Capítulo 18 - Sanha

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        Eu, Myungjun e Moon Bin, estávamos saboreando uma garrafa de soju, um silêncio pairava sobre nós, cada um com seus pensamentos. Eu pelo menos estava abalado ao pensar que um confronto se aproximava, algo que nunca passou por meus pensamentos, eu, em uma campanha de guerra, como seria? Será que eu daria conta, de todos os soldados, todos os feridos? E eu? Eu seria ferido? E se eu fosse ferido, quem iria me socorrer? O Myungjun?! E se um dos príncipes morresse em minhas mãos? Eu iria para a forca?! A bebida queimou minha garganta e levei a mão ao pescoço ao pensar na possibilidade de eu ser enforcado. Eu era tão jovem! Tinha tantas expectativas para a vida, tantos planos! Eu queria me casar, montar uma família, e envelhecer ao lado de minha querida esposa. Pensando em esposa, e família, onde estaria aquela bela jovem?  Me virei para Myungjun e perguntei:

      — Myungjun, onde está aquela bela moça que havia se hospedado em sua casa?

      — Que moça? A criada de minha mãe? Ou a criada da princesa?

      — Myungjun! Como você pode ser tão distraído?! — perguntei com impaciência — Aquela moça, belíssima e encantadora, que passou um tempo na sua casa. Não se lembra dela? Ela tinha o cabelo preto e comprido, sua voz era macia, seus lábios mais vermelhos do que o sangue e…

        — Tudo bem, tudo bem, pode parar — ele falou me cortando — Me recordo vagamente dessa moça, minha mãe comentou sobre ela. Ela foi embora no dia seguinte, sem nem se despedir — ele abriu um sorriso irônico — O que ela tinha de beleza ela tinha de falta de educação também — ele se serviu de um pouco de soju e tomou a bebida lentamente.

        Será que eu andava tão distraído 
ao ponto de me esquecer daquela deusa, daquela ninfa das águas, daquela princesa encantada?! Abaixei minha cabeça e lamentei, eu estava trabalhando demais, eu não estava nem aproveitando a vida! 

          — Ah, isso me faz lembrar de uma história que eu ouvi um tempo atrás no porto — Moon Bin falou, pensativo — Não pode ser a mesma pessoa… — ele coçou o queixo.

         — O que? — Myungjun perguntou, curioso — Que história?

         — De um fantasma feminino que vagava pelas águas do mar, encantando os marinheiros com sua beleza estonteante e sua voz angelical — ele abaixou a voz e nos chamou para mais perto — Há relatos de marinheiros que já a viram — Myungjun arregalou os olhos — Dizem que sua beleza não é deste mundo, é uma beleza selvagem e sedutora. Ela vaga pelas águas com suas vestes brancas e leves, feitas com a branca espuma do mar, seus cabelos são longos e encantadores, como um véu negro que se estende pelas águas. Alguns até falaram que já a ouviram suplicar e chorar baixo, sempre proferindo um nome, porém ninguém nunca conseguiu compreendê-lo. Alguns marinheiros, encantados pela doçura da voz, pegam seus barcos e entram nas profundezas dos mares, em busca da fada da água, porém eles nunca mais retornaram — sua expressão ficou sombria — todos os dias a moça faz uma vítima, como modo de satisfazer seu desejo por vingança, e nunca, jamais, ficando satisfeita, então ela continua a afogar os homens, em busca daquele que trouxe a sua morte. Ela envolve os cascos dos barcos com seus fios negros e o afundam.

       Olhei para o Myungjun, que a essa
altura já estava quase embaixo da mesa,  feito quase impossível por conta da altura da mesma, enquanto eu estava quieto, pensando em o quanto aquele relato se assemelhava muito a moça que eu amava. Olhei ao redor e vi que havia uma aglomeração de homens em nossa volta, marinheiros, alfaiates, ferreiros, marceneiros, pescadores, fazendeiros, todos eles atentos ao relato de Moon Bin, aliás parecia que a vila inteira estava ali. Então os comentários começaram:

       — Sim, é verdade — falou um.

       — Sim, o vizinho do primo do amigo do meu avô foi vítima da sereia fantasma!

The beginning of a new eraOnde histórias criam vida. Descubra agora