Over the rainbow(Além Do Arco-íris) - Edser

22

-- É sempre assim? Todos com esses sorrisos falsos? -- Eda, quem estava de mãos dadas com Serkan, perguntou. Estavam na festa tradicional de ação de graças, todos ali reunidos como se tudo fosse lindo sempre.

-- E é exatamente por isso que eu odeio festas. -- Serkan murmurou rindo, enquanto começou a acariciar, sem nem perceber, a mão de sua esposa e Eda já havia se acostumado com a pequena carícia. Até gostava se fosse ser sincera.

-- Eu acho que estou ficando com sono. -- Eda sussurrou para seu marido, quem gargalhou ao ouvir tal mentira.

-- Teremos que inventar outra desculpa, Eda. São sete da noite.

-- Não dormi direito a noite. -- Disse fazendo biquinho.

-- Não acreditariam.

-- Se você também estivesse com sono com certeza acreditariam. -- Disse com olhos suplicantes. Serkan negou com a cabeça, rindo ao perceber que se rendia novamente aos caprichos de sua esposa.

-- Tudo bem! -- Concordou finalmente. -- E o que faremos saindo daqui tão cedo?

-- Poderíamos jogar batalha naval em um dos seus cadernos. -- Disse animada. -- Por favor!

-- Sinto muito... mas você vai perder feio para mim.

-- Fale comigo quando eu estiver chorando por eu ter ganhado, tudo bem? -- Eda provocou, vendo o sorriso de seu marido se abrir.  Sem precisar dizer mais nada se aproximaram de Engin.

-- Estamos com sono, vamos subir. -- O ruivo informou.

-- Sono a essa hora? -- Ela perguntou arqueando uma sobrancelha. Os pares de olhos dos que estavam com Engin acompanhavam a conversa.

-- Dormimos pouco a noite. Perdemos o sono, acho que foi o calor. -- Serkan disse e os cochichos começaram, presumiriam que haviam tido uma noite ardente de amor e os deixariam subir em paz. Engin, no entanto, arqueou uma sobrancelha. Sabia que seu amigo não tinha relações com sua esposa, mas apenas assentiu entendendo o plano. Serkan nunca foi fã de festas mesmo, pelo menos agora tinha uma desculpa plausível para sair do ambiente sem parecer desrespeitoso.

-- Aproveitem bem a noite de hoje. -- Disse, colocando mais lenha na fogueira.

-- Só vou no banheiro e já volto, tudo bem? -- Eda se inclinou para falar no ouvido de seu marido e Serkan concordou com a cabeça. Eda mordeu o lábio inferior e corou, fazendo Serkan saber que, pelo protocolo, teriam que encostar os lábios para parecerem um casal. Eda se inclinou e selou seus lábios nos de seu marido rapidamente, sentindo seu estômago querer se revolver novamente. Isso acontecia cada vez que suas bocas se encontravam e ela não entendia o porquê.

Assim que se afastou, lhe lançou um doce sorriso e saiu correndo até o banheiro. Estava realmente muito apertada e não sabia como havia aguentado tanto tempo segurando. Entrou às pressas no WC, se praguejando por usar aquele monte de roupa por baixo. Quando finalmente fez suas necessidades saiu do banheiro e foi lavar suas mãos. Seu reflexo no espelho enquanto ela sentia a água fria tocar-lhe a pele a dizia que ela não estava tão infeliz.

Não tinha Cenk, era verdade, mas Serkan era um bom amigo para ela e jamais a desrespeitava. Incluso, quando ficava muito tempo longe de seu marido, se sentia estranha. Não sabia dizer se era saudade, mas com certeza vibrava sempre que Serkan voltava de mais um dia de serviço.

Gostava da companhia de Piril, mas Serkan era mais divertido, sem contar que ria de tudo que ela falava, fazia de tudo para agradá-la e quando Eda não tinha sono lhe fazia cafuné. A carícia delicada enquanto suas mãos estavam entrelaçadas também eram do agrado da mais nova e o perfume de Serkan era bom em um nível extremamente elevado. No final das contas não havia sido tão ruim casar-se com ele. Não entendia como seu marido poderia ter vinte e dois anos e não ter se casado antes. Era perfeito, sem defeito algum. Suspirou animada ao lembrar que tinha um jogo de batalha naval para ganhar de Serkan e saiu rapidamente do banheiro.

Sua pressão quase caiu quando viu, próxima ao banheiro, em um canto mais afastado ao lado de um lindo vaso de flores, a esposa de Cenk com as mãos entrelaçadas com as de outro homem. O rosto da mulher lhe trouxe a tona toda a dor que havia sentido pouco tempo atrás ao ter seu mundo virado de pernas para o ar.

"Você não tem nada a ver com isso. Ele a traía, isso é uma vingança mais do que justa." Dizia para si mesma, mas quando o homem se inclinou e tomou seus lábios, a raiva tomou conta dela. Não era justo! Ela tinha o homem que Eda um dia fora apaixonada para si e o traía assim, sem mais.

Se aproximou deles e a olhou furiosamente. Ao se desvencilhar do beijo a mulher pareceu reconhecer Eda, pois ficou visivelmente desconfortável com sua aproximação.

-- Seu marido está ciente de seus encontros extraconjugais? -- Eda perguntou irritada ao parar em frente à ambos.

-- Como assim "extraconjugais"? Está me traindo, Lindsay? -- Perguntou irritado. Eda olhou apenada para o homem. Provavelmente era uma vítima do casal igual ela também fora um dia.

-- Não sei do que essa mulher está falando. -- Ela falou atordoada.

-- Não se faça de sonsa. -- Eda disse trincando a mandíbula. -- Onde está seu marido? E desde quando mente que se chama Lindsay? -- Seus olhos carregavam fúria e seu corpo tremia.

-- Como assim "quem é o marido dela?"? Sou eu, oras. -- Ele disse franzindo o cenho. Eda olhou visivelmente confusa e a mulher soltou um suspiro derrotada.

-- Olha, colega. Eu sinto muito. -- Lindsay pediu lhe olhando com lástima. -- Eu só cumpria ordens e me pediram para fingir ser esposa dele. Eu nem conheço aquele homem. -- Eda sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e seu lábio inferior começar a tremer. Seu coração sentiu como se fosse quase impossível bombear sangue corretamente para seu cérebro, porque estava difícil pensar algo naquele momento.

-- Q-quem? -- Foi a única coisa que conseguiu perguntar, engolindo o nó em sua garganta. A mulher, entendendo que agora Eda era a esposa da maior autoridade da cidade, não hesitou em revelar.

-- Sua mãe. -- Foi o suficiente para a garota empalidecer e sentir mãos tocarem seu quadril.

-- Eda, está tudo bem? -- E se não fosse Serkan, Eda teria ido de encontro ao chão.