-- Você está bem, criança? -- Aydan perguntou ao ver Eda colocar sal no leite ao invés de açúcar.
-- Ótima. Por quê? -- Eda perguntou sorrindo fraco para a sogra.
-- Bem, não acho que eu já tenha provado leite salgado na vida. -- Aydan disse apontando para o copo e Eda fechou os olhos caindo em percepção.
-- Sinto muito. Eu vou...
-- Deixa que eu jogo fora esse e preparo outro para você. -- Aydan disse de maneira serena. Eda enrijeceu os músculos ao ver Cenk passar no final do corredor.
-- O-obrigada, Aydan. -- Ela disse. -- Mas acho que eu dispenso o leite. Tenho algo... Que fazer. Obrigada de novo. -- Ela falou se levantando. Aydan acompanhou com os olhos o movimento da garota. Algo não estava bem, qualquer um diria isso.
-- Será que é problemas com Serkan? -- Selin perguntou ao ver o estado caótico que a mente de Eda parecia estar.
-- Já pensou em comer chumbinho? -- Aydan perguntou e Selin riu.
-- O que será que está atormentando ela esses dias? Ela anda estranha. -- Selin falou evidentemente curiosa. Aydan apenas suspirou.
-- Oh, criança. Eda é uma moça maravilhosa, mas sinto que está passando por algum conflito interno.
-- Não precisa ser muito gênio para se perceber. -- Selin disse olhando para os lados e, ao ver que mais ninguém estava, se levantou e começou a ajudar Aydan. -- Provavelmente descobriu que uma unha quebrou. -- Aydan riu e negou com a cabeça.
-- Essa não seria você? -- Ayda comentou em uma risada calma.
-- Acho que sim. Herdei de minha mãe a frescura. -- A menina disse rindo, começando a lavar a louça.
-- Eda ama Serkan, deveria dar a ela uma chance de...
-- Ela nem o conhecia quando se casou. Não se pode amar alguém em tão pouco tempo.
-- Você se surpreenderia com o poder do amor.
-- No máximo uma paixão avassaladora, mas amor? Duvido muito.
-- Então acha que seu amor é mais real do que o dela? -- A mulher perguntou.
-- Já não importa mais, de qualquer jeito. -- Selin falou suspirando. -- E não conte a ninguém que estou...
-- Me ajudando? Oh, criança. Você me ajuda desde nova, por que eu diria agora?
-- Tem razão. -- Selin falou rindo. -- E qual é a do bonitão?
-- Peter?
-- Sim.
-- Parece ser competente.
-- Mais do que papai era? -- Perguntou arqueando uma sobrancelha.
-- Seu pai ainda é competente, só se aposentou. -- Respondeu Aydan.
-- Enfim, não se esqueça de que amanhã teremos comemoração de cem anos da cidade.
-- Como iria me esquecer? Eu quem cozinho. -- Falou rindo.
-- E algo me diz que essa festa vai prometer. -- Disse sorrindo triunfante, lembrando-se a reação de Eda ao ver Cenk passar por ali.
[...]
-- Cenk? -- Eda chamou baixo o rapaz, quem levantou o olhar das planilhas e a encarou. Era final de tarde e ele achou que Eda não iria lhe procurar mais, mas sorriu ao ver que se enganou. -- Posso entrar?
-- Claro. -- Ele disse se levantando. Eda entrou e encostou a porta, respirando fundo até caminhar até o rapaz.
-- Como está?
-- Oh, por Deus, pule essa parte. Não precisa fingir que se importa. Só quero saber o que houve. -- Eda assentiu, cruzando os braços.
-- Primeiro quero que saiba que eu me importo sim. -- Falou. -- E segundo... O que veio fazer aqui se passando por outra pessoa?
-- De que outro modo eu entraria sendo que o idiota da seu marido proibiu minha entrada na cidade? -- Ele perguntou irritado.
-- Bem, antes de ofendê-lo deveria se informar melhor. Serkan já autorizou sua entrada novamente.
-- Depois de casar com minha garota, claro. -- Ele disse irônico.
-- Não sou sua garota. -- Falou prontamente. -- E ele é tão vítima nisso tudo quanto você e eu. -- Eda defendeu.
-- Vítima? Aquele homem...
-- Se tornar a ofender Serkan na minha frente te deixarei falando sozinho. Não vim aqui para te ouvir falar estupidezes de alguém que mal conhece. -- Alertou ela.
-- E você o conhece, por acaso?
-- Sim! -- Respondeu com firmeza. Cenk respirou e assentiu.
-- Tudo bem. Desculpe. -- Pediu contrariado.
-- Bem... -- Eda começou a contar tudo o que havia acontecido. Desde o casamento contrariado, até a farsa de sua mãe.
-- E aí você se apaixonou? -- Ele perguntou com um nó na garganta.
-- Sinto muito. -- Ela sussurrou. Ele negou com a cabeça, desnorteado.
-- Ele te trata... Te trata bem? Porque eu posso lutar pelo seu amor, Eda. Eu posso...
-- Eu acho que você não entendeu. -- Eda começou. -- Eu o amo, Cenk. Com cada fibra do meu ser. Se você o conhecesse entenderia. Ele é benevolente, gentil, puro, maduro... -- Toda a sinceridade habitava as palavras de Eda. -- Não quero que lute por mim, quero ficar com ele. Só quero que seja feliz. -- Ele riu e negou com a cabeça.
-- Ter aquele monte de dinheiro influenciou no seu amor? -- Ele perguntou com rancor no impulso e Eda lhe olhou incrédula.
-- Como se atreve?
-- Ah, qual é, Eda? Ninguém se apaixona tão rápido assim não. -- Falou. -- Amor? Eu duvido. Sua família estava à beira da ruína. Quem me garante que você não está dando para ele só por causa... -- Não terminou sua fala devido ao tapa estalado que recebeu no rosto.
-- Graças aos céus eu acordei a tempo de ver o homem hediondo e sujo que você é, porque se realmente me conhecesse saberia que...
-- Amor? -- Serkan entrou no ambiente, se aproximando dos dois. Eda se assustou, não havia ouvido a porta se abrir. -- Está bem? -- Perguntou ao ver a expressão magoada de Eda.
-- Sim, só estava dizendo ao senhor Leroy que eu realmente odeio números. Não havia me dado conta disso até agora. -- Falou saindo da biblioteca no momento seguinte. Serkan acompanhou confuso a saída de sua esposa.
-- Eu não pude ouvir o que diziam porque eu estava longe... -- Serkan disse com a mandíbula trincada assim que pôs os olhos no outro homem. -- Mas eu vi o tapa. -- Pressionou suas duas mãos sobre a escrivaninha e o olhou fixamente. -- E se eu souber que faltou ao respeito com a minha esposa, Leroy, não será só o emprego que perderá.
-- Está me ameaçando de morte?
-- Oh, não. Eu jamais sujaria as minhas mãos. Eda não merece um monstro como marido. -- Falou. -- Mas para te afundar eu não preciso de muito.
-- Deveria perguntar a ela o motivo do tapa. -- Ele vociferou.
-- Se ela não quiser me dizer, respeitarei o espaço dela. Não pense que esse joguinho de tentar me deixar confuso funcionará. -- Disse respirando fundo e endireitando a postura. -- Eu gosto de você, Peter. Não me decepcione. -- E dizendo suas últimas palavras saiu dali fazendo o barulho de suas botas do uniforme ecoar.
Cenk respirou fundo e deu um soco no ar. Não pensava aquelas coisas de Eda, só disse na hora da raiva, no calor do momento. Sabia que ela seria incapaz de ficar com alguém por dinheiro.
Pensou em Serkan. A verdade é que sentira inveja de ele ser o dono dos pensamentos de Eda. A vida não havia sido justa com ele, mas estava ciente de que havia pisado na bola e de que devia um pedido de desculpas à Eda.
Por um momento sentiu-se aliviado também, Serkan havia defendido Eda sem perder a postura ou o caráter. Ele, após se desculpar com Eda, poderia ir embora sossegado. Seu amor estaria em boas mãos.
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Over the rainbow(Além Do Arco-íris) - Edser
Romance[Concluída] Over the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Eda, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Cenk, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Aysun, deseja que a filha con...