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-- Acho que já cumprimentei a todos. -- Serkan falou mantendo um falso sorriso no rosto.

Os trajes por debaixo de sua roupa lhe estava incomodando, já que tudo o que o homem queria fazer era simplesmente ir para sua casa, para seu quarto, --- mais especificamente sua cama --- arrancar todas as suas roupas e se jogar ali. O sono o consumia por estar há dias sem ter uma noite de sono tranquila, já que os problemas não lhe davam sossego e, mesmo na penumbra da noite, seus pensamentos não o deixavam esquecer das questões a se resolver a respeito da cidade.

Seu terno cor azul marinho com abotoaduras douradas, apesar de lindo, era bastante pesado, ajudando o homem a se lembrar constantemente do quão exausto estava. As mangas de sua vestimenta eram brancas. Engin havia insistido para que ele levasse sua espada em sua cintura para se exibir e seu chapéu negro, porém Serkan alegou que apenas os egocêntricos e desesperados por achar alguém é que faziam isso. Sem contar que isso atrairia uma leva considerável de mulheres e naquele momento era tudo o que Serkan menos queria. Queria apenas poder ir se deitar logo para descansar.

Seus cabelos apenas foram arrumados e ele se via bem satisfeito com isso.

-- Não está pensando em já ir embora, está? -- Engin perguntou ao seu amigo, quem bufou e encarou todas aquelas pessoas. Era uma festa comunitária, por isso todos, incluindo a classe baixa das redondezas, haviam sido convidados. Comemoravam a última vitória da cidade contra as tropas inimigas. Os vilarejos, apesar de não estarem protegidos pelas enormes fortalezas e paredes da cidade, também eram beneficiados, porque se as tropas inimigas alcançassem adentrar a cidade, consequentemente invadiriam e queimariam as casas dos povoados aos redores do lugar.

-- Não. Só vou dar uma volta às margens do rio que cerca a fortaleza, tudo bem? -- Perguntou e Engin assentiu, achando válida a ideia de pelo menos Serkan não ir embora. Assim que Serkan virou as costas os olhos de Engin encontraram os olhos cansados e aflitos de quem ele menos esperava ali. Ajeitou o terno discretamente e caminhou até o homem, adotando a expressão fria e séria.

-- Como se atreve a aparecer por aqui? -- Perguntou de forma arrogante, porém seu coração se destroçou ao ver a expressão de medo nos olhos do senhor de meia idade.

-- Eu... -- Ele tentou, mas nada saiu. Retirou seu chapéu de sua cabeça em forma de respeito à Engin e o segurou com ambas as mãos em frente ao seu peito. Engin suspirou e negou com a cabeça, sabendo que o único motivo de haver sido ríspido com o homem foi pelo fato de sua mulher ser uma arrogante, bruxa velha.

-- Sua esposa também veio? -- Ele apenas assentiu, abaixando seu olhar para seus pés.

-- Eu não tenho como pagar vocês, meu negócio faliu. -- Confessou em tom baixo. -- Estou trabalhando com plantação para outras pessoas, mas o pouco que ganho só dá para sustentar minha esposa e filha.

-- Olha, você não precisava ter fugido de nós, não somos más pessoas, tudo bem? Serkan vai entender a sua situação se conversar com ele. Eu... -- Sua voz foi interrompida ao reparar a esposa do homem se aproximar.

-- Fiz ele vir porque achei uma solução para a nossa dívida. -- Ela disse em tom esnobe. Usava roupas finas e quem olhava para ela não poderia imaginar que estava à beira da ruína.

-- Que seria...? -- Engin perguntou, voltando a estar na defensiva.

-- Aysun, não! -- O homem disse a olhando sério.

-- Todos sabemos que não é nada fácil encontrar uma esposa para seu querido chefe devido à situação dele. -- Ela disse encarando Engin.

-- O que está insinuando? -- Engin perguntou fechando suas mãos em punhos.

-- Oh, querido, não estou insinuando nada. Todos sabemos que Serkan é um bastardo, que ele foi fruto de algo fora do casamento. -- Ela disse sorrindo pretensiosamente. -- E está mais do que na hora de ele se casar. -- Falou abanando levemente seu leque antes de dar continuidade. -- Vou direto ao ponto.

-- Pense bem no que vai dizer, porque para fazer a senhora ser expulsa daqui não me levaria nem trinta segundos. -- Engin falou e a mulher soltou uma risada tão gélida que arrepiou o corpo inteiro dp rapaz.

-- Estamos do mesmo lado aqui, criança. -- Ela disse. -- Bem, como eu dizia, temos uma dívida com vocês; Serkan precisa se casar; temos uma bela filha. -- Seu marido a olhou perplexo. -- Acho que não dá para ser mais clara do que isso.

-- Está insinuando que quer vender sua filha em troca de uma dívida? -- Engin perguntou mais para si do que para a mulher.

-- Todos fazemos isso, a diferença é que Serkan é um bastardo, não filho de um casamento, como de costume, mas sou bem prática, se não for para ele seria para outro qualquer mesmo. Antes sendo para o herdeiro de todo o poder, hm?

-- Eu... Eu... -- Engin achava um absurdo tal ideia, mas não poderia negar tal proposta sem antes falar com "Sua Alteza Ilustríssima", como costumava chamá-lo em meio às suas brincadeiras. -- Falarei com ele e amanhã cedo passaremos pelo povoado para dar-lhes a tão esperada resposta. -- Informou. -- Nos vemos. -- Disse antes de se virar e sair dali a procura de Serkan. No fundo ele sentiu pena pelo senhor, pois viu em seus olhos o desejo nítido de negar tal proposta, mas havia ficado claro, diante da última conversa, quem mandava na relação.

[...]

-- Por onde esteve? -- A voz de Aysun assustou Eda, quem engoliu em seco ante sua falta de criatividade para inventar alguma desculpa plausível.

-- Eu estava... é...

-- Estava com aquele plebeuzinho outra vez, não é? -- Perguntou irritada. -- De pobre já basta nós. Quando vai entender que seu pai faliu e que você precisa ajudar a família? -- Eda abaixou seu olhar sem dizer nada. -- Já falei que você precisa arrumar um marido rico, então trate de esquecer aquele verme.

-- Nunca. -- Eda não se conteve ao responder com irritação. Aysun suspirou, negando com a cabeça.

-- Filha, esse homem não é para você. Você merece coisa melhor. -- Disse mudando a tática de seu jogo. -- Quero que entenda que seu pai e eu é quem sempre torcemos para a sua felicidade. -- Disse, fingindo estar emocionada. -- Eu queria que você enxergasse que Cenk não é um bom homem, mas como sei que está cega por essa paixonite sem fundamentos... -- Suspirou tentando não sair de seu papel. -- Posso provar que ele não é quem diz ser.

-- O que vai inventar, mamãe? -- Perguntou aborrecida.

-- Não é invenção, querida. Sou apenas eu tentando abrir seus olhos. Ele é... -- Ela hesitou, mas logo disse. -- Cenk é casado. -- O chão de Eda pareceu desabar sobre seus pés.

-- Por que está... -- Sua voz vacilou ligeiramente. -- Por que está me dizendo isso?

-- Porque quero o seu bem e como sei que não acredita em mim faço questão de te apresentar alguém especial. Me siga. -- E com isso, sua mãe segurou sua mão e guiou uma Eda desnorteada pelo meio das pessoas.

Ela não queria acreditar, ela não podia acreditar que Cenk, seu Cenk, seu lindo e fiel namorado, havia lhe enganado todo esse tempo, mas sua mãe jamais mentiria algo de tamanha magnitude. Suspirou, temendo tudo que aconteceria nos próximos minutos. Só pediu internamente para que tudo isso não passasse de uma pegadinha de mau gosto. Precisava ser.

Over the rainbow(Além Do Arco-íris) - EdserOnde histórias criam vida. Descubra agora