Já havia alguns dias que o trabalho na ilha estava intenso, a impressão que dava era de que não havia mais hora para deitar ou levantar. Ao mesmo tempo que isso me deixava exausto eu sentia uma empolgação com aquela agitação toda. Claro que eu podia contar com a ajuda de muitos de meus amigos. No porto, Moon Bin trabalhava desde o nascer do Sol até muito depois de a lua aparecer no céu, coordenando o contingente de homens, armas, munição e mantimentos que ele distribuía nas embarcações. O mestre Rocky ainda trabalhava exaustivamente treinando os soldados, suas ordens podiam ser ouvidas por todo o campo de treinamento, junto com o tintilar das espadas se chocando. Sanha e Myungjun já haviam partido para o continente para colher outras ervas medicinais numa quantidade aceitável para muitos homens na batalha, parte de suas ervas, nativas da ilha, já estavam acondicionadas dentro do navio e o combinado era que iríamos pegá-los no primeiro porto do continente, para que eles fizessem o restante da viagem conosco. Toda essa revisão passava por minha mente enquanto eu me dirigia ao porto, porém uma outra coisa me preocupava, eu não havia recebido notícias de Taehyung. O que será que havia acontecido para ele não ter me enviado uma notícia? Eu pressentia que algo não estava certo. Quando cheguei próximo ao porto já dava para escutar muitas vozes e ver o movimento anormal para aquele pequeno lugar. Muitos habitantes da ilha estavam trabalhando e cooperando com essa manobra, anciões, mulheres, crianças, ou seja, a ilha toda estava em frenesi, ajudando como podiam. Os anciões davam conselhos valiosos, as mulheres forneciam alimento para os marinheiros e as crianças corriam por todo o porto, oferecendo água para aqueles que trabalhavam e, de vez em quando, parando para admirar os soldados trabalhando, que às vezes retribuía com um sorriso. Por mais que o porto estivesse movimentado naquela semana, naquele dia ele estava caótico. Soldados marchavam em direção ao centro do porto, onde já se encontravam diversas pessoas e crianças que se enfiavam pelo meio das pernas dos adultos, ansiando por ver o que estava acontecendo. Uma inquietação me atingiu, o que poderia ser?
Foi quando eu vi um rapaz correndo em minha direção, quando ele já passava por mim eu o parei e perguntei aonde ele estava indo com toda aquela pressa. Ele me respondeu que o marinheiro chefe, Moon Bin, havia mandado ele avisar os príncipes que um designatário do imperador estava ali com uma mensagem para eles. Aquilo me soou como uma má notícia e pensei no que eu deveria fazer naquele momento, continuar no porto ou retornar ao palácio? Foi então que resolvi dar uma carona para o menino e retornar ao palácio.
Quando cheguei ao palácio eu mesmo fui procurar os príncipes para dar a notícia. Eu os encontrei em uma pequena sala com o governador da ilha e alguns anciãos. Fiz uma reverência e pedi para falar a sós com o príncipe e lhe dei a notícia. Para o meu espanto, não observei nenhuma mudança em sua expressão. Ele ouviu todo o relatório calmamente e disse que iria me acompanhar no retorno ao porto.
Partimos a cavalo de volta para o porto, que se encontrava tão movimentado quanto na hora que eu cheguei pela primeira vez. Ao nos aproximarmos do aglomerado de corpos, as pessoas foram abrindo passagem para que pudéssemos ver o designatário com clareza. O sujeito continha um sorriso atrevido no rosto e quando nos viu se curvou em uma reverência pomposa, soltando um riso de deboche logo em seguida.
— Bom dia Vossa Alteza Real — ele falou, o sorriso voltando ao seu rosto — Sinto ter que incomodar Vossa Alteza, mas trago notícias urgentes da capital.
— Quem é você? — perguntei, ríspido.
— Ah! Então este é o famoso general Jin-Woo — ele correu os olhos por mim — tenho que admitir que achava que você seria um pouco… hm...como posso dizer…. Maior — ele riu da própria piada, sendo a sua risada o único som que ecoava no porto.
Antes que eu pudesse responder ele continuou:
— E você - ele falou, sinalizando o príncipe - Você é aquele princepizinho petulante, seu irmão falou muito de você. O rato de biblioteca. Não tirava a cabeça dos livros, coitado - ele balançou a cabeça - deve ter enlouquecido de tanto ler. Só isso pode justificar suas atitudes malucas… você seria uma ótima companhia para a velha louca… - ele sorriu e depois balançou a mão, afastando aquele pensamento como quem espanta um inseto - E onde está aquela princesinha? - ele procurou a princesa com o olhar - Ah, sinto que não vou ter o prazer de conhecê-la hoje… Dizem por aí que ela é muito bonita - ele nos lançou uma piscadela - mas é uma pena, o que ela tem de beleza ela tem de estupidez. É uma simples boneca enrolada em fitas, tão bela, mas só foi feita para ser usada pelos outros, já que ela mesma não tem capacidade de tomar suas próprias decisões.
Franzi o cenho e cerrei os dentes. Ele notou minha mudança de temperamento prontamente, e logo disparou:
— Ahn, ficou bravinho foi? Esse seu comportamento me lembra uma coisa… - ele se concentrou - ah! Agora me lembrei! Não é atoa que você tem esse apelido - ele deu uma risadinha - Você é mesmo o mascote dos príncipes. Vai igual um cachorrinho abanando a cauda atrás do dono, pronto para defender o primeiro que te der algumas migalhas. Isso me faz lembrar de um outro indivíduo que é um cachorrinho, igual você. Engraçado não? Tal dono tal mascote. Aquele seu amigo fez de tudo para proteger vocês, não é atoa que ele está naquela situação agora… - as palavras escorriam como veneno e seu olhar de víbora se fixou nos meus, esperando ansioso para ver o que iria acontecer. Sem perceber, o bote já havia sido feito, era só uma questão de tempo até que eu percebesse que ele já havia se enrolado em mim.
— Taehyung - as palavra saíram com
facilidade, porém só depois de alguns segundos foi que eu percebi o impacto delas.
— Então você descobriu. Ah, mas
não se preocupe, a Majestade… -
antes que mais veneno saísse de seus lábios desferi um soco em seu rosto, fazendo ele se desequilibrar e cair de costas. Ele levou a mão ao maxilar ferido e mexeu a boca, sorrindo logo em seguida. Sangue escorria de seu lábio inferior e manchava seus dentes, porém nem isso do capaz de abalá-lo.
— Como você é esquentadinho - ele
cuspiu sangue no chão - Como eu ia dizendo, Vossa Majestade está dando um tratamento especial para aquele serzinho. Garanto que se fosse por mim, ele estaria em uma situação muito mais… desagradável - ele voltou a sorrir.
Como eu queria quebrar aquela arcada perfeita, só para que ele nunca mais pudesse sorrir.
Acho que o príncipe percebeu o meu desejo e logo se prontificou a falar:
— Vamos para o palácio - ele colocou a mão em meu ombro e falou em um tom que só eu escutaria - Calma, você quebrar a cara dele agora não vai adiantar de nada.
Assenti com a cabeça e fiz a única
coisa que eu podia fazer naquele
momento, lancei um olhar fulminante para o designatário,desejando poder colocar as mãos em torno de seu pescoço .Eu precisava me controlar, como o príncipe disse, não ajudaria de nada eu ficar nervoso, pelo menos, não naquele momento. Respirei fundo, fui até ele e amarrei suas mãos firmemente.
— Não quero ouvir nem mais uma
palavra. Entendido?
— Sim general - ele falou como um
soldado, abrindo um sorriso irônico logo depois.
— E nada de sorrir também, se não,
eu farei questão de que você não sorria mais - dito isso, apertei mais seus pulsos e o forcei a caminhar.
Graças a Buda a caminhada foi silenciosa e não houve nenhum imprevisto.
Quando chegamos no palácio os guardas prontamente vieram e seguraram o designatário, permitindo que eu me afastasse daquele insuportável. Ele foi conduzido até o salão principal, onde já se encontravam o governante, o mestre Rocky e a princesa. Me posicionei em pé ao lado do mestre e encaramos o designatário, que naquele momento se encontrava ajoelhado no centro do salão.
— Como você se chama? - a princesa perguntou, calma mas duramente.
— Me chamo Do Suck, Vossa Alteza
Real - ele falou com um sorriso esnobe no rosto.
— Levante-se — a princesa falou — O que você veio fazer aqui?
— Até que enfim me encontrei com
alguém que tem bom senso — ele falou olhando para mim, para logo em seguida desviar o olhar para a princesa novamente — além de linda.
— Mais respeito! — falei duramente
— Esquentadinho você não? — ele
falou.
Dei um passo decisivo para frente,
porém o mestre Rocky me segurou.
O designatário limpou a garganta e continuou:
— Imaginei Vossa Alteza, o motivo da minha visita à esta pitoresca ilha — ele olhou para o governador, que simplesmente manteu seu olhar sereno de sempre.
Ele deu um passo para frente, se
aproximando da princesa, os guardas o acompanharam, enquanto eu, ao ver o que ele estava fazendo, já me posicionei do lado dela.
— Nossa, o ar marítimo não trouxe
nenhuma tranquilidade para vocês.
Então ele tirou de dentro de sua
túnica um cartucho com o selo do imperador e o apontou para a princesa.
— Imagino que Vossa Alteza já saiba
o conteúdo desta mensagem — ele falou.
A princesa continuou olhando para
ele, com o rosto impassivo.
— Mas — ele continuou — se Vossa
Alteza me permite, gostaria de adiantar o assunto. O atual imperador, aliás, o único — ele olhou para o príncipe — está propondo que vocês deixem de ser cabeça dura e se rendam, porque afinal de contas, é impossível tirá-lo do trono, já que todos nessa sala — ele correu o olhar por todos os presentes — sabem que, o imperador é nomeado pelos deuses — disse isso aproximando-se de Eun Woo, o Mestre Rocky se colocou entre os dois — hm… será que eu vou ter o prazer de travar um embate com você…Mestre Rocky — ele pronunciou o nome dele com desdém.
"Mas é muito atrevido esse infeliz"
O mestre Rocky não manifestou
nenhuma expressão, simplesmente o olhou friamente.
— Mas como eu ia dizendo, se vocês
se renderem o nosso imperador será muito bondoso e dará a vocês uma morte rápida.
Percebi que todos na sala
continuavam quietos. Como eles conseguiam? Pois a minha vontade de voar no pescoço dele estava maior ainda. Foi então que a princesa respondeu:
— Você fala muito, creio que o
imperador não o enviou aqui para conversar, por favor, entregue-me o cartucho.
De modo debochado ele foi até a
princesa e lhe entregou o cartucho. Fez uma reverência esnobe e se afastou. Naquele mesmo momento ela pediu para que ele fosse levado para um alojamento. Antes de sair, ele ainda se virou para o príncipe e para a princesa e deu uma risada de escárnio. Assim que as portas do salão se fecharam, ela abriu o cartucho e leu a seguinte mensagem:
"Querida irmã, não posso dizer que
estou com saudade, mas posso te assegurar que estou sentindo um imenso prazer ao imaginar você morrendo no campo de batalha, já que eu sei que, se você está lendo isso, é porque não aceitou minha proposta. Aliás meu prazer só aumenta, pois, além de vislumbrar a sua morte, irei celebrar a morte de meu fraco irmãozinho, e irei me regojizar ainda mais quando cravar uma adaga no coração daquela velha louca, sim, ela ainda está viva, claro que tudo isso não irá superar o prazer que eu tive em ver o nosso pai morrer. A vida é bela, não acha? Observação: pode fazer o que quiser com o designatário, ele já serviu ao meu trabalho, se quiser posso até dar uma sugestão, jogue ele aos tubarões, não me serve para mais nada. Até breve, princesa."
Lendo isto, ela suspirou e olhou para nós, percebi que em seus olhos haviam lágrimas, mas a conhecendo sabia que não eram de medo e sim de raiva. Então ela perguntou ao irmão:
— Estamos prontos?
O príncipe assentiu com a cabeça
e respondeu:
— Se quisermos, podemos partir ainda hoje, minha irmã.
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The beginning of a new era
FanficVocê está com medo, princesa? Ao sair da capital, em um barco de um desconhecido, rumando para um futuro incerto, a princesa Hwawan não imaginava que ela se tornaria líder de um poderoso exército e nem que ela se apaixonaria por um misterioso capitã...