confuso.
— Eu não fui enviado para esta ilha por ser um escravo, mas com um objetivo e uma ordem muito clara, eu não sou quem o senhor pensa que eu seja — ele encarou o céu estrelado — muito pelo contrário, fui enviado com uma missão específica.
— E qual seria esta missão? — perguntei friamente.
— Impedir que Vossas Altezas retornassem a capital — ele falou em um tom fraco.
— E o que impediu que você cumprisse a sua ordem, soldado?
— Como sabe que eu sou um soldado senhor?
— Só um cego não enxerga a sua habilidade com armas, seu sangue frio, sua compostura perante a
dor, seu bom comportamento, seu excelente porte físico e sua discrição. Mas a dúvida que permanece em minha mente é. Quem te enviou? Meu pai? Meu irmão? Ou ambos? E qual é a sua posição? — perguntei em um tom frio e severo.Ele se levantou e assumiu uma
expressão rígida e uma posição de sentido, característica dos soldados da corte.— Eu sou o general do exército particular do falecido imperador, Park Jin Woo descendente da família
Park — ele falou rígido e com a voz firme — Fui enviado pelo antigo imperador com outros quatro soldados com a missão de impedir o retorno de seus descendentes a capital. Viemos infiltrados em um navio de escravos para a Ilha Jeju e fomos aceitos pelo governador na posição de servos para trabalharmos aqui, pois para mim, era o local mais óbvio para membros da realeza se esconderem, Alteza.— Mas você ainda não respondeu a minha pergunta, por que você não cumpriu a sua missão?
— Pois a partir do momento em que eu saí da capital eu percebi como o imperador realmente era — ele
começou — o mundo de fantasia em que eu vivia na corte foi substituído pela realidade brutal, fazendo com que meus princípios começassem a ser alterados — ele fez uma breve pausa — E, ao chegar aqui e encontrar os senhores, percebi que quem estava errado era o imperador e não Vossas Altezas. Passei a observá-los todos os momentos em que eu podia e pude ver como vocês eram bondosos com todos os servos e pessoas, independentemente das classes sociais e da idade, Vossas Altezas os tratavam com respeito e gentileza, sendo exatamente o oposto do tratamento que o imperador dava ao seus empregados que o serviam exaustivamente. Depois de refletir percebi que eu estava apoiando o lado errado e resolvi que a partir daquele dia eu não serviria mais aos interesses do falecido imperador e sim de Vossas Altezas.Ouvi com atenção tudo que ele dizia, não podia negar que ele era um homem de coragem para chegar e confessar tudo que ele pensava sobre o meu pai. Precisava de um tempo para digerir a nossa conversa, por esse motivo um silêncio absoluto reinou entre nós, aparentemente ele não se incomodou com isso, pelo contrário, ele sabia que eu precisava analisar todo esse contexto. Não me surpreendi com o que ele disse a respeito de meu pai, eu já esperava por isso. O que me deixou perplexo foi o fato de ele mudar de opinião assim que tomou consciência da vida fora do palácio. E o que fazer agora? Não posso dispensá-lo pois ele é um ótimo soldado, assim como ele não pode ficar nessa posição de escravo, pois ele era um general. Me virei para ele e falei:
— Soldado Park Jin Woo, muito do que você me disse não me surpreendeu, pelo contrário, confirmou as minhas suspeitas, agora tenho uma decisão a tomar e gostaria que você aguardasse, vou conversar com a minha irmã e com o meu mestre, o que posso adiantar é que eu pedirei ao governador para que ele retire você e seus soldados da servidão, voltaremos a conversar em outro momento, mas garanto a você que será rápido, não podemos esperar muito.
Me levantei, ele se levantou
também e fez uma profunda reverência. Ainda restavam algumas
horas para descansar, porém eu duvidava que eu conseguisse dormir, eu previa que o meu dia seria muito longo. Eu o dispensei e saí com os passos pesados de lá, mas com uma clareza de pensamento, eu só precisava agora conversar com minha irmã.************************************
Me desculpem por ter ficado esses dias sem postar... Vou tentar retornar a rotina de postar todos os dias. Espero que gostem do capítulo 😊 ~Sophia~
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The beginning of a new era
FanfictionVocê está com medo, princesa? Ao sair da capital, em um barco de um desconhecido, rumando para um futuro incerto, a princesa Hwawan não imaginava que ela se tornaria líder de um poderoso exército e nem que ela se apaixonaria por um misterioso capitã...